segunda-feira, junho 19, 2017

L.,

Soube de seu problema com as baratas. Não é o melhor assunto pra uma mesa de bar, mas o Rodrigo me disse ‘você sabe que a L está com o apartamento totalmente infestado de baratas, né? já faz um mês e, tipo, literalmente por todo canto, outro dia ela abriu a geladeira e tinha tipo umas 30 baratas na geladeira, e, assim, ela tá lá, né? tipo, ela precisa dedetizar e não tem pra onde ir, eu ia oferecer lá em casa mas você sabe como o pessoal é lá, né?’ e eu respondi que sim, sabia bem como o pessoal de lá era.

Eu queria poder te oferecer um cômodo aqui em casa, mas o que acontece é o seguinte: estou cuidando da cadela de minha prima e de seus 6 filhotes. Não gosto de julgar as pessoas, mas quando aceitei cuidar de seu animal não imaginava que estivesse prestes a ter cachorrinhos! E adoro cachorrinhos, você sabe, mas são 6, e um deles já morreu, então, pra ser bem sincero, minha casa também está infestada por bichinhos fora de meu controle.

(aliás, se souber de alguém que queira um filhotinho de labrador, por favor passe o contato)

Enfim, me entristece sua situação com as baratas, ainda mais sabendo que… Do seu medo de baratas. Agora escrevendo aqui, que bobagem falar do seu medo de baratas, né? Você o conhece muito bem, não tem razão para que eu o invoque.

Desculpa, faz tanto tempo que a gente não se fala, né? Pelo menos seu endereço ainda é o mesmo há anos, embora eu nunca a tenha visitado. Se me lembro bem, você gosta muito da região, moraria aí a vida toda... Acho que eu também, meu bairro mesmo é uma chatice sem fim, mas estou perto de tudo e o sol bate forte agora pela janela. O ar no seu apartamento é bom de respirar? Ah, pergunta idiota, né, respirar com baratas nunca é bom, por melhor que seja o bairro. Desculpa, acho que estou me perdendo.

Bom, escrevi isso mesmo mais para saber como você está. É meio mentira, porque, se fosse realmente isso, eu teria te ligado ou mandado um zap. Ok, você deve ter percebido as 4 folhas de louro frescas dentro do envelope. Eu sei que você não acredita nessas coisas, mas, se você ainda confia em mim pra alguma coisa, faça o seguinte:

  • Corte com as mãos cada folha de louro bem no meinho. Se a folha rasgar um pouco, não tem problema. Enquanto faz isso, tente canalizar os pensamentos positivos sobre seu lar nas pontas de seus dedos;
  • Posicione cada um dos pedaços maiores nos pontos cardeais da sua casa, o mais precisamente que conseguir (Norte, Sul, Leste, Oeste);
  • Posicione os pedaços restantes nos pontos colaterais (Nordeste, Noroeste, Sudeste, Sudoeste);
  • Feche bem as janelas, é essencial que o vento não leve as folhas de louro;
  • Esvazie os lixos, a geladeira e os armários da despensa, jogue tudo fora (IMPORTANTE: NO LIXO DE FORA!)
  • Saia de casa por ao menos uma semana, deixando a porta destrancada;
  • NÃO DURMA NA CASA DE CONHECIDOS.

Sei que as instruções podem soar um pouco contraditórias com o que disse aqui, mas é uma receita de família que, dizem, salvou minha avó de uma infestação de cupins que ameaçava destruir tudo que havia construído em 20 anos – ela ainda era jovem quando aconteceu, só não se podia dizer o mesmo da casa que herdara dos pais.

Pelo menos não é um problema eu não ter lugar para te oferecer, porque a ideia é se deixar levar para outros lugares ainda não colonizados. Você não tem porque me ouvir, e acho que eu também não tenho motivos bons para estar te escrevendo, e pode bem ser que quando esta carta chegue sua infestação já esteja solucionada. Se for este o caso, sugiro que faça um feijão ou um molho vermelho com as folhas do louro, que é delicioso e foi tirado diretamente dum pé que tenho aqui em casa, um louro bonito trazido da Turquia pela minha prima. A mãe dos cachorrinhos adora se deitar abaixo dos pés e, às vezes, masca suas folhas. Hahaha, escrevendo isso, acabo de perceber que, talvez, cachorros não possam comer (e colher) os louros. Devia ter perguntado pra prima.

Por enquanto estamos todos vivos (com exceção do pobre cachorrito que morreu ainda em seus primeiros dias).

Beijos,

Carlos.