— Que que cê tá fazendo aí?
Ele olha para ela um pouco como que desentendido.
— Eu... ué, é exatamente o que parece. Tô escrevendo.
Ela sorri toda preguiçosa para ele, se arrasta até a pontinha da cama, até do lado do chão, onde ele está encurvado em torno d’uma cadernetinha .
— Acho que você não devia misturar trabalho com...igo.
Ele olha de esguelha para ela, ora, ora.
— Não é trabalho…
Ela bagunça um pouco mais o cabelo dele.
— É um diário? Você escreve sobre mim?
Ele descosta a caneta do papel, coloca o papel de lado. Olha-lhe um pouco ofendido.
— Não. É só… lazer, enfim. Escrevo sobre nada, mas é normal fazer assim.
Ela pende a cabeça cama abaixo, (mas só um pouquinho).
— E você acha gostoso? Posso experimentar?
Ele solta um pouco de ar, Por que não?, troca a página e entrega caneta e caderno, Talvez seja divertido.
— Ah, não, não é justo, vou escrever na mesma página que você e pronto.
Ela sorriu largamente, afinal, e pôs-se a escrever.
“existe coisa mais bonita do que acordar e ainda estar junto, de conhecer enfim como a outra pessoa é ao amanhecer, se ela se veste ou não, se ela prepara café-da-manhã ou se senta no chão e coloca-se a escrever, se ela é apenas uma mulher e apenas mais um pouco de sexo, ou então, talvez, ela seja muito mais inteligente do que pareceu ontem à noite, enquanto você a comia e provavelmente pensava que ela era só mais uma dessas, quando, na verdade, pode ser que ela realmente quisesse transar com você e gostasse muito de você e percebesse que, de manhã, você escreveria ainda antes dum banho, antes até de me acordar de alguma forma e dar os últimos beijos.”