segunda-feira, dezembro 29, 2008

parte: um leão morde a própria orelha num show de mágica

Marcos a olhava nos olhos e sorria, ela, idem; mãos dadas os dois num pequeno banco de praça de um parque vazio na manhã mais fria do ano de 2008. Já eram um ou dois meses? Foram bons e verdadeiros, cada vez os abraços mais fortes e mais inteiros e entreguistas (cada vez mais nus), ele também a tocava, agora, os jogos eram mútuos e seguros e sempre em frente, ‘Eu te amo, Marcos’. Marcos abriu a boca e desviou os olhos.

parte: um pequeno leão encontra seu verdadeiro dono

Ele estava com a garota a primeira vez, no abraço ele já percebera alguma coisa nela e em suas intenções, sentira como ela o tocava de corpo inteiro, como era um abraço completo e quase já entreguista logo no primeiro encontro, no primeiro beijo no rosto e quando o apresentaram como Marcos à garota loira e ela sorrira e dissera que era mentira, que o nome dele era Leãozinho, por causa dos olhos dele que a olhavam nos olhos, mas de esguelha, de soslaio, de indireto; riram todos, e ele sentira o orgulho fervilhando diferentemente. Não era de Leão, mas e daí?

parte: um leão é sempre um rei

Marcos a segurava pelos cabelos quando fazia por trás, sussurrava alguma coisa quando estava quase lá; alguma coisa era sempre ‘eu te amo’. Nunca nos olhos dela, nunca.

parte: sozinho

Marcos tomava um milkshake e pensava como havia gente bonita no mundo, apesar de tudo.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Retirada.

Sei que é perda de tempo, mas ganho tempo – ao mesmo tempo – falando, por que não?, sobre o tempo. Você me quer entre suas pernas; pena, não desejo nada seu, minhas tropas recuam cuidadosamente enquanto menciono o calor absurdo – este Sol ainda me fará matar alguém, juro! – e tento ignorar seus olhos de vanguarda. Fuzis apontados entre minhas sobrancelhas, e eu, sobranceiro, discorrendo sobre nuvens pesadas e assustadoras.
Já alcancei a primeira trincheira, nos escondemos atrás de sacos de areia com as metralhadoras à mão, agora tenho confiança suficiente para fitar-lhe o rosto como um amigo, apenas um amigo, amigavelmente cedo-lhe o tempo de falar. Seus soldados estão estacionados, você apenas concorda com tudo que eu disse – o aquecimento global é um horror, e assim vai –, então também se cala.
Minha fuga alcança os navios, todo o meu exército em retirada nas docas: voltaremos para nosso país; derrotados, mas livres. Está tão quente, você diz, que nós, seus aviões decolam, poderíamos, vejo-os claramente no horizonte, tomar um banho, eles vêm ao meu cais, juntos, as bombas em queda-livre, meu amor, a morte.

domingo, dezembro 21, 2008

A república dos cabaços!

Dia 20 de dezembro de 2008 me senti de-repente muito sozinho nesse mundo das artes-internéticas; não que não haja gente por cujo trabalho me interesso, só que era cada um no seu canto e as distâncias aqui são virtualmente infinitas.

Surgiu-me uma epifania e aí percebi que eu tinha a resposta. Ou podia ter, era só colocar a mão na massa.

Pois bem, dia 21 de dezembro (a madrugada pós-20 de dezembro), fiz algo por mim e pelo mundo. É um pequeno ato, mas talvez seja grandioso:

Um blogue que alcança todas as artes e que é um contingente infinito:

A república dos cabaços!

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Glicemia (baixo).

tonto,
tonto,
tão tonto;

tô tão tonto,
tantão,
tô tão
tonto!

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Lara vista por um homem que gosta de mulheres e que as "segue" com o olhar (uma espécie de relação metonímica com o olho móvel; ainda mais uma).

E então, conforme eu descia as escadas para o metrô, percebi do outro lado (nas outras escadas, nas rolantes) uma mulher apoiada no paramão com o cotovelo esquerdo, a mão no queixo, o olhar levemente perdido (como quem anda de trem e vê o mundo passar) e azul. Caía bem com os cabelos pretos e curtos (não é todo azul que cai bem com preto, sem preconceitos, é claro), e seu rosto era lindo em sua branquitude e junto com a camisa xadrez de tons escuros e quentes: mais uma pessoa da Paulista, mas tão hipnotizante que deve receber esses olhares sempre, não sei; me percebeu a mirá-la, me olhou firme e eu me desviei para a pessoa feia (sua nuca era ordinária) que descia as escadas à minha frente, me desviei para meu mal-estar, para a dúvida sobre seu olhar e para um pouco de pé no chão. Mas ela ainda estava subindo, eu ainda estava descendo, ela ainda estava me olhando daquele jeito que eu posso fingir que era indagador ou que era solitário, provavelmente só era um olhar, enquanto o meu... estava de volta nela (só que ela de costas), e ela carregava uma mochila-bolsa preta e parecia mesmo angustiada quando vista por trás.

Um homem nunca pode olhar demais para trás, e então estava no metrô.

terça-feira, dezembro 16, 2008

e, ainda assim, vocês olham pra cima.

o céu estava nuvens rápidas lua branca e luminosa o céu estava difuso refletido no chão sem história para nuvens rápidas lua branca e cheia o céu estava refletido no chão sem sombras para contar sem céu sem vermelho nuvens rápidas lua branca isqueiro refletido no chão lua branca e azul na grama sem história e sombras sem céus nem vermelho nem história para o céu estava sem nuvens muito rápidas passaram noite clara e luminosa cheia o céu estava refletido duro no chão com sombras para contar sem céu sem vermelho as nuvens rápidas isqueiro refletido no chão a luz estava pouca tão bonita refletida no chão

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Das responsabilidades de um Homem Maduro.

O H O M E M D I S S E A
M E N I N A C H U P A O
P I N T O U P E R D E A
VIDA.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

autos e baixos (conjunto involuntário surrealista).

você e eu e todos nós estávamos a favor de stálin, o do
[time azul
você derrubou a macarronada e sujou minha cozinha
a bola sempre cai e faz a maior sujeira na
[cesta.
a máscara sempre cai e faz a maiorsujeira na cara
quer ir a uma mostra de cinema africano?