se é apenas natural pensar na morte, é pelo menos necessário decidir como fazê-lo (começa aí a ilusão, é possível decidir como pensamos? a mentira é responder sim ou responder não?), qual será nossa morte, quando, como, por quê?
nesse sentido, ao menos é possível
ficcionalizar a morte, para, assim, torná-la nossa.
hipótese: talvez seja assim que opera o homem absurdo.
o homem absurdo vive pois já viveu sua própria morte fictícia milhões de vezes. ele já a
considerou. ter consideração pela morte é uma das formas de conquistá-la (sem engano, ela nos conquistará em algum momento, mas mesmo essa conquista pode estar sob nosso controle... ao menos ficcionalmente).
um retrato da morte, uma morte
invocada por nós, pelo homem absurdo que, por definição, já está morto. o suicídio não é uma opção, pois o homem absurdo já se
considera morto.
assim como um mineral é morto, assim como os átomos são mortos, assim como os elétrons, os prótons e tudo aquilo que não me importa é morto, embora pleno em movimento. a partir de um momento, a vida é só dizer que sim, a coisa está viva.
o que está vivo? nada.