segunda-feira, março 23, 2009

Autobiografia 10.

Uma coisa que está me deixando triste é que a autobiografia não está saindo nada como possível ou previsto, porque as outras pessoas me deixam na mão... É quase como se fosse necessário que eu tomasse as rédeas e escrevesse minha própria autobiografia, ao invés de sentar e esperar as coisas se saindo. Se saindo.

Um teste de elenco é irritantemente sem noção, irritantemente difícil para o ator, irritantemente impossível de se levar, me sinto mal. Tratar com atores é irritante, porque é necessário se impor como pessoa sobre pessoa.

sexta-feira, março 20, 2009

quinta-feira, março 19, 2009

Autobiografia 8.

Houve uma vez na minha vida uma pessoa que... certamente não foi um acontecimento, mas algo mais como um evento ou uma passagem, se preferirem. A gente se conheceu como qualquer criança pode se conhecer nesses dias descuidados de hoje, conversamos, ficamos amigos. Ou até mais que isso, eu acho – ou achava, hoje eu certamente não diria isso, mas ça va. Tinha alguma coisa de bonito (pueril, certamente) naquela cumplicidade afetiva sem toques ou mesmo vistas que a gente tinha. Éramos, na nossa cabeça, namorados. Mas ela ficava longe, isso costuma ser um problema, mesmo que algum possa pensar que não e passar a vida provando - mas é e pronto. A distância, a telegamia como eu chamo, ela tem a capacidade de crescer exponencialmente e então... Eu não sei bem se por isso, ou se por um segundo que me fez pensar naquilo tudo e no ridículo daquilo tudo e, bem, acabamos, por assim dizer. Porque eu fiquei mais longe que simplesmente longe, longe dela mais do que da cidade dela, e alguém podia dizer que continuamos amigos, acho que não é mentir. Não que seja mais fácil, mas pelo menos (super)funciona. É só que andou chovendo bastante e, não sei porque, sempre que chove eu fico pensando se podia ser diferente e vejo que não.

domingo, março 15, 2009

Autobiografia 7.

A primeira menina que eu gostei foram muitas, ao que me parece (ou minha memória faz crer); gostava delas com os olhos, mas demorou para achar alguma que também servisse à minha cabeça ou à minha boca ou, até, aos meus dedos.

Me lembro claramente das Pessoas falando que eu gostava de Débora, mas era mentira delas, nunca havia me passado pela cabeça algo sequer próximo disso. Também, quando me interessei verdadeiramente por alguém mais objetivamente, nunca suspeitaram de mim e nem era um gostar fofo como alguém pode imaginar. Era só que ela era bonita e não era uma pessoa terrível.

Havia muitas pessoas que me davam certo nojo naquela escola. Foi lá que aprendi a ser arrogante, foi lá que aprendi algo de ironia e de sarcasmo, foi lá que aprendi a vingança velada. Também aprendi a desprezar professores.

Havia amigos, certamente, já que, aparentemente, o excesso de dinheiro faz menos mal aos homens que às mulheres. Hoje, ainda que possua grande estima por alguns (ou algum) deles, sinto muita dificuldade de me relacionar com eles: não há vocabulário comum, não há objetivos comuns, a federal acabou terminando de me transformar ainda em outra coisa.

sábado, março 14, 2009

Autobiografia 6.

Por que Cinema e não Literatura?

Satisfação do olhar, um realismo pessoal descoberto nos atores. Isto é, a noção de metaverdade ainda mais pura.

(por que uma autobiografia e não uma autocrítica? que diferença pode haver entre uma confissão sobre mim e uma confissão sobre o que faço ou quero dizer?)

Reitero: o que tenho buscado na Literatura já há algum tempo é uma reapreensão da realidade, existente ou não, e, por isso mesmo, a criação de algo totalmente único, pessoal e verdadeiro. A noção de mentira invertida para si mesma, isto é, um contar que é, por excelência, falso, mas que se torna verdadeiro em sua leitura. A necessidade de uma certa (vero)semelhança construída com a realidade se mostra no clímax deslocado, na subjetivação da narrativa, no fantástico banalizado.

Por que Cinema?

Quando pensei em entrar em Audiovisual, minha noção de Cinema era que era uma arte do paresser, da mentira construída ainda mais forte, pois fundada numa representação do real.

(por que cinema?)

A desconfiança no discurso das palavras aplicada também à imagem, também ao som (por que o som?), também às pessoas todas que estão lá à frente da câmera, atrás. Mais um vocabulário, mais uma falsa sintaxe, mas discórdia e teorias. Uma arte essencialmente moderna, contemporânea à prosa e poesia moderna e, ainda assim, tão distante.

(por que cinema? o que fazer pelo cinema?)

Enfim, uma espécie de amor.

(fauxe bequener)

quinta-feira, março 12, 2009

Autobiografia 5.

Me declaro um voyeur por excelência, id est, o olhar tem importância grande (demais) para mim. Vontades mil focalizadas em um glimpse et, voalá, mais uma pessoa capturada pelo meu olho-estável.

Além disso, é notável minha capacidade digressiva ou, apenas, não-direta-ao-ponto, porque muitas vezes o ponto é indizível ou inexistente, e então me sinto navegando por assuntos que não interessam, ou que são um pouco menos. Também sinto dificuldade em falar com pessoas sem nenhum tipo de afinidade gostística comigo, talvez com todos seja assim.

Eu costumo maltratar pessoas que eu tenho impressão que não pensam suficiente sobre si ou sobre o mundo ou sobre qualquer coisa. Às vezes é puro sadismo, noutras, quero tentar contaminar a pessoa com esse sentimento ruim que eu tenho aqui, que se chama dúvida.

Hiperbólico.

Agora, ligo pra Camila.

quarta-feira, março 11, 2009

Autobiografia 4.

ESCREVO ISTO na aula de documentário. Olá, metalinguagem! Olá, diário! Ufa, acabei de ir fazer xixi, 3 das 4 cabines estavam "ocupadas" e havia um cheirinho de cocô bonito e um barulho de jornal. Agora (ou seja, em algum ponto do passado) estou entre, sentado, Renata e Henrique. A primeira me é uma incógnita, o segundo sleeps soundly, eu escrevo e pronto.

Discutimos o método de escolha de seminário, algo arbitrário e similar a um jogo de regras pouco expostas ou um pouco confuso ou tudo isso. Que besteira, vamos ao filme de hoje, sobre armênios massacrados _ "NÓS", exatamente como foi feito-chamado o romance distópico inaugural. CLOSES X PLANOS GERAIS _ Pelechian.

segunda-feira, março 09, 2009

Autobiografia 3.

Um pouco entediado tentando achar o que escrever hoje... Tantos momentos importantes... Por exemplo: Assisti a WindowWaterBabyMoving com a música tell me e nobody das wonder girls... no fundo... e falta pouco pro dia acabar... Mas agora... Amanhã já é outro dia... Amanhã....

domingo, março 08, 2009

Autobiografia 2.

RICARDO:
No fim das contas, você nem me deu um pedaço do pão com Nutella.
LILA:
Eu dei sim!!
RICARDO:
Não deu.
LILA:
Um pedaço de pão...
RICARDO:
Não...
LILA:
Uma bisnaguinha!
RICARDO:
Você não me deu uma bisnaguinha!
LILA:
Eu te dei uma mordida! E do meio, ainda.
RICARDO:
Não-deu-não!
LILA:
Caramba, eu não tô brincando! Eu dei sim, pode ir ver lá no pote de Nutella!
RICARDO:
Você pode até ter comido, mas você não me deu!
LILA:
Eu dei, sim!!
RICARDO:
Você acha que eu não ia lembrar?
LILA:
Eu te dei Nutella, caramba, para de brincar!
RICARDO:
Ué, por que você tá brava?
LILA:
Eu te dei e você fica falando que não...
RICARDO:
Pra mim, você não deu.

sábado, março 07, 2009

Autobiografia 1.

Então estou no ponto de ônibus e leio um livro do Aumont e leio um livro do Aumont — mais precisamente, releio uma frase para tentar entendê-la — retê-la —, quando uma mulher vestida como se vai à Paulista se desculpou por interromper minha leitura e me ofereceu um folheto colorido com algumas figuras e blocos de texto grandes e brancos. Havia uma tartaruga e um jaguar, o fundo era laranja e ela disse algo como que era para eu o ler depois, disse sobre sua empresa ou não sei bem, e eu compreendi que o que ela queria mesmo era me ensinar a ler, quem sabe, 200 páginas por segundo.

Eu disse não, obrigado, obviamente fui ríspido, ela me perguntou se eu gostava de ler, eu disse eu gosto, mas acho que ela entendeu não gosto, ao que ela me disse que tinha achado que eu gostava, mas as aparências..., então eu disse E U G O S T O, só que ela já se distanciava e voltava ao homem que a acompanhava.

Moral da história: não se ensina a um homem apaixonado por sexo a gozar mais rápido.

quarta-feira, março 04, 2009

Knowing Hochhäusler 2/2.

1.
O cinema é uma máquina de criar realidades, no sentido que o real é determinado pelas histórias, que o relato cria realidade. Assim, metonimicamente, o cinema é realidade - ou, se formos mais ambiciosos, a realidade é cinema.

2.
O roteiro critica a realidade.
A filmagem critica o roteiro.
A edição critica a filmagem.
Ou seja: o próprio processo de produção de um filme deve ser dialético, ou, se aproximando dos conceitos de Eisenstein, deve ser uma montagem de atrações.

3.
Um filme deve ser suficientemente aberto para necessitar do máximo de trabalho por parte de seus espectadores, ou seja, os espectadores devem ser ativos, ou seja, o filme é construído na cabeça das pessoas e nunca independe delas. No entanto, um filme aberto demais (não) permite qualquer leitura e, portanto, não diz nada. Gandhi nunca afirmou isso, mas seria engraçado se o fizesse.

domingo, março 01, 2009