Ele a saudou com um beijo na boca, enquanto deslizava sua mão pelas costas, pela cintura e por aí.
- É o melhor texto que já escrevi - Ele levantou a mão com que cariciava o corpo d'Ela, e havia duas folhas de papel em sua mão.
- Uhn... E o quê vai fazer com ele? - Ela sussurrou em seu ouvido.
- Eu não sei, eu não sei! - o escritor distanciou-se um pouco sobressaltado, olhou bem para o corpo da garota a sua frente - Talvez eu não faça nada.
- Não sabe o que fazer depois de alcançar o ápice? - sorriu Ela meio ironicamente, meio brincalhona.
- Claro que sei! Eu tenho que escrever algo melhor! Mas... não dá!
- Você acabou de escrever isso.
Ele estendeu a mão e os papéis para a cara dela.
- 15/11/96? Quinze de novembro de noventa e seis? O seu melhor texto tem mais de 10 anos?
- Eu sei que é patético...
- Mas... e tudo que você escreveu até hoje? - enquanto falava, Ela passava a mão vagarosamente pelo rosto barbado d'Ele.
- Lixo.
- E por que só agora? Por que nunca me mostrou isso antes?
- Eu nunca tive coragem de assumir que eu nunca conseguirei escrever algo melhor do que essa bosta. Eu... você... Perde todo o senso de evolução, sabe?
- Ah...
Ele se distanciou mais e foi até o banheiro, com passos sussurrantes e breves.
- Olha, leia o texto enquanto eu tomo uma ducha. Você pode decidir o que fazer com ele, ou sei lá o quê.
- Tá certo - Ela lançou um olhar melancólico para ele, e então lançou um olhar melancólico para o texto, que retribuiu mostrando suas palavras de forma melancólica para Ela.
Ela terminou de ler. Bateu na porta do banheiro.
- Ei... isso é só um emanharado de palavras aleatórias misturadas! Isso não é seu melhor texto! - Toc toc toc mais nervoso - Carlos, Carlos, abre essa porta!
Ela suspirou. Ele devia estar passando por uma daquelas crises dos escritores que escrevem mais ou menos bem. Era estupidez se entristecer muito com isso, já que ele tinha uma vida boa e divertida, apesar de ter apenas habilidades suficientes para vender o suficiente para levar uma vida boa e divertida.
- Abre isso agora, Carlos.
Ela pegou uma cadeira e lançou contra a porta. A cadeira bateu e voltou, machucando-a no pé.
- Porra, abre isso!
Ia chamar os bombeiros quando o interfone tocou:
- Dona Lúcia... desce aqui embaixo... é... uma...
Ela largou o interfone e olhou pela janela. Havia algo no chão. Algos no chão, a 16 andares de distância.
Horrorizada, percebeu que eram pedaços de corpo e muito sangue.
Quando finalmente desceu e observou os pedaços de seu namorado e também cliente de sua Editora, horrorizou-se de verdade.
Havia algo escrito por quase todo o corpo do falecido escritor. Eram palavras aleatórias, misturadas na confusão do sangue por todos os lados.
Era o melhor texto da vida d'Ele. Era o melhor texto de sua morte. Seria o texto de seu epitáfio.
E este, meus caros, é o pior texto de toda a minha vida.
sexta-feira, dezembro 29, 2006
quarta-feira, dezembro 20, 2006
A droga de toda a vida.
"Achei há dois anos, num sebo escondido numa rua suja, um livro 'interessante'. Chamava-se 'O segredo do futuro' e dizia que fora escrito originalmente por um chinês, havia milhares e milhares de anos. Um hippie doido deve tê-lo traduzido, julgando pela data da edição. Comprei, pela curiosidade e pelo preço.
O livro tratava, em sua primeira metade, sobre a existência do Futuro. Argumentava que realmente existia um caminho pré-determinado e que — após um tanto de escrito com pouco valor — havia meios verdadeiros de se ver o Futuro. Na verdade, só seria possível descobri-lo até o fim da sua vida. Eu entendo que seja difícil de entender, mas o livro diz que se você morrerá em 2032, será possível ver todo o seu futuro até essa data.
O meio mais simples apresentado por Fa Ming — suponho que seja esse o nome do autor, agora me falha à memória — para espiar o Futuro é um chá feito de diversas ervas misturadas com alguns ingredientes caríssimos e de difícil obtenção. Após ler todo o livro, decidi que a única coisa que valia era a tal receita. Arranquei as 30 páginas que tratavam da confecção desse incrível 'medicamento' e joguei todo o resto fora.
Nenhuma das ervas era alucinógena, mas quase todas eram muito raras por aqui. Por isso, tomei como uma espécie sadia de passatempo a procura pelos fantásticos ingredientes. De férias em férias, de eBay a eBay, consegui os itens, um por um. Isso tudo tomou um pouco menos de dois anos, e exatamente agora terminou minha busca. Como todas as ervas são secas e a maioria dos ingredientes imperecíveis, creio que estou preparado para a preparação.
Na verdade, escrevo enquanto a água ferve.
Ferveu. É incrível como uma receita supostamente tão incrível é tão simples. É só jogar tudo dentro... Não que eu realmente acredite na veracidade da coisa toda, mas supõe-se que o procedimento todo deveria ter algo mais de especial, de fantástico.
O resultado não é exatamente agradável: a mistura toda fede e tende para o verde-musgo, pedaços sólidos flutuam. Bem, no máximo acabo de preparar um alucinógeno poderosíssimo.
Amém."
Aqui o relato se perde. Mas reza a lenda que Ele viu, realmente, toda a sua vida, viveu todo o futuro pulsante que tinha pela frente, cada detalhe, cada segundo, cada minuto, cada década. Sentiu um fluxo tão intenso de vida que, após alguns instantes de frenesi de momentos felizes e tristes, acabou chegando no ponto inevitável de sua vida, que é a morte.
Parou o coração, acabou a droga de toda a vida.
O livro tratava, em sua primeira metade, sobre a existência do Futuro. Argumentava que realmente existia um caminho pré-determinado e que — após um tanto de escrito com pouco valor — havia meios verdadeiros de se ver o Futuro. Na verdade, só seria possível descobri-lo até o fim da sua vida. Eu entendo que seja difícil de entender, mas o livro diz que se você morrerá em 2032, será possível ver todo o seu futuro até essa data.
O meio mais simples apresentado por Fa Ming — suponho que seja esse o nome do autor, agora me falha à memória — para espiar o Futuro é um chá feito de diversas ervas misturadas com alguns ingredientes caríssimos e de difícil obtenção. Após ler todo o livro, decidi que a única coisa que valia era a tal receita. Arranquei as 30 páginas que tratavam da confecção desse incrível 'medicamento' e joguei todo o resto fora.
Nenhuma das ervas era alucinógena, mas quase todas eram muito raras por aqui. Por isso, tomei como uma espécie sadia de passatempo a procura pelos fantásticos ingredientes. De férias em férias, de eBay a eBay, consegui os itens, um por um. Isso tudo tomou um pouco menos de dois anos, e exatamente agora terminou minha busca. Como todas as ervas são secas e a maioria dos ingredientes imperecíveis, creio que estou preparado para a preparação.
Na verdade, escrevo enquanto a água ferve.
Ferveu. É incrível como uma receita supostamente tão incrível é tão simples. É só jogar tudo dentro... Não que eu realmente acredite na veracidade da coisa toda, mas supõe-se que o procedimento todo deveria ter algo mais de especial, de fantástico.
O resultado não é exatamente agradável: a mistura toda fede e tende para o verde-musgo, pedaços sólidos flutuam. Bem, no máximo acabo de preparar um alucinógeno poderosíssimo.
Amém."
Aqui o relato se perde. Mas reza a lenda que Ele viu, realmente, toda a sua vida, viveu todo o futuro pulsante que tinha pela frente, cada detalhe, cada segundo, cada minuto, cada década. Sentiu um fluxo tão intenso de vida que, após alguns instantes de frenesi de momentos felizes e tristes, acabou chegando no ponto inevitável de sua vida, que é a morte.
Parou o coração, acabou a droga de toda a vida.
terça-feira, dezembro 19, 2006
Dois mil e sete.
Talvez dois mil e sete realmente mereça uma listinha de promessas.
Talvez a virada de ano realmente represente alguma coisa.
E por aí vai.
Sendo assim, para poder ser brega, pero no mucho, cá vai uma listinha de promessas (ou previsões) para o ano que logo vem. Espero que entendam a mensagem deste pobre que vos fala.
1 - Prometo me estressar bastante graças ao cursinho;
2- Prometo deixar completamente de lado o grêmio e, assim, decepcionar meus coleguinhas;
3- Prometo ter problemas no meu relacionamento graças ao item 1. Talvez também ao 2, quem sabe;
4- Prometo que minha gastrite piorará e melhorará diversas vezes durante o ano;
5- Prometo que jogarei menos videogame;
6- Prometo que lerei;
7- Prometo que os itens 6 e 7 terão lados bons e ruins;
8- Prometo acabar coisas que comecei neste ano e começar coisas que nunca terminarei;
9- Ou talvez não.
Talvez a virada de ano realmente represente alguma coisa.
E por aí vai.
Sendo assim, para poder ser brega, pero no mucho, cá vai uma listinha de promessas (ou previsões) para o ano que logo vem. Espero que entendam a mensagem deste pobre que vos fala.
1 - Prometo me estressar bastante graças ao cursinho;
2- Prometo deixar completamente de lado o grêmio e, assim, decepcionar meus coleguinhas;
3- Prometo ter problemas no meu relacionamento graças ao item 1. Talvez também ao 2, quem sabe;
4- Prometo que minha gastrite piorará e melhorará diversas vezes durante o ano;
5- Prometo que jogarei menos videogame;
6- Prometo que lerei;
7- Prometo que os itens 6 e 7 terão lados bons e ruins;
8- Prometo acabar coisas que comecei neste ano e começar coisas que nunca terminarei;
9- Ou talvez não.
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