terça-feira, maio 01, 2007

O telefone tocava:

TRIIIIIIIIIIIIM... TRIIIIIIIIIIIIM... TRIII...!
- Oba.
Ela atendeu o orelhão apenas porque ele estava tocando e ninguém parecia disposto a atendê-lo. Agora, se dispunha a ouvir o barulho do silêncio d'outro lado.
- Diga lá, quem é?
- Alô, é você, não é?
Considerou um pouco, enquanto imaginava qual era o sexo daquela voz sem vibração e sem forma:
- Sim, sou eu.
- Ótimo. Preparada para aceitar o seu Destino - falou a voz em negrito e itálico.
- Haha, suponho que sim.
- Muito bom. Vê aquela pessoa quase a atravessar a avenida? Ela esqueceu a carteira no chão.

Ela, uma jovem chamada Monera, levantou os olhos à busca de uma pessoa e sua carteira. Alguns minutos a leste, viu um homem calvo, roupas sociais, atravessando com firmeza a avenida. Um pouco atrás dele, a peça de couro caída.
- Senhor, você deixou cair sua carteira! - gritou, num desespero desajeitado e despropositado.
Ele se virou, assustado, procurou com os olhos a voz que o gritou, então a sua carteira e, quando ia buscá-la, foi atropelado por uma moto em altíssima velocidade, cujo motorista, infeliz motorista desprevinido, foi catapultado e caiu de cabeça, descapacitando o pobre cérebro descapacetado.

Monera gritou e grudou-se ao telefone público, deslizou direto ao chão, querendo chorar e não conseguindo, abrindo e não fechando mais a boca.

A voz disse:
- Monera, minha Monera, tu és a deusa da Humanidade.

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