Gritei para a cozinha: já vorto!
Ora só, como assim já vorto? de onde veio esse érre aí, que não tem razão de ser?
Percebi algumas vezes nesses dias: principalmente falando com meu pai, adiciono esses deslizes interioranos à minha fala. É difícil exemplificar, porque é muito pouco consciente, mas há o sempre presente "uai" e o feio "pobrema", que me peguei dizendo à minha mãe anteontem.
Foi só anteontem que notei o quanto meu pai deixa transparecer Penápolis no jeito que fala, em algumas expressões e mesmo num certo sotaque. Ele disse, no carro, alguma coisa que terminou com "sô!". Poderia ser, mas não foi, "comida salgada, sô!". Certamente, está aí também a origem desse meu falar
(embora "uai" tenha surgido de forma postiça, vindo primeiro da escrita (em comunicadores instantâneos) para enfim chegar à fala. É o caso, também, do "arre" e de mais uma pancada de coisas).
Em janeiro do ano passado, em Córrego Fundo - MG, uma moça que também participava da Jornada Científica (fui lá apenas para gravar cenas do trabalho voluntário do pessoal da turma de Farmácia) perguntou a mim:
"De onde você vem? Seu sotaque é engraçado, esquisito, nunca ouvi nada assim. Você é do interior?".
Ri, achei esquisito e devo ter desconversado logo. Meus pés nasceram fincados em São Paulo - São Paulo, de forma que...
Acho que tenho uma resposta. Sempre fui pessoa bastante esponjosa e influenciável pela maneira que os outros dizem o que tem pra falar. Na minha fala, há o interior, sim, mas também há os cacoetes que roubo de meus amigos (e que me roubam de volta), há a influência absurda dos livros e do modo como escrevem os autores verdadeiros e eu, há meus narizes sempre entupidos, há o próprio interlocutor.
Suspiro.
Algumas influências duram muito pouco tempo.
Queria ter ficado mais recifense.