quinta-feira, março 30, 2006

Preconceito.

Desculpem, mas este será um post indignado.

Tive uma discussão com minha mãe agora há pouco. Resolvi, experimentalmente, contar pra ela que usei uma saia hoje. Infelizmente, a reação dela passou um tanto do esperado e calculado.

Eu imaginava que ela acharia bobagem, perguntaria porque diabos eu vesti a saia e outras coisas do tipo. Foi engraçado ver que ela disse "Ah, se seu pai fica sabendo disso", e depois "Espera só seu pai saber disso".

E me deu todo um sermão sobre a impressão das outras pessoas. Falou que se eu queria me travestir, era melhor eu já avisar pra ela já ir se preparando. Disse também que meus amigos (hah, meus AMIGOS) falariam de mim pelas costas, me chamando de viado e tralala. E ressaltou que eu falo que não me importo porque não sei em que dimensão isso pode chegar.

Pois eu pergunto:

Até onde o preconceito pode chegar?

Eu tenho plena convicção de minha "escolha" sexual, e tenho certeza que todos os meus amigos de verdade sabem que sou hétero, e mesmo que eu não fosse, não ligariam para isso.
Tenho plena convicção também que o ambiente da Federal não possui muitas pessoas que julgam as outras nesse sentido. Elas podem até pensar: "Olha que bicha!" ou até comentar isso com alguém do lado, mas podem também mudar de opinião caso convivam melhor com a pessoa.

Por que a censura de minha mãe (que, aliás, ouviu um discurso inflamado meu, em defesa de meus ideais [que se resumem a: a saia é bonita, é confortável e é divertida de usar, não há porque censurar isso] e dos alunos da CEFET-SP)? Digo, ela é uma pessoa inteligente, com acesso a bastante informação.

Por que essa vontade intensa de manter os seus mesmos valores? Eu não estava pedindo para colocar um piercing, muito menos tatuar-me. Aliás, nem pedia nada. Apenas mostrei o que eu tinha feito nesse dia.

Aliás, ela concordou com a postura da escola (de proibir a saia masculina).

Eu acho isso absurdo. São valores portugueses que perduram até hoje e que já deviam ter sido quebrados há muito. Somos um povo tropical, ora bolas!

E... Tá, esse post foi uma bobagem só. Mas vou deixá-lo por aqui. Só espero que meu pai não descubra o que aqui escrevi.

terça-feira, março 28, 2006

Crítica lírica.

Poemas
Não se fazem
De versos
!

segunda-feira, março 20, 2006

Manual Prático da Auto-Caracterização (ou: como parecer muito mais do que você é!)!

Sejam bem vindos ao... Manual Prático da Auto-Caracterização!

Sim, agora você pode ser mais do que você mesmo é!


Pois bem, comecemos nossa aula. Você é um simples mortal, tão sem graça quanto outro qualquer. Sente-se mais uma formiguinha invisível no mundo, tem suas idéias negadas a maior parte do tempo e, infelizmente, é um zero à esquerda com qualquer coisa com mais curvas que uma tábua de passar roupa.

Mas eu tenho a solução!

Você pode achar que não tem um problema tão sério assim, mas é óbvio que seu caso é grave. O seu caso sempre é grave, embora a maior parte das pessoas não dê a mínima para isto. Como brilhar? Tem que haver um modo de ser melhor do que os outros, não tem?

Pois bem, começaremos com a lição básica: você nunca será nada sendo apenas você. Você é medíocre. Mas você pode facilmente fingir ser mais do que é! Seguem-se as dicas:


1- Fale alto. Mas não fale alto demais. Fale apenas alto o suficiente para sua voz sobrepor a de todos os outros, mas sem machucar os ouvidos de ninguém. Ao conseguir a atenção das outras pessoas mantenha contato visual e nunca perca a atenção delas. Sorria.

2- Seja engraçado, mas apenas o suficiente para não parecer um bobo-da-corte. A não ser que você queira ser conhecido pela sua quantidade exorbitante de ridicularidade.

3- Invente trejeitos. Aja levemente diferente das outras pessoas. Invente gírias e faça elas tornarem-se suas trademarks. Ria com gosto, brinque com as outras pessoas, mas sempre pareça preocupado com o que elas pensam. Deixe que as outras pessoas falem sobre elas, para então ter uma oportunidade de falar sobre sua vida legal.

4- Sempre tente conquistar espaço. Mas nunca seja invasivo. Brinque de conquistar direitos sobre a outra pessoa, brinque com os sentimentos de todos e sempre sorria, mesmo que você queira matar a outra pessoa. Fique bravo quando te desrespeitarem demais, mas nunca deixe muito claro o que é desrespeitar demais para você.

5- Seja inconstante. Mesmo que você seja completamente estável, finja ser inconstante. Não acompanhe as modas, invente-as.

6- Fale sobre qualquer coisa, mesmo que não saiba nada a respeito ou odeie o assunto. Seja simpático, mas nunca pareça burro.

7- Dance.

8- Beije.

9- Faça sexo, ou finja que faça sexo. Conte para todo mundo depois (sejam as experiências reais ou não).

10- Fale sobre assuntos mundanos como se eles fossem a coisa mais interessante do mundo! O segredo é agregar valor às coisas, principalmente às que não têm valor algum.

[...]

terça-feira, março 07, 2006

Crônica (fictícia) rabiscada no caderno.

- Cê tá me mentindo.
- Estou nada.
- Cê tá falando sério mesmo?
- Olha, não podia ser mais sério do que o que eu falei. É verdade.
- Cê comeu ela mesmo?
- Aham.
- Mas... Mas... Ela parece o tipo de pessoa que é virgem pra sempre!
- Que nada. Ela é safada.
- É? Ela é tão... meiga!
- Isso porque você não conhece direito...
- Foi bom?
- Ô. Foi ótimo.
- O que cês fizeram, exatamente?
- Porra, aí já não interessa.
- Ahn... Parabéns, cara.
- Parabéns por o quê?
- Parabéns, ué. Sempre quis trepá com ela.
- Sério?
- Uhum, ela é tão...
- Olha, você podia não falar sobre os motivos pelos quais você queria fodê-la?
- Tá.
- Que bom.
- ...
- O que foi?
- Sortudo da porra.
- Não foi sorte.
- Foi o quê?
- Habilidade.
- ...
- Bom, acho que vou pra casa.
- Tá cansadinho, é? De tanto transar com a gostosa, é?
- Vá se foder.

E neste dia acabou uma amizade de 8 anos.

quinta-feira, março 02, 2006

Impotência.

"A impotência é o pior sentimento humano", disse alguém. Não conseguir algo é diretamente correlacionado com a idéia de fracasso. E como poderia ser diferente? Não poder é não realizar. Sem realizações não há satisfação do ego.

Mas por que temos que fazer diferença no mundo? A impotência foi criada pelos homens justamente por sermos os únicos animais terrestres cujas pretensões vão muito além da sobrevivência. Trocamos poderes por deveres.

O que poderia ser feito passa a dever ser feito. A sociedade requere. Mas muito mais importante, muito mais íntimo: nós mesmos requeremos.

E aí está o problema: sentimo-nos mal quando não podemos justamente por acharmos que devemos ser, fazer e conquistar tudo. Somos impotentes, todos nós. É impossível conseguir tudo a própria idéia de conseguir tudo é um tanto imbecil. Mas mesmo assim, somos eternos fracassados.

É claro que achamos (ou, muito mais apropriado, inventamos) um poderosíssimo remédio para a impotência. E olha que nem estou falando do Viagra ®. Falo do dinheiro. Virtualmente tudo pode ser comprado por ele, e assim pode-se conseguir virtualmente todas as vontades mundiais. Podemos enfim ser (virtualmente) felizes. Pelo menos até a próxima desilusão.

A culpa talvez seja de nossos pais, que nos mimam, nos protegem, nos dão tudo que queremos. Será? Mesmo quem teve pouco dado pelos pais, e talvez até principalmente estes, sentem a impotência desde pequenos. Impotentes por terem menos do que os garotos estragados? Talvez. Impotentes por perceberem que o mundo é enormemente grande e nós somos minúsculos? Talvez.

Às vezes, queremos algo apenas para evitar a sensação de que não conseguimos este algo. Uma busca incessável pela não-impotência, como as garotas impossíveis de se conquistar dos filmes americanos, no eterno jogo de conquista-coração-foge-conquista-outro-coração e por aí vai.

Mas este sentimento está aí e nada podemos fazer contra ele. E se você não fica triste de saber disso, parabéns: você não está tão perto das garras da impotência.

Tenham todos um bom dia, se puderem.

PS: Ah, sim. Eu não estava muito motivado a escrever esse texto. Ou melhor, transcrever o modificando diretamente de meu caderno. Mas eu li na tela do blogger "Criar Postagem" e, por alguns instantes, li "Criar Coragem". Foi divino!