domingo, fevereiro 01, 2009

Ares da graça: artista.

E, neste momento, tudo que eu posso fazer é xingar interiormente o meu agente por ter me feito aceitar uma coisa dessas, estar de pé ao lado do Faustão enquanto um telão me mostra meus pais sorrindo - hipócritas - e dizendo - hipócritas - o quanto admiram meu trabalho e o quanto me deram apoio. Sorrio e balanço a cabeça, Claro que sim, não é? O mais importante para um homem são os pais, acho que só sou o que sou hoje por causa deles, Brigado, pais! Quem-sabe faz ao vivo, acho, e o Faustão felizmente me salva da minha fala e fala por cima de mim, apresenta mais meia-dúzia de gente que eu tinha esquecido totalmente (é mentira minha) e que realmente me emociona (que coisa, é ruim emocionar-se com a apelação), e não tem nada a ver com o conteúdo de tudo aquilo, que é pura burguesia idiota e "Olha como eu venci na vida!", mas sim porque há tanta coisa por trás daquele olhar direto para a câmera e o sorriso levemente abestalhado desse pessoal que nunca foi filmado antes e que deve parecer bonito e simpático para o público e que responde às perguntas mágicas do entrevistador com o máximo de precisão e em três tomadas. Isto é: Pedro Rocha conta sobre as nossas brigas de infância, mas o que interessa (e que ele nunca vai dizer em público) é que ele roubou todas as minhas namoradas até os 19 anos e que nossa amizade sempre foi fundada puramente no ódio (embora este fosse certamente da melhor qualidade); já beijei Agnaldo na boca, também todas as outras experiências heterodoxas de mi vida foram com ele, e isso inclui também a única vez que matei um mamífero de propósito, enfim, que sea; Maria Maria diz tudo de bom e certo sobre mim, mas o que ela fez a vida inteira foi me esnobar e me chutar, até o dia em que tudo isso de artista da Globo começou e nossa amizade se transformou em algo, e, enquanto ela fala, só consigo prestar atenção na boca que finalmente me.

E então aparece a imagem de Sofia e e e e e e eu não sei bem e e e ela diz que me ama muito e e e e e e e e ela conta da nossa lua-de-mel em Parati e e eu olho de esguelha para Faustão e e e e não há onde me esconder e e e e e as dançarinas me flanqueiam a volta e e e e e e o público (o pequeno, não o de todas as tevês ociosas de domingo. Aliás! Inclua esse público também na minha informação e estará tudo nas devidas dimensões) me encara e e e e ela me manda um beijo e eu a encaro os olhos no telão e e e e ela sorri vagamente e e eu olho de esguelha para Faustão e ele olha para mim e e e eu abro a boca e e ele pergunta alguma coisa que eu não sei entender e e e e e e e e e e e eu acho que meu ar não e e e ele olha-me fundo-duro e e eu Mas... e e e e e e ele parece efetivamente preocupado e e a produção parece que e e e e e Ela... Como que vocês? e e e e e e e aparecem pessoas a minha volta e me agarram os cotovelos e e o público provavelmente se deleita com o espetáculo e e e e e e e as lágrimas e e Eu... Vocês... e e e o Faustão chama os comerciais e e e e e e e e e eu De onde vocês tiraram Sofia? e e e e ninguém parece me entender e se bem que eu também não os entendo e e e e e o Faustão pergunta se está tudo bem e e e e e e eu digo Ela está morta.