quarta-feira, dezembro 29, 2010

um mar de umbigos (férias inesquecíveis).

Prometo tornar-me invisível como o que não se vê quando não se quer ver (um mendigo, quase).

Enfrento uma maré de falta de maré, isto é, a tempestade já foi?

Não sei a cor de minha cueca nem a cor dos olhos dela.

Enquanto isso, eles roncam no quarto e meu estômago grita de dor e de solidão (muito, muito sólido).

regeneração afetiva.

se tudo der certo criarei uma grife de máquinas de passar roupa neste verão

a estrada a praia os caminhos e as estradas e as rodovias o pedágio tudo os caminho tudo os tempo que eu passo esperando são longos e longos

a ponto de eu me pergunta Será que a vida é só espera???

então eu digo Que venha o ano novo!!!

ai ai será que dá pra sentir a dô no que eu tô falando?

será que serão fogos de ARTIFÍCIO????

será que o patético é o novo patético??????

feliz, ano, novo.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

autoficções, 3 partes.



ALMOÇO em 3 partes e aproximadamente 7 janelas




primeira parte: retrospectiva

ALMOÇO em 3 partes e aproximadamente 7 janelas é um projeto que veio se desenhando neste semestre, a princípio como ideia formalmente desvinculada do curso de Estética e Teoria do CTR. Realizo ocasionalmente – assim como alguns amigos meus – pequenos vídeos para a Internet. ALMOÇO serviria como reflexão de nossa própria produção e como mais uma hipótese de alternativa ao fazer imagens padrão que nos é normalmente imposto no curso superior do audiovisual.
Como brincadeira baseada no filme The five obstructions (Lars Von Trier e Jørgen Leth, 2003), analisei a produção para Internet de meu colega Henrique Chiurciu e achei alguns pontos fundamentais para sua produção: autoficção, enquadramentos fixos, “câmera-olho” – projeto de vídeos “de seu ponto de vista” que ele estava tentando acertar –,  auto-mise-en-scène, predomínio de cores quentes. Tendo essas características em mãos, comecei a bolar um vídeo que as usasse como normas, obstruções. Surgiu a premissa do ALMOÇO – a princípio, corruptela de seu vídeo JANTAR. Como vários outros projetos informais, foi para a geladeira.


Quando surgiu a possibilidade de criar um vídeo que, de alguma forma, trouxesse em si questões desenvolvidas no curso de estética e teoria, resolvi levar o projeto adiante, tentando esmiuçar, para mim, o que há de discurso nele e o que é refletido por ele. Assim, após cuidadoso e longo processo de gestação do projeto, apresento uma versão quase final desse pequeno vídeo. Alguns desalinhamentos na movimentação e na imagem persistem; infelizmente, o processo de feitura do filme exige muito tempo de minuciosa pós-produção, coisa rara em fim de semestre.


segunda parte: o que está em jogo?

ALMOÇO realiza-se na reflexão de diferentes formas audiovisuais, mas não explicita nem tenta definir objetivamente o que está em jogo. Seu diálogo com questões e conceitualizações estéticas precisa se dar, portanto, na análise da obra – talvez a análise do próprio autor não seja muito válida, mas é preciso explicitar intenções.
O ponto central do vídeo é a montagem por incrustação, isto é, por “mixagem” de diferentes imagens em diferentes camadas. A imagem que representa* a minha visão toma grosseiramente – as relações de proporção se modificam no decorrer do vídeo – o lugar de minha cabeça e se move comigo. Assim, a “decupagem” das ações se dá principalmente na visão do espectador, que se alterna, incitado pela mise-en-scène, entre observador distante e “agente da passiva”. Dentro do quadro maior, a videohead expande o campo e ressignifica os espaços fora de quadro ou “atrás” e “na frente” dele. Um pouco como as primeiras vídeo-artes vistas em aula, ALMOÇO tem como pontapé inicial a possibilidade técnica digital de compor livremente a imagem.
As duas imagens têm características bastante distintas. O quadro maior, plano geral ligeiramente desfocado, em contraluz de cores quentes, quase frontal – uma leve angulação causa certo desconforto ao frustrar nossas vontades geometrizantes – com abertura e tempo de exposição fixos e câmera no tripé, representa principalmente a visão óptica, em profundidade, e delimita, a princípio, nosso campo. Os limites de quadro representam também os limites da cozinha imaginária, e há uma tendência centrípeta em sua composição. A teatralidade do espaço é enfatizada pelo entrar em cena da personagem no início do filme.


O quadro menor, captado com uma pequena câmera de celular presa em meu rosto – curiosamente, a lente estava em meu nariz, e não entre meus olhos –, é móvel, nítido, ainda que muitas vezes bastante pequeno, com todos os ajustes de cor e contraste automáticos, tendendo para as cores frias. Sua movimentação, apesar de muitas vezes imprevisível, não é desorganizada nem aleatória: há claramente uma atuação no olhar. Embora a imagem seja apenas uma representação de minha visão, a câmera estava efetivamente presa ao meu rosto, de forma que ver tornou-se um gesto de mostrar, isto é, uma visão háptica em sua própria confecção. Mover o rosto significa mover a máscara sobre o mundo.


ALMOÇO estrutura-se, de forma bastante simples, em três partes, delimitadas por dois cortes: a apresentação, parte mais longa, em que se mostra a ação, o espaço e a forma básica do vídeo; uma parte intermediária curta, em que as características se mantêm basicamente as mesmas, que funciona como elipse temporal do processo;  uma conclusão da ação e uma espécie de explicitação metalinguística do modo de fazer e das “aproximadamente 7 janelas do título”. Mostrar a câmera parte da postura de não tornar o método simplesmente ilusionismo e efeito, explicita-se que se discutem olhares e modos de fazer imagem. A videohead precisa ficar imóvel, no fim, para dar conta do fora-de-quadro. Assim, revela-se rapidamente a câmera em meu rosto – que já podia ser vista em alguns momentos nos reflexos do fogão – e cria-se uma composição das janelas ao fundo com a janela da videohead com a janela da televisão com a janela do quadro maior. Metáfora do enquadramento como máscara, abismo do ver.



A opção de estruturá-lo assim (montagem tradicional, temporal, em oposição à mixagem de imagens) se deu principalmente para reduzir o tempo do vídeo ao tempo máximo exigido pelo trabalho** e para criar uma unidade mais concisa e mais apta à forma do filme-ensaio para a Internet do que da vídeo-instalação de 20 minutos que formaria o vídeo sem cortes.
O subtítulo em 3 partes e aproximadamente 7 janelas, escolhido após o processo de montagem, serve como provocação ao espectador, para que ele busque – e provavelmente encontre – essas 3 partes, tentando dar significações a elas; mais importante, evidenciar as janelas no título e dar um número relativamente arbitrário a elas (poderiam ser 4 ou qualquer outro número, dependendo do critério adotado) dá margem para que o espectador “descubra” as janelas do filme, cogite, por exemplo, se os reflexos nas geladeiras são também outro ponto de vista, outra inserção sobre a imagem.


terceira parte: por quê? porquês

Mais difícil que identificar os elementos presentes numa obra, é entender por que fazê-la. ALMOÇO é uma hipótese de linguagem – apoiando-se na ideia de que não há uma linguagem propriamente videográfica, mas sim possibilidades características que permitem que nasçam outras gramáticas; proponho algo similar com o digital: vale tudo o que for possível –, é mais um passo meu na tentativa de entender o autofilmar-se típico da Internet, da investigação da autoficção documental, de um rascunho de um (outro) cinema possível.
Talvez o mais feliz, neste vídeo, é que ele seja um ensaio aberto sobre as possibilidades do audiovisual, que tenha algum frescor, a meu ver, não-gratuito. Fico com a hipótese de que se fazer imagem e fazer imagem, cada vez mais, se aproximam, e de que isso talvez seja o ponto mais importante do audiovisual na/da Internet, neste momento.




* É essencial que a imagem seja apenas representação de minha visão, isto é, que a substitua e exista em seu lugar, sem “desaparecer” como imagem. Certo distanciamento por parte do espectador é bem vindo, por isso a proporção retangular vertical da tela, em oposição ao retângulo horizontal mais próximo de nosso raio de visão.
** Obstrução mais ou menos acatada, já que o vídeo tem pouco menos de 7 minutos. Sentir o tempo da ação, para mim, era essencial.




adendo: links de interesse

ALMOÇO em 3 partes e 7 janelas (720p): http://www.vimeo.com/17582159
Coletânea de vídeos meus e de meus colegas: http://cinequoinon.blogspot.com/
The perfect human (Jørgen Leth, 1967): http://www.youtube.com/watch?v=3R4E1nm6SYw
Trecho de The five obstructions: http://www.youtube.com/watch?v=KfkT0ouIJ-4
Brief Encounter (Tom Jantol, 2009): http://vimeo.com/album/226174/video/6224735

segunda-feira, novembro 29, 2010

autoficções, par.

– A receita do sucesso, qual é?
– Diálogos espertinhos, amor, pernas bonitas, sorriso simpático.
– Um homem como eu pode ter pernas bonitas?
– Mmm... Verdade, para o homem, as pernas não importam muito. Como vai sua barriga?
– Redonda, um pouco.
– E sua carteira?
– Gordinha.
– Bom, é bom, mas pra cinema isso não é suficiente.
– E o que é?
– Pernas bonitas, se você for uma mulher.
– Eu não sou, você sabe muito bem.
– Então sorria – – ok, não lhe cai bem o sorriso. Acho que pra você não tem jeito.
– Nem com talento?
– Tampouco talento. Além do mais, tem pouco talento.
– Meus diálogos são espertinhos.
– Acho que não, acho que não. Um pouco maçantes e juvenis, sem propósito. O público logo se enfada. Também acho que você não está sendo você mesmo.
– Então... Então eu te amo.
– Sucesso!

terça-feira, novembro 23, 2010

platão, hojendia.

eutenhotantavontadedeconversarcomvocê
maseunãotenhooqueconversarcomvocê
eassimnessadistânciaficaremsilêncio
nãoéosuficientenãoénadaésóvazio
ésóumemaranhadodepalavras
nãoditasnempensadasnão
porquenãoseinemoque
pensarsóseiqueque
rofalarconversar
masnãoposso
nempensar
emvocê
quea
sp
a
l
a
v
r
a
s
s
e
d
i
s
s
o
l
v
e
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sexta-feira, novembro 19, 2010

autoficções número um

Uma sensação chatinha na minha cabeça, nas minhas pålpebras; tristeza de não saber fazer valer, de não saber o que fazer (me disseram: segure isto e fiquei segurando enquanto o tempo passava e eu era e fui decoração, parte da ne mise pas en scène, o secreto e que fica por detrás das câmeras e que deixa de significar quando o público vê, mas eu estava atrás das câmeras, ainda que fosse só um convidado (nem isso, na verdade, já que fui por vontade própria, por motivos que não existem, que não convêm (deitei-me numa peça de madeira que sabia que seria queimada em seguida, deitar-se na morte ("Ei, me ajuda aqui, segura desse lado" (quem me dera fosse "Segura-me aqui, aperta-me forte e faz-me gozar (confusão de pessoas, de como se deve fazer o imperativo (o imperativo é sempre dever))", mas nunca é e sempre penso voz alta ou em literatura), e eu seguro, eu carrego, eu suo e há um desprendimento em relação ao mundo que não tem tamanho, trabalholazersujeira) é a melhor coisa que existe, pois tudo é morte e Deus é bom), que estão no irracional, nos números indivisíveis, imprevisíveis, frutos de operações inapropriadas), um déspota sem o que despejar ou despojar, portanto algo próximo a algo que perdeu sua razão social, seu papel econômico, suas lentes de contato), de morrer naquela hora com aquele cheiro horroroso de borracha.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Em memória.

Quando meu pai morreu, recebi de herança muita coisa. Chamava-se João, mas isso não faz diferença mais. Foi homem rico e precavido, gostava de guardar para um futuro que nunca vinha, mesmo depois de já ter ficado bastante claro que ele acumulava mais para a morte do que para a vida. "Esperar, Carlos, a vida é esperar", enquanto afagava minha franja rebelde. Não importa muito, morreu.

Dentre o muito que deixou, o dinheiro foi o mais importante. Fiz meus cálculos e havia o suficiente para o resto da vida, se a levasse tranquilamente. Meu ofício também me ajudava: especializei-me desde cedo em fazer nada, em esperar que decidissem por mim. Não havia mais ninguém, mamãe morrera muito antes e sou o único filho reconhecido por meu pai. Sou sozinho, mais sozinho ainda do que ele era.

Outros itens importantes:  1 casa de praia, 2 apartamentos em São Paulo (um deles transformado em biblioteca privada por meu pai), 1 apartamento no Rio, alguns automóveis. Passei a usá-los todos durante o ano, dividindo minha atenção entre os imóveis igualmente, numa planilha. Ignoro o contexto em que meu pai adquiriu cada um deles, também não entendo muito bem porque ele construiu a biblioteca.

O que tenho para contar de menos trivial, no entanto, refere-se justamente a esse apartamento transformado em fortaleza de livros. Meu pai passava frequentemente semanas trancado aqui, totalmente alienado do mundo exterior. Felizmente, dada a natureza de seus negócios, nunca teve prejuízo por isso (ao menos é no que acredito, pois conversávamos pouco). Me arrependo um pouco de não ter perguntado a ele o que fazia lá.

Suponho que ele me responderia, com sua mania de encarar o nariz das pessoas: "Ora, leio!". Talvez risse, mas fica difícil saber ao certo, já que está morto. Também não é isso, o que importa de fato (fico um pouco encabulado, pretendia ser científico e direto e tudo que eu digo sai assim, nostálgico) é o que encontrei lá, atrás de uma das bancadas de livros. Se a arrastei, obviamente, é porque desconfiei das marcas no piso de madeira. Uma portinha de madeira, trancada por um cadeado ainda mais simples que ela, revelou-se por trás dos livros.

Não tive coragem de abri-la, confesso que por medo de me decepcionar com o pai. Ao invés disso, passei o resto de minhas semanas planejadas lendo os livros com as lombadas mais interessantes e dormindo bastante. Posso ser chamado de vagabundo e frívolo, mas não é bem o caso: cansei-me da vida, mas morrer já é demais. Não cito os autores que li pois não lembro muito bem; além disso, não quero me filiar explicitamente a nenhuma facção literária. Não combino bem com a militância política.

Pois que ao fim das semanas, trancando a porta do apartamento, percebo uma chavezinha logo ao lado da chave principal. Ignorara ela sempre, por pequena e inespecial demais. Naquela hora, no entanto, sabia o que era e até cogitei que aquilo era coisa do destino. Bobagem, já que a chave sempre estivera lá, mas fez sentido na hora. Segui até a portinha e destranquei o cadeado. Abri-a e entrei.

Peço desculpas pela elementaridade de minha descrição espacial, nunca soube fazer bem. Era um quartinho pequeno, um antigo banheiro. Seus azulejos azuis, intatos, lembravam porcelanas portuguesas. Rico, limpo, secreto. Havia um altar ao meio, iluminado por um painel de LEDs no teto, provavelmente aceso todo o tempo. Em cima dele, um relógio de bolso prateado e um pouco manchado de negro. A simplicidade significativa do lugar me levou diretamente ao relógio.

Nunca o havia visto, mas certamente pertencera a meu pai. Não sei, mas sei que sei. Toquei-o, esperando algo fantástico, ou talvez alguma lembrança evocada pelo tato. Nada. Encarei-o, em busca de detalhes ou algo assim. Em vão. Era um relógio plenamente normal, seus ponteiros fininhos marcando quase a hora certa. Os algarismos romanos, atemporais, ostentavam-se no pequenino. Os ponteiros não se moviam.

Tentei ajustar o horário na pequena rodela na parte de cima do relógio. Muito emperrada, demorei para adiantar um minuto sequer. Havia 15 minutos de diferença entre o tempo real e o tempo que o relógio indicava. Segui forçando as engrenagens, conquistando minuto a minuto os milímetros. Não precisava fazer tanta força, mas o mecanismo parecia voluntariamente negar meu avanço, retardo mecânico. Quando havia corrigido os 15 minutos de atraso, meu celular apontava um horário diferente, já 15 minutos depois.

Deixei-o novamente no altar, decepcionado. Sentei-me no chão, encarei o teto, senti-me só. Passaram-se 15 minutos, assim. Notei meu erro, grave: o relógio estaria, então, 30 minutos atrasado. Levantei-me de pronto e voltei a tentar corrigi-lo. Não sei quanto tempo passou assim, mas consegui manter os 30 minutos de atraso enquanto me mantive acordado. Exausto, acabei dormindo nos azulejos frios.

Acordei assustadíssimo, segurando fortemente o relógio junto ao meu peito. Chequei as horas e não soube dizer se estava 4 horas adiantado ou 8 horas atrasado. Fui para frente ou para trás no tempo? Passou o tempo sem que eu passasse o tempo. Haveria consequências maiores? Levantei-me apoiando no altar, que se revelou muito mais instável do que o esperado e caiu como caem os colossi. Quebrou-se em mil pedaços.

Encolhi-me com medo do golpe de cinto de meu pai. Não veio. Ele está morto. Cogitei lançar o relógio contra a parede, mas a curiosidade me impediu. O que aconteceria se eu esperasse até a hora certa e mantivesse o relógio sincronizado com a realidade? Talvez o tempo parasse, algo assim da teoria da relatividade. Não sei. Só sabia que eu não seria como meu pai, não passaria os dias passando o tempo enfurnado naquela salinha.

Saí, encostei a porta e lancei-me no sofá. Desenhei planos e esquemas até chegar ao perfeito. Com tanto dinheiro e posses, não foi nada complicado conseguir pessoas o suficiente para manter o relógio funcionando. Muitas delas, na verdade, se negam a receber qualquer dinheiro pela tarefa. Sentem-se bem adiantando o relógio, dizem, é como se o tempo dependesse delas. Malucas. Tivemos alguns problemas no começo, mas conseguimos manter a hora já há alguns anos.

Não sei se entendi bem sua mensagem, pai. Espero que lhe agrade.

domingo, outubro 24, 2010

nobreza

respirávamos hélio

quinta-feira, outubro 07, 2010

carta-aberta, resposta indireta, sim.

só existe na ausência, mesmo.
sentir falta é o tom.

não sei, assim você me deixa emocionado demais pra dar uma boa resposta, espertinha.

de repente transparência e não sei como lidar, ainda.

quinta-feira, setembro 23, 2010

sim, estou quase dormindo.

[você já sabe, vi seu nome e quis escrever e por enquanto é só seu, mas por enquanto]

não existe mais isso de oi e tchau, porque o cumprimentar não cumpre comprimentos, não aproxima nem distancia, isto é, é só uma régua. não me aponte o dedo nem diga que você já sabe como isso termina, que já conhece meu jeito de argumentar, meu gosto pelos gostos caros, sim, você está certa, mas isso não me torna de todo previsível, legível, superficial -- nos bons e maus sentidos. sim, sei muito bem que a originalidade não é meu forte, que vivo de repetição, que meu vocabulário e minha retórica são fracos, fraquinhos, e que você só deixa eu segurar sua mão porque sabe que é melhor balançar a cabeça do que não balançá-la. a pena é minha, e não sua, e você não deve tê-la de mim, nunca, ou então será ainda pior, mais postiço, unhas e dedos que se perderão numa infinidade de lugares comuns como seu braço e logo tudo que podemos imaginar, mas não é assim, não, a linha do raciocínio, você já sabe que não chegarei lá e que só falo isso porque estou bêbado de sono, de imenso de gordo, sujo, insossial. de fato, já vejo sua impaciência, sempre, seus olhos vibrando de terror de ficar aqui me ouvindo, mas só assim eu me acalmo e te deixo em paz, isto é, sim, sinto muita falta, sei que você dirá que já passou e que não sente nada e que provavelmente nunca sentiu nada, mas é mentira, eu sei muito bem que eu sabia como fazer gozar, como ter um orgasmo ridiculamente grande, do tamanho do mundo, do tamanho do tempo que ainda temos juntos, mas isso de oi e tchau não existe e eu já te disse muito mais vezes do que você imagina. se é assim, se você acha que é só encarar a folhinha de papel ou o vidro entre nós, fingir que não escuta ou, pior, fingir que escuta enquanto eu falo e falo e talvez logo eu chore, não, não é assim que você deve fazer, você transparece sua fraqueza, é óbvio demais que você sofre comigo e com o que eu digo, que isso não é brincadeira não, sinto muito, então sigamos em frente, você pode olhar para seus cadarços ou não olhar para nada e eu sei muito bem que não existe vidro entre nós e que não existe um telefone e que nos falamos frente a frente, que não existe nada entre nós a não ser a prisão, e, pra ser sincero, não sei nem mais se a prisão existe, se não inventei entre eu e você isso, se os filmes não me enganaram, não me fizeram acreditar em nada que não a verdade, porque quando vejo você e penso que poderia muito bem tocá-la e que mesmo na prisão isso é permitido, talvez principalmente na prisão, não sei, alguma coisa faz dor no estômago e minha cabeça roda, roda, roda e eu posso muito bem vomitar, mas não na sua frente, não agora, na hora do sol, do banho, do descanso, da visita, não. porque ficar preso a uma ideia é muito pior do que ficar preso pelos homens e, pra ser sincero, eu me sinto preso pelas ideias e não pelos homens e são só as ideias que me impedem de correr pelos campos e ser infeliz, digo, feliz, desse jeito burro, descompromissado, verdadeiro, isto é, enfim um homem do campo e não um homem da cidade. mas o mais importante é você, que está aqui e me encara e parece engolir suas unhas, se bem que não rói unhas, nunca roeu, enfim, mas sua mão na minha, mas isso não é cumplicidade, isso não pode ser pena, que é minha, não tenha pena de mim, nem piedade: confesso que fiz tudo que fiz e que estou disposto a provar que sou culpado até a minha morte.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Em busca da verdade.

Fernando Marcos Ítalo, o FMI,



hahaha

terça-feira, agosto 31, 2010

Henrique IV, filho do neto do imperador da Vila Leopoldina.

H. IV sorriu-se à pretendente, feliz da vida com a perspectiva de lhe lamber o pescocinho e de lhe cheirar a nuca, de lhe foder um pouco a vida (de um jeito bom e agradável, claro); far-lhe-ia imperatriz de seu coração, cargo imaginário que lhe renderia beijinhos mil de paga mensal, certamente, e mais todo o terreno vasto compreendido pelas extremidades do corpo de H. IV. Sussurrou-lhe ele:
 "Minha mão, meus pés, minha barriga e meu pênis e também todo o resto: tudo teu! Só precisas me aceitar como sou. Cederás teu ventre à minha patriarquia?", riram-se de seus trejeitos, ela. Nuvem indesmistificável, aliás, aqueles cabelos louros que lhe cobriam o pescoço e, às vezes, lhe franjeavam a testa. Tête à tête, ela lhe encarava com olhar perfurbador, cogitava se havia de fato alguma escolha em jogo, se aquele homem seria diferente de todos os outros. Ela pensava, mais ou menos, assim:
"Com H. IV ou não, algum dia eu morro. Nada é pra sempre... O outono é sempre igual".

As folhas caem no final.

domingo, agosto 22, 2010

eu erro, erro meu?

eu
erro
erro
meu
eu
erro
erro
eu
erro
meu
erro
é
eu
erro
meu
erro
é
eu
erro
é
meu

terça-feira, agosto 17, 2010

mais noitinhas dispersas sobre (fazer) cinema (asofismos).

engenho do engano, sempre, mas da mentira que faz sentir bem e que talvez até ensine (faça sentir?) alguma coisa
numa equipe também necessária, se não em quantidade, em intenção de apoio
os atores um pouco de lado, um pouco de outro, mas sempre centro
num movimento malemole que tem alguma direção
ainda que frágil como todo conceito que não precisa ser definido pra sempre
não precisa ser decupado, mas pode
não precisa ser ensaiado, mas pode
não precisa ser financiado, mas pode

dogma da falta de dogmas? vazio.

segunda-feira, agosto 02, 2010

rebeca retorna!

hoje eu sinto
como se como se como se como se
um pouco comovida
pelo pelo pelo pelo
cheiro do seu
cabelo

mas também  não é nada demais

sábado, julho 24, 2010

monólogo dos encontros infortuitos

a gente não sabe nunca nem pode saber o que se passa como funciona a cabeça das pessoas um dia ela o abraça e ele sorri mas talvez ela não goste de kant nem de skank e é possível que ela goste de outro jeito não como você porque ela e ele são dois e superfície e apertá-la junto e dizer que a ama pode existir só porque apertar junto é querer dizer amor mesmo que não haja amor é dizer porque o momento diz que deve ser dito mas só mas nada mais nada mas ou então o sorriso dela e tanta ternura em abraços a todos só que o que há nela o que há nele ela é vazia como uma abóbora ele se sente cheio como um toureiro cheio de si enquanto ela você é família enquanto ele é balada enquanto ela é balada enquanto numa noite é claro que eles se queiram um pouquinho mas o quê

sexta-feira, julho 02, 2010

Que foi?

nada, mãe, não tem nada de errado comigo
dorme, que tá tudo bem
que eu tô vestido e rico
e sorrindo e com uma puta mulher fantástica

com o horizonte todo meu
sem problema nem nada, nenhum
descansa por mim
brava e impávida com a louça
fazendo tintim
na sala, com o pessoal, a família
ou mesmo Swann, se quiser,

mas dorme
e me dá boa noite.

sexta-feira, junho 25, 2010

notas sobre um filme que poderia ter sido.

"o que tá acontecendo?"
disse, diante da fila enorme, lara
"parece que a atriz, a protagonista, está doente"
, uma voz solta no embolado de gente
"como assim? mas é um filme!"
burburinhozinho
"ela está doente!"
lara encara pèzinhos no chão
"mas é um filme! não importa se a atriz está doente!"
em roda alguns em torno dela
"não importa? o filme não existe sem ela!"
sobrancelha prum lado e proutro
"não é assim que funciona... ela já está no filme, irremediavelmente"
"isso é o que você acha"
"eles não vão deixar a gente entrar!"
"burra, burra, burra!"
laralari, laralará, que tal, que tal, como pode, o que fazer?
"malucos!"

segunda-feira, junho 14, 2010

Na dúvida...

na dúvida
ela soluça

quarta-feira, junho 09, 2010

Debaixo do edredom.

"O que você tá procurando? Não, isso é minha perna! E esse é meu braço, minha mão, meu rim... Não, aí não, não é assim! Para, Ludo, para! Que coisa, me responde: o que você quer aí? Já chega de brincadeira, essa sua mão que roça em tudo, cheia de mimimistérios e por aí fora! Não, Ludo, essa é minha bacia e isso faz cócegas! ... Ai!"

Ludovico achou a chave.

terça-feira, junho 01, 2010

Um tributo à narrativa, ou: chega de RPG, meninada.

Campo devastado pelas infindáveis guerras entre os reinos de Hixhel e Pan Lestwing, faixa de terra ingrata, ruína humana. De armadura prateada-reluzente e a experiência de milhares de combates e mortes pesando ainda sobre suas ombreiras, Jacques de Lacotédroi brandia sua Língua-de-Fogo, espada encantada com o poder flamejante, contra os infieis desarmados. Não havia nenhuma questão moral ou política para ele, fazia o que fazia para se tornar mais forte e rico, e se, naquele momento, atacava civis, era só porque seus verdadeiros adversários, fortemente armados e tremendamente treinados, escondiam-se em algum lugar. Eram covardes.

Jacques elevou sua espada acima de sua cabeça e da dele e, num só movimento, decapitou um jovem caído no chão, que arregalara os olhos quando o percebera se aproximando. A Língua-de-Fogo, em seu movimento descendente, carbonizava os ferimentos feitos por ela mesma: mortes limpas. O jovem não gritou. 73, calculou o guerreiro.

Jacques olhava ao redor quando percebeu um movimento suave por trás de uma pequena moita. Farejou no ar o medo de uma mãe que protegia seu filho. "Bem, mãe ou não, vai levar um bom golpe na nuca e fugir desse mundo horrível que não vale nada, mesmo", conjeturava durante a breve caminhada até lá. A Língua-de-Fogo pendurada na mão esquerda, como ensinam a fazer ao se aproximar de um leão.

"Pois saia daí de trás, mulher!", rugiu Jacques, preparando-se para o golpe de misericórdia. Levantou-se detrás da moita uma jovem morena, linda, vestida com belos panos coloridos que escondiam e revelavam tudo na medida certa. Seus olhos vermelhos e furiosos encaravam o guerreiro de tal forma que ele sentiu todo seu braço se paralisar, sua respiração repentinamente estacou. Jacques havia sonhado com aquela moça carregando em seus braços um bebê mestiço, todos os três sorrindo. De fato, havia um volume envolto em pano nas mãos da jovem.

"O que é isso?", tremulou a voz do guerreiro; a jovem, agora um pouco menos assustada, talvez até menos do que Jacques estava agora, ergueu lentamente o embrulho em suas mãos, mostrando o que havia lá: era um lindo bebê, embora nada mestiço. Jacques baixou a espada, lentamente, afinal, para que tudo aquilo? Para nada, não valia para nada.

A moça começou a balbuciar algo totalmente incompreensível, como para si mesma. Jacques largou de todo sua espada e, tomando coragem única em sua vida, aproximou-se da garota, tentando não se sentir patético, imundo, isto é, tentando fingir que não era ele mesmo. A moça lhe sorriu um sorriso pálido e lhe entregou seu filho. Jacques de Lacotédroi nunca se sentira verdadeiramente feliz como naquele momento. A jovem tornou a balbuciar algo, sua língua tremulante, seu lábio rápido, o rosto tenso de concentração. O bebê encarava o guerreiro com intensidade, seriíssimo.

Jacques de Lacotédroi ia se explicar, dizer que não entendia o que ela dizia e que sentia muito, muito, por tudo que fizera, mas num só átimo, antes de quaisquer explicações, o balbuciar se tornou gritar e o gritar se tornou uma gigantesca bola de fogo, conjurada pela jovem das chamas do Inferno, engolindo os três em uma explosão perfeitamente linda e brilhante.


Tamanha explosão mataria qualquer ser humano e, assim, lá estavam a mulher e o filho totalmente carbonizados e irreconhecíveis no chão; cheiro de queimado terrível. Jacques, no entanto, experiente na arte de matar e de evitar ser morto, cavaleiro de último nível, de potências épicas, estava lá, quase intato. Levantou-se com dificuldade, encarou a suicida no chão por um pouco de tempo. Deu de ombros, dirigiu-se até sua espada no chão.

A Língua-de-Fogo brilhava intensamente; absorvera parte da chama do derradeiro sacrifício e se tornara ainda mais poderosa, ainda mais... quente. Na verdade, Jacques podia sentir as almas da moça e do bebê presas naquele artefato, tornando-se força violenta e incontrolada. Espada em punho, partiu em direção ao horizonte.

Matou-se pulando de um penhasco.

segunda-feira, maio 24, 2010

Carta aberta:

E, por fim, para encerrar meu ponto de vista, já que é provável que você queira terminar a conversa por aqui:

Acho deliciosa a possibilidade de confundir palavra com poesia com conto com romance e o livro em que ele se inscreve com o filme com a película em que ele se desenha com a luz do projetor com o rosto do ator com o caderno na mão de Bresson anotando seus axiomas aforísticos com uma tarde feliz com uma tarde com pessoas felizes com meu pé no chão frio.

Aproximadamente.

Estágio bem-remunerado.

Procuro estagiários de bom humor e talento na escrita. Horário livre por 3 meses. Remuneração a combinar.

Obrigado,
Ricardo Miyada.
rmiyada@gmail.com

sábado, maio 15, 2010

eu digo por meus olhos que

uma linha reta que deixa de um lado um pouco mais escuro (creme com nuances cinzas jogando-se sobre), doutro puro pela luz do sol (que vem dissolvida pela distância da janela, mas forte, resistente, bonita em seu preenchimento), sintonizado com as outras cores quentinhas com impressão de gelado da sala que ocupa essa parede.
a porta posta sobre ela, marrom do tipo antigo, ideia de lustra-móveis; octógonos irregulares, curvos, isto é, adornos sérios e brilhantes, protegem a saída de casa.
uma pequena chavezinha sem chaveirinho colocada transversal permite ver o pedacinho de batente através de si... colocada assim, no contra-luz, é apenas máscara, dum tom bronze exagerado pela sombra.

não há nada a se dizer sobre a maçaneta.

terça-feira, maio 11, 2010

Exercício do primeiro ano colegial, agora repensado, escrito às cegas, sem combustível (descreva o abrir e o comer de um bombom).

a todos os professores que algum dia me cumprimentaram com esperança em nossos olhos.

Bem, Ricardo pega em minhas mãos a bolinha magenta, quase não pesa nada, joga-as para cima e a captura de novo e de novo. Fazem sempre barulho, a cada queda, mas ela não é tanto aquele clequechiiitchi que eu esperaria, ela a lança e aperta com firmeza, quase como se não existissem, o som foi só um tunque misturado com um xi, curtinho, instantâneo. Avaliamos o peso, não é quase nada, minha mão direita segurando uma aba, sua mão esquerda segura a outra. Puxamos, eles se abrem, rodando, deslizam... foi fabricado assim, para ser feito assim, sempre igual, se envoltando — o envólucro, porque envolve e desenvolve o lucro — em torno de mim.

Ricardo fareja. Noz, amendoim, chocolate, sabor repetido no cheiro, resquícios de leite de amendôas, xuxa, uma só mordida...  Nos adiantamos, ainda resta nos livrar de vez do plástico em volta, e sua mão arranca a bolinha do papel-plástico e eu o jogo no chão, foda-se, Ahnão, derretido de novo, meus dedos mindinho se encontra com o melecar todo, parece morno — Ricardo olha feio para Robertinho, que o vendera o dito bombom, que, como adivinhado antes, é um Sonho de Valsa imaginário, sem chei(r)o, nem me lembro direito se é mesmo o sonho de valsa ou se é a Sensação —, nada disso parecia atrás do alumínio barato, nananão. Filhos da puta, mas não era bem isso, ele lambe seus dedos e percebe que agora é a outra mão que se sujará.

Besteira! Num átimo, tudo dentro da boca, enfiado, chega do cheiro de nós, amendoim, chocolate! Nada que não, pois temos que engolir-lhes tudo, mas antes terminar de desmanchá-lo na boca, esperando-nos despir o rio. Macieza. Meus dentes raspam a casca, arrepiamos as nuca e AH, OS PRAZERES QUÍMICOS DO CHOCOLATE, o wafer começa a querer amolecê e com jeito tu vai lá e racha-o, até com gentileza, e tu pega sua língua e Ricardo separa ambas as partes: esfera crocante, com gosto de jamaicanos nus, e pasta de amendoim endurecida, que parece seleção de futebol, dadinhos. Dissolve-se de um lado, tritura-se do outro:

Sabores que se entretemos. Quermesse: meloso, riozinho de lava torradinha, aroma por dentro da narina, delícia infantil: a gente engole mais a infância que o bombom. Tem uns caras que tu tão tocando trompete no fundo e derrepente você lembra onde que você tava, é uma quermesse e toca jazz, cool pra caramba. Ainda gruda na garganta.

Talvez eles tenham balas de cocos, falou Ricardo para a gente mesmo. Não sei, na real.

terça-feira, abril 27, 2010

Masculino versus feminino.

Pacotinho de papel de seda"o que é?"é só um presentinho"de quê?"pra você"por quê?"eu quis"Olham-se desconfiados"ok."sorrimos e então (num átimo!)

olhos cruzados nos olhos (um olhar vê o outro olhar, não se trata do fundo da alma ou coisa assim; apenas linhas que se enamoram)
ele
rasga
o papel de seda
dela

"caixinha bonita"agora é sua"e dentro?"tem ar"só ar?"você pode colocar outra coisa, também"legal."
    

domingo, abril 25, 2010

Parede rosa, estante colorida!

O how many books in front of me
like, you know,
they make me smile and sneeze
so happy I am i've read them
and've learnt how to think like them

it's just like eschistosomosis (is this right?)

I mean... why not?

If only they werent so dusty, damn them.



i mean

they make bad for me lungs
and
e
english facilities

turn right and you are there

follow my footprints, they are written, they are massive, they are pretty more Adornistic than Godlessnistic as if Swift was still alive, holding his guts against a crazy-eyed iron Man fighting Sysyphus once again.

because

its so

it's soul

them

confuse for me having to write this while being so so below them

those books
lurking at me
not knowing that I cant' even

really


undertand what they are talking about
and in which language
they try to speak to us

no europe im fine with europe

cortázar and rosa on the sameless self
shame shelf





o poor ghost
i dont know
anymore
if I am taking you to the Ball

or if I'm gonna bring the fucking ball to you.

terça-feira, abril 20, 2010

foi promessa de vida no teu coração.

pau, pedra, fim, caminho
foi peixe, foi gesto, foi prata brilhando
foi noite, foi morte, foi laço, foi anzol
foi belo horizonte, foi febre terçã
foi espinho na mão, foi corte no pé
caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol
foi estrepe, foi prego, foi ponta, foi ponto
foi ave no céu, foi ave no chão

foram águas de março fechando a versão.

domingo, abril 18, 2010

Por um buraco no chão.

É por uma frestinha no chão
que vejo sorrir
o teu [adivinha só]

segunda-feira, abril 12, 2010

¿Deve ser, não é?

De repente, pode ser que ela não seja culpada de nada e que isso seja totalmente falso e burro, enfim, que condená-la signifique justamente o oposto da justiça. Me parece que ela, sim, assassinou o sujeito com frieza, cálculo, nostalgia e dor, um bastão de beisebol (coisa muito rara, aqui, e veja só, digitais de sua mão na arma do crime), e que não houve mesmo motivo algum para o homícidio.

Aleatoriedade (autoridade dos dados), alearquia apolítica num suingue de madeira na cabeça do sujeito, ora bola. Por que não? Ainda assim...
Algo não gruda. Certamente, a ideologia da menina é uma bombarrelógio: não crê em nada, não gosta de nada, não espera a felicidade, gosta de gatos mais do que de cachorros, enfim, todatoda questionadora e por aí vai. Mas ela sorri _ eu a vi rindo pelos corredores _ e ela chora _ e a vi chorando pelos corredores _ demasiadamente gentil, demasiada gente, bela, frágil, incapaz de matar-sem-se-importar.

Preconceito meu, ê üm. É, sim. Ela sentada lá, e eu sei que as provas todas apontam para ela e que há até uma quase-testemunha, que quase-viu alguma coisa. Nenhuma chance dela ser inocente. Ela não nega nada, chega. Também, não sou eu quem deve julgar as pessoas, eu apenas acuso e pronto.

De repente, pode ser que ela seja culpada, não é? E aí vai ser bem feito que a estuprem e a enfiem num miolo de pão esmagado pelo pé do Dianho, o Sujo Iluminado, que nem ela, eim. Sei lá, comichões, também, mas meu corpo não sabe de nada e não vou dizer que acredito que a gente consiga prever as coisas assim, numa boa, só com uma coceirinha na nuca.

Nada disso, não, não. Ela é linda e perfeita e é talvez mais culpada do que qualquer outra pessoa que já passou por aqui. A superfície pura só torna mais óbvio, pra quem entende dessas coisas, que ela é podre, cheia de bichos estranhos em suas entranhas. Ideias esquisitas.
Sai pra lá e morre de uma vez.

quarta-feira, abril 07, 2010

Os Famosos e os Duendes da Morte (resenha crítica em sofismas).

Esmir Filho da Puta chega chegando e faz uma coisa assim, como pode, Novo Cinema Independente Alemão Brasileiro? Hochhäusler e Petzold, mais publicitário, sim, com certeza, mas, ainda assim... Mais jovem, efetivamente.

O À Deriva que deu certo.

Filmexplosão no inusitado. Que cinema brasileiro é esse? De onde veio com que antecedente? Não é possível, porque... Nada de Espalhadas pelo ar, cruz credo, não é esse nível de diafania.

Fotografia friamente difusa desfocada curta, linda (a garota), lindo, mas a beleza a estetização é a melancolia do lugar do espaço, é o que torna possível.


Tátil mesmo são os vídeos da Tuane.



O choque vem aos poucos, mas é isso é Cinema e é o melhor de brasileiro que minha memória deixa pensar dos últimos anos.

Filhos da puta, arre.






nota: a cena com os velhinhos é ridícula.

terça-feira, março 30, 2010

UM MENINO LEVOU UMA BOFETADA NA ORELHA.

um menino levou uma bofetada na orelha, ai que dor, pensou por dentro, por fora, nada

mesmo assim, enfiaram-nu no lixo logo em seguida.

sexta-feira, março 26, 2010

Um texto muito sério disfarçado de mais um que foi facilmente influenciado pelo livro A Metamorfose, de F. Kafka.

(anotações sobre parte de uma viagem onírica não-ocorrida)
Acordei e senti minhas costas doendo e meu pescoço rígido; soube, pois, que havia me transformado em uma Barata e que meus dentes não estavam tão bem escovados quanto era de se esperar de uma madrugada. Tentei me levantar e não tentei, porque tinha muita preguiça, e então minha namorada (daqui para sempre será chamada A Ruiva, ou, vez em quando, ela) continuava dormindo, por isso eu não a incomodei e tentei voltar ao sono; não voltava o sono, me virei pra ela e sorri, porque ela vestia a minha camisola preferida.
Antes que me entendam mal, eu não uso e nunca usei uma camisola. Durmo sempre com uma camiseta velha e uma calça velha: repito a calça durante duas semanas e a camiseta por 2 dias e meio, aproximadamente. A camisola era d’A Ruiva e ficava muito melhor nela do que em mim (suponho).
Acho que caí um pouco no sono, mas talvez ela tenha aberto os olhos uma hora e visto meu rosto e ficado muito-muito afetada, porque ela gritou e desmaiou e não sei direito, porque não acordei; dormia e foi assim que acabou minha única madrugada metamorfoseado em Barata, não foi tão mal quanto vocês podem imaginar.
***
Ufa, acordei e já não era mais uma barata e nem um inseto. Minha barba pinicava, quem se importa, pelo menos eu tinha 4 pernas, como sempre, e A Ruiva não estava mais deitada a meu lado, quem se importa, ela sempre acorda mais cedo e vai comer alguma coisa. Nunca fez café para mim.
Escovei meus dentes, lavei o rosto (um pouco) e cambaleei até a cozinha, A Ruiva encarava uma xícara de café e levava os cabelos ao lado do rosto bem bonitos, pena que sempre tome banho e penteie antes de sair. Fica igual a todas as outras mulheres sérias que trabalham, mais ou menos do mesmo jeito que eu sou igual a todos os outros homens sérios que trabalhavam.
Oi, bom dia, Ruiva.”
Ela assoprou o café e continuou o encarando e eu alonguei minhas costas e meu pescoço e bocejei muito pra ver se chamava a atenção dela. Beijei no pescoço detrás e ela abaixou mais a cabeça, assim eu beijei mais e mais até que ela virou o rosto meio de lado pra mim e me olhou nos olhos e aí eu percebi que A Ruiva não estava a fim.
Acordou de pé esquerdo, foi?”
A Ruiva disse: “Tu não me olha assim que eu não suporto”.
Triste, tão triste tão cedo e por quê? Peguei o café dela (ela nunca fez café pra mim), me sentei em frente dela e mergulhei algumas bolachinhas doces. Foi bom, apesar de ser café solúvel, enfim, não somos ricos.
Isso tudo só porque eu virei Barata durante a noite?”
Tossi e limpei meu nariz numa toalha de papel. Senti vontade de tomar suco e fiquei um pouco mal por nunca termos suco de manhã, mastiguei uma bolacha a seco. A Ruiva continuava mirando o lugar que tinha antes a xícara de café, as mãos dela ao lado do pires. Seu relógio (não dizia nada) apontava 7 horas e 15, por isso não me surpreendi quando se levantou e falou que precisava tomar banho e se arrumar.
Eu posso te levar no trabalho, eu não tenho nada pra fazer, mesmo”.
A Ruiva colocou todas as coisas na pia e deslizou para o banheiro.
***
Se isso fosse um filme, mostraria A Ruiva tirando a camisola e entrando sob o jato de água bem quente, ela levanta o rosto e molha seus cabelos e fecha os olhos suavemente enquanto passa as mãos pelo rosto e pelo cabelo. Os ombros também recebem água, as costas também, (dependendo do filme, até a bunda) e os pezinhos perto do ralo. Se fosse um filme americano clássico, o ralo teria uma significação de escoamento da vida, e então alguém surgiria por trás da cortina do Box e talvez se insinuasse de leve os peitos dela ou algo assim; este é um texto brasileiro e poderia muito bem ser apenas um filme brasileiro, e aí o ralo indica a posição social dos personagens e os peitos dela são mostrados agora, quando ela sai para se secar e absolutamente nada de diferente aconteceu na cena inteira. É tão bonito mostrar as mulheres tomando banho!
***
Troquei minha roupa por uma coisa mais certa para o lado de fora, peguei a chave do carro e fiquei na frente da porta do banheiro a coçar minha barba. Que canseira! Mmm, sentei no chão e comecei a cantar uma cantiga chinesa que eu aprendi com um amigo que fazia Caratê, assim:
Ê tsum pararara! Ô corum ritoráná! Maxuquê, ratatatá! Icudeiô atamá tentem!”
A Ruiva sempre gritava comigo quando eu fazia esse tipo de coisa, então eu estranhei que o barulho do chuveiro continuasse sozinho e ela quieta muito. Me dá um pouco de pena perceber como tem gente sem cultura nesse mundo, intolerante com as manifestações dos outros totalmente... Mas ela é linda e eu nunca encontrei alguém que tivesse tanta certeza das coisas quanto ela.
O chuveiro parou e eu levantei as orelhas, pronto pra pular em cima dela e morrendo de vontade de fazer xixi. Foi então que eu percebi que nunca mais a veria novamente, que aquela fora a minha despedida e Adeus aos cafezinhos gostosos que ela nunca fez para mim, Adeus às massagens de uma só mão e aos deliciosos Bolos de Cenoura. Me senti muito mal por isso, levantei e fui embora daquela casa, mas que diabo (tranquei a porta, por via das dúvidas)!
***
Consegui um emprego naquela tarde num bar-sinuca do centro da cidade. Meu objetivo é perder para os jovens arrogantes que aparecem por aqui e deixá-los eufóricos e acabar fazendo eles gastarem tudo na bebida ou perderem pra um dos caras contratados pra ganhar dos jovens arrogantes que aparecem por lá. Uma das coisas mais divertidas que eu já fiz na vida, é quase como lutar boxe profissionalmente e ter que se envolver com a Máfia e Rocky, não sei.
No fim da noite, me deixaram tomar o resto da cerveja nas latinhas e acho que nunca tinha bebido tanto na minha vida, porque foi a primeira vez que eu dormi no volante. Ainda bem que o carro era treinado; acordei na frente de casa, com o rádio ligado e tudo.
A porta tava trancada, como eu tinha deixado e assim vai. Que bom, que bom.
***
A Ruiva disse: “Porra! Aonde você se meteu esse tempo todo? Você me deixou trancada aqui e eu não tinha o que fazer e meu chefe já tá maluco comigo e você vai só ver o que vai acontecer e quero ver quem vai botar comidinha na sua boca daqui pra diante...!”.
Não tem problema, Ruiva, eu arranjei um emprego bom.”
A Ruiva disse: “Porra! Emprego? Aonde você se meteu? Você me deixou trancada aqui e eu não tinha o que fazer...!”.
Desculpa, eu achei que você tinha pulado pela janela do banheiro e fugido, aí não queria ficar que nem um tonto esperando você enquanto você corria por aí.”
A Ruiva disse: “Porra!”.
***
A Ruiva dormiu de costas pra mim essa noite. Tudo bem, ela ronca.

quarta-feira, março 17, 2010

cansei de olhar para o sol e só ver o vermelho de minhas pálpebras

arrogante, sim
pequena, sim
bonita, sim
todos itens pra explosão

mas não há explosão
mas não há explosão

mas não há em plutão
nós não somos nada

sexta-feira, março 12, 2010

Vocês hão de escrever assim:

Enquanto durou, foi duro
agora que foi, moleceu as ideia.

pena.

quinta-feira, março 11, 2010

A solidão do projeto¹.

Você pode me chamar de covarde, mas a única coisa que me salva essa vida contra o mundo é poder de vez em quando me recolher em uma cabana chamada projeto pessoal e entrar numa busca por algo que me interessa mais do que a qualquer outra pessoa, talvez só a mim.

É por isso que mato dragões.






1. Título retirado do seguinte texto: http://projetosnatemporada.org/eventos/arte-projeto/groys/solidao-do-projeto/

domingo, fevereiro 28, 2010

Aquecimento: Rebeca e Gustavo.

"Não sei, não, acho que é só frio."
"Toma a minha blusa..."
"Obrigada."
beira-de-praia em recife, julho
"Passou?"
"Acho que sim, mas tem um apertado aqui."
"Pelo menos ainda é cedo, né?"
"Por enquanto, é."
o horizonte não diz muita coisa, mas dizem que ele diz e fica assim o dito pelo não dito.
"O que você pretende fazer?"
"Com a música?"
"É..."
"Mais rock, acho, e mais um pouco de MPB, não sei."
"Só?"
"E vocês vêm pra frente do palco, comigo."
"E fica só com seus cachorros?"
" (ri, leve, bem leve) Sim, essa é a ideia."
boba, bobagem, isso não dura nada e adeus, tchau-tchau, passei e não deixei nada.
"Pode ser."

domingo, fevereiro 21, 2010

Show'er song!

I'm half japanese
that's why I half speak
japanese
japanese

I'm half portuguese
that's why I do speak
brazilian portuguese
brazilian portuguese

I'm totally globalized
I'm totally globalized
that's why I speak americanese
that's why I speak americanese

| but my love                   |
| o my love                     | x2
| she speaks with her tongue    |
| she kills with her tongue     |

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

sexto autoconhecimento.

Falando com uma amiga sobre como eu me sinto quando sinto o vácuo criativo, disse que minhas crises eram cíclicas, isto é...

Caramba, como fico enfadado só de começar a escrever. Imagino se alguém tentar ler. Canso, de forma que só vou falar sobre a fase atual:

- Chega então o momento em que minha vontade é de fazer coisas (textos vídeos etc) muito ruins e sem levar a sério absolutamente, então jogo toda a merda no ventilador e pronto, e essa fase é seguida por outra em que eu olho isso tudo e falo:

"Uau, bela merda".

egomanias (acaba aqui a série.)

terça-feira, fevereiro 16, 2010

autocon(strange)hecimento, 5:

Você diz que não gosta de meu autoconhecimento. É certo que pode haver duas (e mais) interpretações de sua afirmação, isto é:

- você, de fato, literalmente, não gosta de meu autoconhecimento, ou seja, o fato de eu conhecer minhas limitações e minhas potências e meus credos etc;

(contrargumento: é impossível afirmar isso, já que posso estar mentindo ou estar enganado; não me conheço muito bem e esta tentativa obviamente é a prova disso)

- você não gosta de minha série intitulada "autoconhecimento", provavelmente por parecer falsa ou por ser sinceramente constrangedora e assassina de qualquer forma de literatura.

(contrargumento:)

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

autoconhecimento quarto:












Meus estudos em fotografia
dão passos tímidos em
direção a não sei bem o quê.
Vejo as fotos de muitos
contemporâneos meus, de
minha idade, de minha
cidade e acho coisas bonitas,
mas...
É engraçado notar os vícios
de estilo, as repetições
características da década.
O contraste, por exemplo,
gritando "eu-sou-digital!";
a distorção das cores das
sombras, o white balance
ligeiramente errado, para
tentar ser postiçamente
polaroide. Ou algo assim. E,
claro, os autorretratos. Esse
aí acima sou eu e minha
janela da sala, ambos nós
2 refletidos em minha tele-
visão.

Atrás está São Paulo.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

autoconhecimento 3:


meu dedim
fica assim
levantadim
por ser mais fraquim
que seus irmãozim.

autoconhecimento dois:

Estava tentando escrever sobre o que acredito (falo sobre Deus ou deus ou deuses ou qualquer coisa assim), buscando uma ajudinha na wikipédia. Me enfadei com sua taxonomia típica, com os milhares de agnosticismos possíveis e sua separação imbecil (embora divertida).

Desisti logo de me encaixar em um deles, embora tenha me divertido os textinhos que tentam exemplificar cada um dos tipos de agnósticos. Pois bem, acho que eu diria assim:

"Não sei se Deus ou deus ou deuses existem e escolhi cedo em minha vida que não me importaria com isso. Confesso que meus princípios ético-morais (sem polemizar sobre o uso da palavra, por favor) são fortemente influenciados por valores cristãos (óbvio), misturado com esses ares modernos e com toda forma de liberalidade. Não havendo Deus ou deus ou deuses, viver ignorando-os não me fará mal, a não ser pela falta de amparo e de esperança que podem vir daí; havendo Deus, espero que não seja essa criatura mesquinha e com crenças tão diferentes das minhas que está desenhado na Bíblia; havendo deus, não tenho a menor intenção de saber o que eles desejariam de mim, de forma que é indiferente; havendo deuses, a confusão só aumenta.

Desconfio do Homem e tenho quase certeza que é mentira, que se houver algo (e não acho que haja, a bem da verdade) é intangível para mim e totalmente distinto de Deus. Não me importa".

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

autoconhecimento 1:

Gritei para a cozinha: já vorto!

Ora só, como assim já vorto? de onde veio esse érre aí, que não tem razão de ser?

Percebi algumas vezes nesses dias: principalmente falando com meu pai, adiciono esses deslizes interioranos à minha fala. É difícil exemplificar, porque é muito pouco consciente, mas há o sempre presente "uai" e o feio "pobrema", que me peguei dizendo à minha mãe anteontem.

Foi só anteontem que notei o quanto meu pai deixa transparecer Penápolis no jeito que fala, em algumas expressões e mesmo num certo sotaque. Ele disse, no carro, alguma coisa que terminou com "sô!". Poderia ser, mas não foi, "comida salgada, sô!". Certamente, está aí também a origem desse meu falar

(embora "uai" tenha surgido de forma postiça, vindo primeiro da escrita (em comunicadores instantâneos) para enfim chegar à fala. É o caso, também, do "arre" e de mais uma pancada de coisas).

Em janeiro do ano passado, em Córrego Fundo - MG, uma moça que também participava da Jornada Científica (fui lá apenas para gravar cenas do trabalho voluntário do pessoal da turma de Farmácia) perguntou a mim:

"De onde você vem? Seu sotaque é engraçado, esquisito, nunca ouvi nada assim. Você é do interior?".

Ri, achei esquisito e devo ter desconversado logo. Meus pés nasceram fincados em São Paulo - São Paulo, de forma que...

Acho que tenho uma resposta. Sempre fui pessoa bastante esponjosa e influenciável pela maneira que os outros dizem o que tem pra falar. Na minha fala, há o interior, sim, mas também há os cacoetes que roubo de meus amigos (e que me roubam de volta), há a influência absurda dos livros e do modo como escrevem os autores verdadeiros e eu, há meus narizes sempre entupidos, há o próprio interlocutor.

Suspiro.

Algumas influências duram muito pouco tempo.

Queria ter ficado mais recifense.