quarta-feira, outubro 25, 2006

Sobre golpes falsos - verídico.

- Chamada a cobrar, para aceitá-la, continue na linha após a identificação - disse o telefone.
- Alô.
- Alô. Aqui é do corpo de bombeiros, aconteceu um acidente terrível de carro. Tem algum parente seu de carro fora de casa?
- Tenho sim. Tenho 15 - era mentira.
- 15?
- É, 15 parentes fora de casa.
- Da sua casa você tem 15?
- É.
- Então, aconteceu um acidente que envolveu 6 carros. Veja se você reconhece algum deles: corolla, vectra, corsa, astra, civic, clio e gol - eu não reconhecia.
- São 7.
- Isso, o acidente foi entre 7 carros.
- Olha, antes você tinha falado 6. Acho que você não sabe contar.
- Ah, eu não sei contar?... - ele tomou fôlego pra falar algo do tipo "Olh'aqui, eu vou matar não sei quem que eu seqüestrei", ou algo assim, mas ao invés disso:
- Tututu - disse o telefone, graças a mim.

domingo, outubro 22, 2006

Ninguém mais acredita n'Ele.

Era uma vez um homem com problemas de expressão. Ele era muito desenvoltado, muito do falador, do careteador, do expressionador. Mas era um palhaço, no fim das contas, já que só falava quando não precisava, e careteava e expressionava.

Quando realmente havia carecimento, apenas abria e fechava a boca, aflito. Mas era óbvio que não deixaria o aflitismo transparecer-se, então simplesmente abaixava a cabeça, abaixava a cabeça.

Sussurrava palavras surdas.

Ouvia palavras mudas.

"Como interpretar? Por que interpretar? O que dizer, como, como, ridículo!"

E assim passaram-se oportunidades a rodo. Sentia-se ardendo de querer poder mostrar que quer poder o tempo todo. Era muito famoso por não conseguir demonstrar o que queria poder demonstrar, e assim foi durante muito tempo, até que percebeu que as pessoas talvez já tivessem esquecido de tudo e achassem que ele estava simplesmente normal, que não havia mais ardor interno.

Faltava burburinho externo.

Faltava a água para avisar que o ar fugia blumbilhante pelo furo do pneu. "Mas qualquer um que se interessasse realmente pelo andar da carruagem perceberia muito facilmente que o pneu já está até murcho demais!", diria ele.

Talvez, talvez.

Mas ninguém liga. O pneu-menino não está incomodando, já que a carruagem está, infelizmente, parada.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Sobre ser ricardo.

Ricardo significa, em pós-grego-contemporâneo, "o detentor do segredo das esferas mais ínfimas", sendo, assim, nome tão significativo e poderoso.

Em hebraico-germânico, ricardo é "salvador das pátrias".

Em pré-hepúblico-soviético, o sentido é deveras profundo: "aquele que mantém".

Os radicais se estendem mais adiante - para trás -, chegando aos caros egípcios-pré-colombianos, para quem ricardo é, apenas, "o que não é pedro".

Apenas a título de obsevação, pedro significa "rijo como joão", em húngaro-hapocatílico.

Também nessa língua, ricardo significa "largo como uma rocha", o que conflita com a definição do aurélio-laroussiano, que diz: "ricardo - estreito como um rio".

É óbvio que pode ser uma rocha muito grande, ou um rio muito estreito, mas esses conceitos são tão antagônicos que, mesmo que façam sentidos juntos, mantêm-se em conflito.

Mas há um ricardo - sim, apenas um, ele foi escolhido pelo Criador para ser o único - que foge dessas banalizações idiotas, ignorando toda a etimologia de seu nome, assim como a riqueza histórica por trás de tudo.

Isso porque ele não se chama ricardo.

Chama-se Ricardo.
Que é anagrama de Criador.

terça-feira, outubro 10, 2006

Técnica.

Dificuldades técnicas são difíceis, ô se difíceis dificuldades.

domingo, outubro 01, 2006

Uma linda mulher.

- Eu não entendo, pra que isso?

Ela parecia indignada.
Qualquer observador diria que não é pra tanto!
Mas parecia e estava, e estando era coisa de se admirar, as sobrancelhas arqueadas, ângulos impossíveis. De fato ela era bela. Linda? Acho que não.

A moça continuou olhando, impassível, pro moço.
Qu'era eu.
Quisera eu que não fosse! Ah, que ingratidão das pessoas.

- É simples, você fica aqui a noite toda, eu pago.

O moço sorriu.
E não foi um sorriso canalha.

- Não acho ético ganhar por... por dormir com você. Assim, simplesmente dormir com você. Eu não durmo, eu transo. Eu trepo! Eu...

Ela abria muito a boca
como se quisesse engolir o mundo. Sinceramente, as milhões de variantes para "fazer sexo" não me interessam nem um pouco, não mesmo.

- Olha, eu quero que você me faça companhia. E eu farei companhia pra você! É uma... você... dama de companhia!

Ele parecia sofrer.
Isso podia se ver por minha expressão de cachorro-sem-dono. De fato eu sofria, ah, se sofria. Vocês todos deveriam saber quão duro é não ser entendido por absurdamente absoluto alguém nenhum.

- Qu'é isso, o mundo todo virou aficcionado por essa merda de Pritchi Uuman? Cara, mesmo que você me pague por hora...

Ela olhou para o relógio,
o que foi muito bonitinho, se me permitem dizer.
Os gestos humanos significam tão pouquinho, tão pouquinho, e... metáfora!

- Por favor. Eu juro que não sou nenhum maníaco.

Ele apertou forte a mão dela, olhos nos olhos.
Como dois homens de negócio.
E, como eu dizia, metáfora!

- Tudo bem... Mas me mostra o dinheiro já'gora.

Ela abriu um meio sorriso.
Patavinas.
Não entendo patavinas!