sábado, junho 06, 2009

sábado às 23h30.

Seus olhos tão esperançosos que chega a ter certa graça que você não verbalize logo suas intenções que suas mãos redundam as minhas e bebemos juntos pela já nonagésima ou coisa assim vez, você que é meu querido amigo e eu, frágil moça agora sozinha sem seu amor de tanto tempo, um pouco mais que esse tempo em que nos conhecemos e nos tornamos amigos de confiança.


— E, de certa forma, personagens do Cortázar, ambos.

— Sim, literariamente, sim — essa sou eu falando, intercalaremos (que bonito que é isso: um diálogo é necessariamente inter-calar, quando um burro fala, o outro abaixa as orelhas).

— Acho isso lindo, che, podermos tomar uma num bar sem problemas, despreocupados, nós dois.

— Não lhe cai bem esse che, parece mais um gaúcho do que um porteño ou o que quer que você quisesse parecer; além do mais, acho que você usa nas horas erradas e só fala besteira.

— Pode ser que sim, mas pelo menos eu te faço companhia.


É irritante — não é irritante? — que você insista tanto em colocar na minha cara que só você está aqui comigo, que eu estaria totalmente sozinha se não fosse, mas... Suas vontades são absurdas, não há porque eu atendê-lo, aceitar os carinhos que você me oferece, a cama quente, o enfim-livre que você insinua; tão óbvio e tão difícil acreditar que você tem medo.


— Há motivo! — e brindamos — Nada melhor que gin tonic, non?

— Não há nada melhor, mesmo.


Enquanto isso, você pensa: “Ela está mal, dá pra perceber na pele dela, será que ela já está pronta? Ou então é o contrário, talvez justamente por não estar pronta eu possa ajudá-la, não sei, arre, me sinto um monstrinho pensando assim, como pode? Não há nada de errado, não meto chifres em ninguém e não pode ser que ela não sinta nada por mim, depois de tanto tempo... E, talvez, durante a noite, após tudo, ela chore e se liberte e enfim esteja pronta, mas pronta já comigo, pra mim, enfim, ou então...”


— Pobre tolo, tendo que me aguentar aqui com esse vocabulário todo mal traduzido.

— Ah, querida, não se engane: é melhor assim.


(Poor fool ... dont make a fool of yourself, you’ll never get me)


— Está tarde, enfim... preciso ir, então.

— Não, querida, você precisa vir.


(I must GO... Not at all, honeydarling, you must come)

5 comentários:

  1. E não é que eu estava mesmo pensando em Cortázar.

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  2. Mas se verbalizasse logo, estragaria tudo!

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  3. há motivo! ... ou então

    don't you get semantic over me

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  4. Não, criticando, não. A mina é que reclama de ele fazer jogo, mas sem jogo, qual o sentido?

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