sexta-feira, março 28, 2008

— Como que pode, cara, você e ela não são pessoas que possam se misturar, são i-mis-cí-veis.

— She’s unmissable, man, don’t mix it up.

O um, o dois e a três. Três sobre um, subtrai-se dois e aí está a função disso tudo.

A acepção que falta no dicionário (não me venha com seus conceitos de ceticismo assscético, eu sei o que falo) para o fonema amor:

narizinho
tu-ru-turu-tutu
ex-pon-tan-eamente
na minha clavícula
clá, vi cu lá
orelhinha
só riso or
GAS-MO.

domingo, março 23, 2008

Nota-se.

É assim que eu faço: eu sento em frente às moças que me chamam a atenção e começo a escrever enquanto meus olhos pingue-pongueiam do caderno pros olhos delas. Esse é o procedimento padrão, isso é o que eu faço com você agora e seu cabelo é tão lindo e talvez só bastasse fingir que estou escrevendo, porque o que eu realmente quero é ver você ficando corada enquanto eu mesmo enrubesço já com toda a prática dos anos. Poderia ser em qualquer lugar, acontece de eu encontrá-las em todo tipo de canto, vocês sempre sentadas e sempre dentro de vocês mesmas. Eu quero que vocês se desensimesmem um pouco e percebam que alguém olha para vocês do meu jeito, e então que eu não saia de suas cabeças assim como vocês estão sempre dentro da minha.
Eu podia muito bem apenas fingir que escrevo, mas no metrô é o melhor lugar de todos para esses olhos negros e esses cabelos curtos e preto-pretos e agora você me percebeu e eu tive que desviar meu olhar para o caderno. Eu morro de vergonha, é isso que você acha, talvez você seja a mais perfeita de todas mesmo com esse jeito arrogante de se vestir e você está me olhando de novo e tanto desprezo na sua cara que eu não sei se talvez o melhor não seja continuar mesmo escrevendo e fingir que você que inspirou tudo isso não está me fitando tão forte assim.
A vantagem de manter meus olhos no caderno é que eu posso notar suas botas e elas são irônicas e parecem combinar bem com seu olhar que não parece nem um pouco acanhado com a minha invasão: talvez você goste de ser escrita por mim e queira me desafiar e eu vou ser mais forte que você porque eu consigo manter minha atenção grudada no seu rosto enquanto escrevo e nunca você vai ser assim tão forte comigo.

Já se passaram algumas estações e continuamos nos encarando e eu estou segurando a minha respiração já se sabe lá há quanto tempo, eu não sei porque com você pode ser diferente das outras pessoas quando eu já fiz isso tanto e assim parece até de propósito que eu justamente agora tenha explicado todo o meu método para o leitor, mas é sempre assim e na verdade eu só escrevo para ocupar algumas partes do cérebro e não morrer de medo de cada Mulher que me chama a atenção. Tanto faz, tanto faz, porque você está se levantando e acho que você irá embora e me dará as costas como todas as outras, você vem para o meu lado, mas só porque a saída é obviamente deste, você segue direto para mim embora eu saiba que isso é mentira e você diz

eu conheço muito bem esse seu tipo de gente que é você, seu merdinha, você só quer destruir a vida das outras pessoas com o joguinho idiota desse seu caderno adolescente cheio de obscenidades do tamanho da sua cabeça enorme.

Aí ela arrancou o chapéu da minha cabeça e saiu pela porta aberta do metrô e eu juro que não chorei nem um pouco naquele dia.

sábado, março 15, 2008

no inverno

nós dois deitados
na cama
nos descobrimos
a noite inteira.

sábado, março 08, 2008

Escrever é ordenhar uma vaca.

Porra que merda de caneta emperrada que me faz ficar preso numa gina que poderia muito bem ser mandada praquela puta que a pariu. Quê, que e quê? A parte mais importante da vida de Henry fica a pouquíssimas linhas daqui, mas as palavras engasgaram-se no passado e agora é imposvel alcançar o futuro do pretérito a não ser que conjetussemos sobre.

Henry faria as coisas que quisera, se tornaria feliz comparado com seus amigos menos certos — ou mais errados, não é exatamente o mesmo — e alcançaria a felicidade com Jullie facilmente, mas aconteceu que aconteceu um problema que não era para, a história da minha cabeça sofreu um leve tilt quando comecei a ouvir a sica que vo me mandou e a vaca leiteira que é a minha criatividade parou de funcionar junto com a caneta.

Ode à BIC

Oh, caneta que canta o canto encantado

Vertente das palavras mais sóbrias

E falsas que existem.

Oh, linda ferramenta barata abrindo os caminhos

Literários pra morte.

Bendita BIC, borra.

Henry esfregaria Sua Cara nos peitos de Jullie em busca de carinho, ela lhe sorriria e lamberia sua testa e tudo estaria muito bem encaminhado, mas dessa vez — glupe-glupe: a caneta vai se livrar que eu sei — é Jullie que esfregou Sua Cara na Sua Cara de Henry, foi ele que lambeu o lóbulo esquerdo dela e ela morderá o dedinho dele e Sua Cara sorri com tanta protoppornografia descente na sua frente.

Henry beijaria a boquinha de Jullie, que passaria sua mão por Sua Cara e que suspiraria, os dedos dele fariam aquela coisa que você imaginou por mim e na verdade Jullie jogou as pernas por cima dele e os dois caíram c’um tanto tesão no chão que a vizinha debaixo percebeu que começará tudo de novo e já estava batendo com a cadeira no teto e gritava:

SEUS PORCOS NOJENTOS

BARULHENTOS, GOSMENTOS

CALEM SUA BOCA, QUE POCA

VERGONHA

MEU FILHO NÃO TEM QUE OUVIR ESSES GEMIDOS DE MERDA DE VOCÊS DOIS.

Eu não sei se o conto estará pronto pra quando você chegar e muito menos se você gostará, porque a caneta não quer pegar direito e não sei se você vai sequer consegui ler isso aqui e também você prefere a versão um ou dois? Sua sica quis que fosse ela por cima e não ele por cima, vo fez com que aos 9:33 aparecesse um homem nu pela porta da frente, ele abrirá a boca e cairá aos prantos, porque ele é William e era ele que devia estar lá e na verdade está Henry fazendo o bom trabalho de parto às avessas.

Ah, bem, a caneta pegou.