sexta-feira, abril 10, 2009

Bum-bum-bum ele tinha a doença menos contagiosa que existe.

Grande erro da evolução, seu vírus não passava por ar, terra, órgãos, beijo na boca, filhos alienígenas ou qualquer quantidade de distância entre pessoas e animais e enfim; não havia medicina pois é estatística e não existe estatística de uma só pessoa, então o que havia eram especulações em cima de especulações, algo como "deve ser coisa da alma e não do corpo" ou "é o castigo divino", não sei, não conheço muito bem essa história - ou então eu não me lembro, porque também tenho cá minha doença degenerativa, íntima, destruindo meus neurônios e tudo de interessante, essa que é chamada vida e é altamente transmissível por ar, terra, órgãos, beijo na boca e filhos alienígenas.

A doença dele, no entanto, não é tão indiferente da minha: ele era imortal, e isso fazia dele a pessoa mais famosa do mundo, porque algum dia a imprensa o descobriu e fez uma matéria com fotos e registros dele desde quando se tem registro e começaram a tentar prendê-lo numa prisão (os fatos não se sucederam bem assim, mas é como se fosse) e ele foi obrigado a matar muito para fugir, a destruir a parede e tudo com seu corpo imortal, com sua paciência imortal, com seu corpo sempre jovem - dizem que as células dele se multiplicavam apenas diante de danos, que elas não tinham gerações, que pareciam todas vindas de uma mesma célula original e todas igualmente novas, apesar dele aparentar uns bons 13 anos etc chega de cientificismo.

Ele foi preso porque queriam saber tudo o que queriam saber e ele não dava culhões para aquilo tudo (e se lembrava muito mal, também) e porque ele sentia que o papel dele não era esse. Ele não tinha a menor ideia de seu papel, isto é, e não havia tentado se matar ainda porque tinha plena consciência de que isso seria impossível e idiota. Já haviam tentado convencê-lo de que era deus ou diabo, já haviam feito de tudo para ele, enquanto que ele só queria... O quê?

domingo, abril 05, 2009

MENTIROSO É QUEM MORRE (um pouco de literatura, então).

Era óbvio que aconteceria, afinal de contas era o espaço dele e não o meu, aquele corredor todo dia recebia seus pés e os meus — ao menos eu tentava — sempre o evitavam. Esqueci, não me preparei... dei de cara.
Ao que me consta, era ele que dizia que nada havia acontecido entre nós, o que são um ano e meio? (o que é um ano e meio.), como ele poderia ter me traído se nós nunca Nem me conhecia direito, eu só fui um caso (eu fui o caso) e agora, há quanto tempo, não é mesmo (não é mesmo)?
Ele olhou pra mim, não é?, e havia nada em seus olhos, porque, acho que ele se assustou um pouco, mas eu, não estava preparada, eu achava que não seria nada, porque, afinal de contas, aquele corredor todo dia, e ele dizia que não, antes, e há tanto tempo sem nada, afinal, ao que me consta, ele que me evitava — ao menos eu tentava — era óbvio que aconteceria, seus pés e os meus, eu não fiz nada, eu apenas, eu achava, não seria nada pra mim, porque não havia mais raiva, amor, paixão, ódio, saudade, beijos, e nada.
Matar, matar, matar... ou uma taça de sorvete (se ao menos eu pudesse).

sábado, abril 04, 2009

Autobiografia 11.

Acordei bem, apesar de tudo.
O dia está bonito, à revelia.
Eu penso que existo.