Prometo tornar-me invisível como o que não se vê quando não se quer ver (um mendigo, quase).
Enfrento uma maré de falta de maré, isto é, a tempestade já foi?
Não sei a cor de minha cueca nem a cor dos olhos dela.
Enquanto isso, eles roncam no quarto e meu estômago grita de dor e de solidão (muito, muito sólido).
regeneração afetiva.
se tudo der certo criarei uma grife de máquinas de passar roupa neste verão
a estrada a praia os caminhos e as estradas e as rodovias o pedágio tudo os caminho tudo os tempo que eu passo esperando são longos e longos
a ponto de eu me pergunta Será que a vida é só espera???
então eu digo Que venha o ano novo!!!
ai ai será que dá pra sentir a dô no que eu tô falando?
será que serão fogos de ARTIFÍCIO????
será que o patético é o novo patético??????
feliz, ano, novo.
quarta-feira, dezembro 29, 2010
quarta-feira, dezembro 08, 2010
autoficções, 3 partes.
ALMOÇO em 3 partes e aproximadamente 7 janelas
primeira parte: retrospectiva
ALMOÇO em 3 partes e aproximadamente 7 janelas é um projeto que veio se desenhando neste semestre, a princípio como ideia formalmente desvinculada do curso de Estética e Teoria do CTR. Realizo ocasionalmente – assim como alguns amigos meus – pequenos vídeos para a Internet. ALMOÇO serviria como reflexão de nossa própria produção e como mais uma hipótese de alternativa ao fazer imagens padrão que nos é normalmente imposto no curso superior do audiovisual.
Como brincadeira baseada no filme The five obstructions (Lars Von Trier e Jørgen Leth, 2003), analisei a produção para Internet de meu colega Henrique Chiurciu e achei alguns pontos fundamentais para sua produção: autoficção, enquadramentos fixos, “câmera-olho” – projeto de vídeos “de seu ponto de vista” que ele estava tentando acertar –, auto-mise-en-scène, predomínio de cores quentes. Tendo essas características em mãos, comecei a bolar um vídeo que as usasse como normas, obstruções. Surgiu a premissa do ALMOÇO – a princípio, corruptela de seu vídeo JANTAR. Como vários outros projetos informais, foi para a geladeira.
Quando surgiu a possibilidade de criar um vídeo que, de alguma forma, trouxesse em si questões desenvolvidas no curso de estética e teoria, resolvi levar o projeto adiante, tentando esmiuçar, para mim, o que há de discurso nele e o que é refletido por ele. Assim, após cuidadoso e longo processo de gestação do projeto, apresento uma versão quase final desse pequeno vídeo. Alguns desalinhamentos na movimentação e na imagem persistem; infelizmente, o processo de feitura do filme exige muito tempo de minuciosa pós-produção, coisa rara em fim de semestre.
segunda parte: o que está em jogo?
ALMOÇO realiza-se na reflexão de diferentes formas audiovisuais, mas não explicita nem tenta definir objetivamente o que está em jogo. Seu diálogo com questões e conceitualizações estéticas precisa se dar, portanto, na análise da obra – talvez a análise do próprio autor não seja muito válida, mas é preciso explicitar intenções.
O ponto central do vídeo é a montagem por incrustação, isto é, por “mixagem” de diferentes imagens em diferentes camadas. A imagem que representa* a minha visão toma grosseiramente – as relações de proporção se modificam no decorrer do vídeo – o lugar de minha cabeça e se move comigo. Assim, a “decupagem” das ações se dá principalmente na visão do espectador, que se alterna, incitado pela mise-en-scène, entre observador distante e “agente da passiva”. Dentro do quadro maior, a videohead expande o campo e ressignifica os espaços fora de quadro ou “atrás” e “na frente” dele. Um pouco como as primeiras vídeo-artes vistas em aula, ALMOÇO tem como pontapé inicial a possibilidade técnica digital de compor livremente a imagem.
As duas imagens têm características bastante distintas. O quadro maior, plano geral ligeiramente desfocado, em contraluz de cores quentes, quase frontal – uma leve angulação causa certo desconforto ao frustrar nossas vontades geometrizantes – com abertura e tempo de exposição fixos e câmera no tripé, representa principalmente a visão óptica, em profundidade, e delimita, a princípio, nosso campo. Os limites de quadro representam também os limites da cozinha imaginária, e há uma tendência centrípeta em sua composição. A teatralidade do espaço é enfatizada pelo entrar em cena da personagem no início do filme.
O quadro menor, captado com uma pequena câmera de celular presa em meu rosto – curiosamente, a lente estava em meu nariz, e não entre meus olhos –, é móvel, nítido, ainda que muitas vezes bastante pequeno, com todos os ajustes de cor e contraste automáticos, tendendo para as cores frias. Sua movimentação, apesar de muitas vezes imprevisível, não é desorganizada nem aleatória: há claramente uma atuação no olhar. Embora a imagem seja apenas uma representação de minha visão, a câmera estava efetivamente presa ao meu rosto, de forma que ver tornou-se um gesto de mostrar, isto é, uma visão háptica em sua própria confecção. Mover o rosto significa mover a máscara sobre o mundo.
ALMOÇO estrutura-se, de forma bastante simples, em três partes, delimitadas por dois cortes: a apresentação, parte mais longa, em que se mostra a ação, o espaço e a forma básica do vídeo; uma parte intermediária curta, em que as características se mantêm basicamente as mesmas, que funciona como elipse temporal do processo; uma conclusão da ação e uma espécie de explicitação metalinguística do modo de fazer e das “aproximadamente 7 janelas do título”. Mostrar a câmera parte da postura de não tornar o método simplesmente ilusionismo e efeito, explicita-se que se discutem olhares e modos de fazer imagem. A videohead precisa ficar imóvel, no fim, para dar conta do fora-de-quadro. Assim, revela-se rapidamente a câmera em meu rosto – que já podia ser vista em alguns momentos nos reflexos do fogão – e cria-se uma composição das janelas ao fundo com a janela da videohead com a janela da televisão com a janela do quadro maior. Metáfora do enquadramento como máscara, abismo do ver.
A opção de estruturá-lo assim (montagem tradicional, temporal, em oposição à mixagem de imagens) se deu principalmente para reduzir o tempo do vídeo ao tempo máximo exigido pelo trabalho** e para criar uma unidade mais concisa e mais apta à forma do filme-ensaio para a Internet do que da vídeo-instalação de 20 minutos que formaria o vídeo sem cortes.
O subtítulo em 3 partes e aproximadamente 7 janelas, escolhido após o processo de montagem, serve como provocação ao espectador, para que ele busque – e provavelmente encontre – essas 3 partes, tentando dar significações a elas; mais importante, evidenciar as janelas no título e dar um número relativamente arbitrário a elas (poderiam ser 4 ou qualquer outro número, dependendo do critério adotado) dá margem para que o espectador “descubra” as janelas do filme, cogite, por exemplo, se os reflexos nas geladeiras são também outro ponto de vista, outra inserção sobre a imagem.
terceira parte: por quê? porquês
Mais difícil que identificar os elementos presentes numa obra, é entender por que fazê-la. ALMOÇO é uma hipótese de linguagem – apoiando-se na ideia de que não há uma linguagem propriamente videográfica, mas sim possibilidades características que permitem que nasçam outras gramáticas; proponho algo similar com o digital: vale tudo o que for possível –, é mais um passo meu na tentativa de entender o autofilmar-se típico da Internet, da investigação da autoficção documental, de um rascunho de um (outro) cinema possível.
Talvez o mais feliz, neste vídeo, é que ele seja um ensaio aberto sobre as possibilidades do audiovisual, que tenha algum frescor, a meu ver, não-gratuito. Fico com a hipótese de que se fazer imagem e fazer imagem, cada vez mais, se aproximam, e de que isso talvez seja o ponto mais importante do audiovisual na/da Internet, neste momento.
* É essencial que a imagem seja apenas representação de minha visão, isto é, que a substitua e exista em seu lugar, sem “desaparecer” como imagem. Certo distanciamento por parte do espectador é bem vindo, por isso a proporção retangular vertical da tela, em oposição ao retângulo horizontal mais próximo de nosso raio de visão.
** Obstrução mais ou menos acatada, já que o vídeo tem pouco menos de 7 minutos. Sentir o tempo da ação, para mim, era essencial.
adendo: links de interesse
Trecho de The five obstructions: http://www.youtube.com/watch?v=KfkT0ouIJ-4
Brief Encounter (Tom Jantol, 2009): http://vimeo.com/album/226174/video/6224735
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