sexta-feira, abril 06, 2007

Desminto!

A moça com walkie-talkie se aproximou:
- Senhor, você se incomoda de outra pessoa se sentar com você?
- Não, não, claro - sorri para meu prato.
Outra pessoa sentou-se a minha frente, munida de bandeja, prato e talheres, exatamente como eu. Desviei pouco meu olhar, então quase não observei o rosto da mulher - foi uma mulher que se sentou.

Garfada foi e veio, eu quase acabava, acabava-me de comer numa segunda-feira, no horário infernal de almoço em um shopping ainda mais infernal, barulho e pessoas em excesso. Minha recém-adquirida companhia, entretanto, estava quieta; arrisquei olhar para frente, de leve, com o rosto virado para baixo.

Ela encontrou meus olhos e sorriu, e antes que eu fugisse, falou:
- Já nos conhecemos, não é?
Ergui-me mais um pouco, tentei sorrir de leve, ser simpático ou não-antipático:
- Eu tenho certeza que não te conheço.
Aproximou-se.
- Você é famoso, não é?
Levantei completamente minha cabeça, olhando-a agora realmente nos olhos.
- Não, imagino que não.
- Qual é seu nome?
- Pablo, Pablo. O seu?
- Sou Carolina; e você não combina com o nome Pablo, parece-me outra coisa...
Dei de ombros, fechei os olhos, coloquei na boca a última garfada, mastiguei e mastiguei, então engoli e finalmente a focalizei de novo.
- Chamo-me Carlos.
- Claro, Carlos! Muito mais a sua cara; Carlos, Carlos... Você é famoso, não é?
- Pelo contrário, sou desconhecido. Nem mesmo eu me conheço!
- Mente seu nome, provavelmente se esconde para evitar assédio.
- Não, não, claro que não. Evito usar meu nome para não me tornar um personagem de minhas próprias histórias; sou apenas precavido.
Caroline cerrou o cenho, afastou-se e aproximou-se novamente:
- Você é aquele escritor-detetive, que fica em um apartamento vigiando o outro, enquanto o outro vigia você, numa espionagem cíclica, infinita e destrutiva? É o sr. Blue.
- Não, claro que não.
- Quem é, então?

Levantei-me, peguei a bandeja e coloquei-a em cima do lixo, empilhada sobre algumas outras. Tratei de não procurar Carol com os olhos, tratei de enfiar os rabos entre a perna, tratei de sumir daquela luz amarelada e do cheiro de fastfood no ar.

Ignorando o ódio que meu personagem sentia por Carla, fingi que tudo aquilo nunca aconteceu.

6 comentários:

  1. Não entendi...

    Devo me sentir muito estúpida ou só um pouco?

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  2. Tão estúpida quanto você ou tão estúpida quanto vocÊ acha ser?


    Oh..melhor parar de fazer confusão.

    Acho que é melhor assim.

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  3. mais que verdade este?

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  4. Mais-valia ser um peixe
    do que ser um prosador.
    Isso é tão natural
    Em redondilha maior.

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