sexta-feira, novembro 28, 2008

Hedonismo (é uma palavratabu).

E daí se eu tiro fotos minhas nua e coloco na Internet com minha carinha aparecendo e qualquer coisa escrita no meu corpo pra saberem que eu sou eu mesma?
tá cheio de homem por aí que finge que é menina e engana alguns outros homens e às vezes até alguma menina se passando por homem, hoje em dia nunca se sabe
Eu nunca me passaria por homem.
E daí se talvez algum dia me descubram e eu perca meu emprego (ainda não tenho emprego
não preciso ter emprego nenhum, sou inútil
Me protejo sob a 'adolescência'?
) e a 'humilhação pública'? Eu me orgulho de meu corpo, eu sei que sou mais bonita que todas elas juntas e que homens irão se masturbar comigo e que eu deixo as pessoas simplesmente malucas.
Cultuam-me.
Acho que o mundo inteiro é hipócrita.
e daí que fortaleço o machismo desse bando de gente sem a menor auto-estima, e daí que a punheta é a única coisa na vida deles
E você não vê problema na moça na Playboy, vê? A diferença é que eu não ganho dinheiro com isso.
eu sou cultuada
Me respeite.
Não é? Não estou fazendo algo de bom? O exibicionismo não é tudo que há hoje em dia?
quando me encosto na janela sem roupa acaba a sensação de vazio e aí percebo que é também comunicação
Eu sou menor que você?

domingo, novembro 23, 2008

Spring

Era uma bela vista. Sempre quisera parar por ali, sentar e admirar a paisagem. Nunca, porém, tivera a oportunidade - nunca até aquele dia. "Esqueceu-se" de todos os compromissos, ignorou os toques de sua entediante companheira e correu para o mirante, a fim de satisfazer sua tão reprimida vontade. Debruçou-se no parapeito e pôs-se a contemplar a angulosa paisagem, suas irritações sumindo por trás do horizonte junto do sol. Num pulo, sentou-se onde antes seus braços estavam apoiados; o livre - balançar de suas pernas, assim como os olhos fechados, muito contribuía no sucesso de sua pequena escapada. Estava, finalmente, relaxado.

"Vamos, coragem."

Abriu os olhos e voltou-se para trás: um senhor examinava-o, interessado. Mantinha-se longe, mas aproximava-se, lenta e senoidicamente. Sem entender a intenção daquela pessoa (e sem querer entendê-la), o rapaz cerrou os olhos novamente e voltou a esquecer-se no pôr-do-sol; custara muito a conseguir aquela fuga para deixar-se perturbar tão facilmente.

"Você consegue."

Olhou para trás novamente: o senhor parara. Perto dele, porém, começavam a juntar-se algumas pessoas. O senhor demonstrava grande interesse pelo rapaz; as pessoas, naturalmente curiosas, assistiam à cena.

"Vai lá!"

As pessoas assistiam a cena. O interesse espalhara-se; todos queriam estimular o rapaz – a quê, ele não sabia. Perplexo com toda aquela situação, voltou a olhar a paisagem. Mas era impossível ignorar o que acontecia atrás dele. A multidão crescia e aproximava-se; mais e mais pessoas encorajavam-no a fazer aquilo que esperavam que ele fizesse.

"Não me decepcione!"

Decepcionar? Em quê‽ O que querem que eu faça? Isso começava a assustá-lo. O rapaz girou o corpo, a fim de descer do parapeito. As pessoas, já bem próximas, mostraram um quê de irritação.

"Não vamos deixar que você desista!"

Estavam interessadas demais no rapaz, no que ele faria ou deixaria de fazer. O que significava aquilo, afinal? Aprende-se desde pequeno que não se deve mostrar interesse por estranhos – deve-se cuspir, esbarrar e desprezar. E, claro, desculpar-se depois, sorrindo. Mas devo estar fazendo algo muito certo para merecer isso: motivavam-no, aplaudiam-no, admiravam-no, apaixonadas.

"Nada disso, meu filho."

Mesmo entre toda aquela gente, o senhor realmente se destacava: tinha no rapaz um interesse especial, que não conseguia se definir entre carinho e compaixão, mas que chegava a ser até inspirador; olhava para ele como se olha para um namorado, ou para um doente terminal.

"Filho, sabemos como você se sente, como você teve de abrir mão de tudo, deixar tudo para trás para vir até aqui. Sabemos que você estava desesperado, e que não tinha escolha. Compartilhamos seu sentimento, e, se não estamos com você, é por covardia e não sabedoria. Mas não é por esse motivo que vamos deixar que você desista de fazer o que está aqui para fazer. Tudo de que você precisa é uma pequena força."

Agora, isso sim era um alívio. Não sei o que eles querem, e eles compartilham meu sentimento! O rapaz resolveu que era melhor tentar voltar-se para o que restava de pôr-do-sol e recuperar sua pequena escapada. Mas era impossível: apesar de seus esforços para ignorá-lo, o quê solidificara-se, estabelecera-se, ganhara força. As pessoas estavam determinadas a encorajar o rapaz até o fim, até que ele fizesse o que elas estavam ali para vê-lo fazer. Ao ver que ele talvez não o fizesse, elas enraiveceram-se. O senhor estava particularmente desapontado – tinha grande esperança no rapaz.

O rapaz estava, sem qualquer brilho de dúvida, condenado: ou fazia de vez o que queriam que ele fizesse, ou fazia de vez o que queriam que ele fizesse. Mas era improvável que ele descobrisse o que queriam dele; logo, seria forçado a fazê-lo. E nada jamais apagaria de sua memória a expectativarrevoltadecepção estampada no rosto daquelas pessoas.

Insinuo-me então no mirante, por entre a multidão, chego mais perto que o senhor, que começara o que ali acontecia; empurro o rapaz pelas costas, dou a ele a força de que precisava, e o livro de sua vergonha.

Aplausos.

(escrito por Henrique 'lex' Rocha)

quarta-feira, novembro 19, 2008

Miudeza.

É muito difícil achar a onomatopéia certa para as coisas: que barulho é que fazem os dedos dele na barriga dela, tamborinlantemente felizes rumo às zonas secretas entrecoxas ou então aos seiozinhos? O mais fácil foi feito: diz-se e explica e houve que ouve; mas é tsa-tsa-tsa-tsa, bem baixinho e um pouco mais molhado e aberto quando chega em zonas mais molengas de se ser, enquanto que os ossos (os caminhos dos dedos são sempre misteriosos, eles podem alcançar as asas de sua pélvis e aí...) produzem coisas mais tó-tó-tó ou, nas costelas, hahaha!.

Tem importância? Talvez ele ouça esses sonzinhos invisíveis de inventados; mas ela, enquanto instrumentada, é só tu-tum! tu-tum! tu-tum!.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Revisão (a hora do chá).

Uma hora a literatura foge do nosso poder e então se torna um mundo por si só
[você pode escolher o estilo entre prosapoesiabomruiminteressanteintelectualconcretosimbóliconostradamusjoaquimdefreitas], e então você pode largar o livro ou segurá-lo ainda mais forte: o poder das frases feitas - ainda assim, pode parecer que não, mas só há um outro texto em toda a Internet (ao menos a parte atingida pelo Google) com a sentença "o poder das frases feitas".

Rebeca e Gustavo compartilhavam do bom sentimento que é olhar os olhos com os olhos: é aí que começa a confiança, é aí que se pode transar sem nenhum tipo de medo.
"Olho nos seus olhos e não noto sua barriga seus peitos pequenos as leves estrias de crescimento nas suas costas a celulite da bunda os pêlos em volta de seu cu seu gozo falseado."

Há 53 posts neste blog que contêm a palavra então em seu corpo. 54 com este. Isso diz bastante sobre o autor e sua noção de movimento, tempo e causalidade. A palavra átimo só aparece em 2 outros textos. Amor em 20. Há 9 em que amor e então coincidem. Amor e morte, 3. É a primeira vez que Rebeca e Gustavo aparecem; Carlos, em 11, Clara, em 4: se juntam em apenas 1. Só uma chance.

Era a primeira vez do casal, a primeira vez de cada um, e Gustavo olhava Rebeca nos olhos com os olhos, ele sabia que ela estava chorando e corando um pouco, ele gostava dela o bastante para segurá-la contra seu peito e esperar pacientemente pela calma. Seu cabelo cheirava bem - também, recém-lavado assim - e a toalha enrolada no corpo dela era tão macia quanto o corpo por baixo. Os fios negros molhavam o ombro esquerdo de Gustavo, que descia a mão pelo comecinho das costas (o de cima) dela e segurava sua cintura contra a dele.

O artifício de usar você como objeto da narrativa é relativamente recente, não vou apontar meu primeiro texto a usá-lo, porque foram vários e aos poucos. É uma forma de aumentar a capacidade de identificação das pessoas, de forçar a conjugação dos leitores, seja com o narrador, seja com o suposto receptor.

Rebeca não gostava de Gustavo.
Tentava se convencer disso, mas o cheiro do ombro dele era tão bom e familiar, tão suor e tão humano, enquanto ela fedia a sabonete e a água quente, a banho tomado numa tarde abafada. Se ela aceitasse tudo que ele oferecia a ela, certamente mudaria de cheiro, imundiciaria de Gustavo. E, ainda por cima, os olhos dele eram lindos.

Você pode sentir o autor por trás de tudo, semprissempre, não pode? O estilo é claro, posso mascará-lo de tantastantas formas, mas um leitor é sempre um leitor e sabe que eu não vou decepcioná-lo: pontualmente, intercalarei minhas anotações com a história que escrevo; não gosto de confundi-los, Rebeca e Gustavo.

Os dois se entreolharam, ela já não chorava e ele reconhecia algum tipo de beleza que desconhecia naquele rosto, aquela cara de cavalo dos olhos redondos e pretos, do cabelo preto, da sombra preta, da pele clara, ao contrário do moreno de seus próprios braços, de seus músculos adolescentes. Durante quanto tempo quisera beijá-la? Nem tanto. Ainda assim, naquele momento, ele queria jogá-la na cama e lamber seu rosto e sorrir tocando seu nariz com seu nariz, amar muito numa explosão de...

Carlos e Clara estavam sentados num banco de uma praça. Ela tentava explicar-lhe que possuía um namorado, que o esperava, que não queria conversa com nenhum estranho nesse meio-tempo, que estava lendo um bom livro, que odiava gente vindo pra cima dela, que odiava urubus, que odiava gaviões, que odiava todo tipo de animal que mata ou come, que era vegetariana convicta. Então Carlos convidou-a para o Gopala Prasada, ela o olhou decima abaixo e notou que era bonito, mais bonito que seu namorado, e que tinha boa dicção e que se vestia bem, que tinha mais ou menos a mesma idade que ela, que sorria, tinha cabelos muito bonitos; mas foram seus Olhos que a conquistaram em um só átimo: olho no olho no olho no olho. Era amor, era a morte.

Rebeca deixou a toalha soltar-se das costas, Gustavo começou a acariciá-la também ali, Rebeca virou a face para o outro lado, Gustavo fez com que ela virasse todo o corpo, Rebeca obedeceu, Gustavo retirou a toalha lentamente com as mãos, Rebeca estremeceu, Gustavo viu a toalha caindo no chão - deslizou menos suave do que havia imaginado - e passou a mão pela lateral do corpo dela, Rebeca estremeceu, Gustavo pegou-a com firmeza na cintura e tentou empurrá-la levemente para a frente, Rebeca disse que Daquele jeito não, Gustavo largou as mãos, confuso, Rebeca virou-se novamente para ele e sorriu, desajeitada, Gustavo olhou-a nos olhos, Rebeca puxou-o pela cintura, Gustavo caiu em cima dela, Rebeca caiu na cama.

Eu imagino que as pessoas não me entendam direito. Não sei o que as pessoas sentem quando leem meus textos, sei que algumas podem ter a impressão que escrevo para elas, e é verdade. Sempre escrevo para vocês, e aqui uso o artifício novamente. Todos vocês ou todas vocês? É fundamental que o autor consiga ser todas as personagens e que ele consiga escrever. A tarefa criativa é ingrata, no sentido que é provável que já tenham escrito e dito o que você pretendia de forma muito mais eficaz. Não sei se a eficácia é importante para o que pretendemos.

Ele sentiu frio e contraiu os músculos, ou vice-versa, e ela sentiu calor e contraiu os músculos e continou com calor quando o abraçou, um pouco assustada, depois de tudo. Ele retribuiu o abraço, um pouco desanimado, enquanto ela lhe dava um beijinho no peito, Rebeca disse que o amava muito e ele fez que sim com a cabeça. Gustavo estava vazio e não olhava para nada; embora não soubesse, estava feliz.

"may i feel said he/(i'll squeal said she/just once said he)/it's fun said she
(may i touch said he/how much said she/a lot said he)/why not said she
(let's go said he/not too far said she/what's too far said he/where you are said she)
may i stay said he/(which way said she/like this said he/if you kiss said she
may i move said he/is it love said she)/if you're willing said he/(but you're killing said she
but it's life said he/but your wife said she/now said he)/ow said she
(tiptop said he/don't stop said she/oh no said he)/go slow said she
(cccome?said he/ummm said she)/you're divine!said he/(you are Mine said she)"


segunda-feira, novembro 03, 2008