domingo, outubro 22, 2006

Ninguém mais acredita n'Ele.

Era uma vez um homem com problemas de expressão. Ele era muito desenvoltado, muito do falador, do careteador, do expressionador. Mas era um palhaço, no fim das contas, já que só falava quando não precisava, e careteava e expressionava.

Quando realmente havia carecimento, apenas abria e fechava a boca, aflito. Mas era óbvio que não deixaria o aflitismo transparecer-se, então simplesmente abaixava a cabeça, abaixava a cabeça.

Sussurrava palavras surdas.

Ouvia palavras mudas.

"Como interpretar? Por que interpretar? O que dizer, como, como, ridículo!"

E assim passaram-se oportunidades a rodo. Sentia-se ardendo de querer poder mostrar que quer poder o tempo todo. Era muito famoso por não conseguir demonstrar o que queria poder demonstrar, e assim foi durante muito tempo, até que percebeu que as pessoas talvez já tivessem esquecido de tudo e achassem que ele estava simplesmente normal, que não havia mais ardor interno.

Faltava burburinho externo.

Faltava a água para avisar que o ar fugia blumbilhante pelo furo do pneu. "Mas qualquer um que se interessasse realmente pelo andar da carruagem perceberia muito facilmente que o pneu já está até murcho demais!", diria ele.

Talvez, talvez.

Mas ninguém liga. O pneu-menino não está incomodando, já que a carruagem está, infelizmente, parada.

3 comentários:

  1. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidencia?

    (blumbilhante- da onde surgiu isso?)

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  2. é pro leitor pensar que é o sujeito do texto?

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  3. é pro leitor pensar que é o sujeito do texto? (2)



    ah,um dos seus melhores textos.

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