domingo, março 23, 2008

Nota-se.

É assim que eu faço: eu sento em frente às moças que me chamam a atenção e começo a escrever enquanto meus olhos pingue-pongueiam do caderno pros olhos delas. Esse é o procedimento padrão, isso é o que eu faço com você agora e seu cabelo é tão lindo e talvez só bastasse fingir que estou escrevendo, porque o que eu realmente quero é ver você ficando corada enquanto eu mesmo enrubesço já com toda a prática dos anos. Poderia ser em qualquer lugar, acontece de eu encontrá-las em todo tipo de canto, vocês sempre sentadas e sempre dentro de vocês mesmas. Eu quero que vocês se desensimesmem um pouco e percebam que alguém olha para vocês do meu jeito, e então que eu não saia de suas cabeças assim como vocês estão sempre dentro da minha.
Eu podia muito bem apenas fingir que escrevo, mas no metrô é o melhor lugar de todos para esses olhos negros e esses cabelos curtos e preto-pretos e agora você me percebeu e eu tive que desviar meu olhar para o caderno. Eu morro de vergonha, é isso que você acha, talvez você seja a mais perfeita de todas mesmo com esse jeito arrogante de se vestir e você está me olhando de novo e tanto desprezo na sua cara que eu não sei se talvez o melhor não seja continuar mesmo escrevendo e fingir que você que inspirou tudo isso não está me fitando tão forte assim.
A vantagem de manter meus olhos no caderno é que eu posso notar suas botas e elas são irônicas e parecem combinar bem com seu olhar que não parece nem um pouco acanhado com a minha invasão: talvez você goste de ser escrita por mim e queira me desafiar e eu vou ser mais forte que você porque eu consigo manter minha atenção grudada no seu rosto enquanto escrevo e nunca você vai ser assim tão forte comigo.

Já se passaram algumas estações e continuamos nos encarando e eu estou segurando a minha respiração já se sabe lá há quanto tempo, eu não sei porque com você pode ser diferente das outras pessoas quando eu já fiz isso tanto e assim parece até de propósito que eu justamente agora tenha explicado todo o meu método para o leitor, mas é sempre assim e na verdade eu só escrevo para ocupar algumas partes do cérebro e não morrer de medo de cada Mulher que me chama a atenção. Tanto faz, tanto faz, porque você está se levantando e acho que você irá embora e me dará as costas como todas as outras, você vem para o meu lado, mas só porque a saída é obviamente deste, você segue direto para mim embora eu saiba que isso é mentira e você diz

eu conheço muito bem esse seu tipo de gente que é você, seu merdinha, você só quer destruir a vida das outras pessoas com o joguinho idiota desse seu caderno adolescente cheio de obscenidades do tamanho da sua cabeça enorme.

Aí ela arrancou o chapéu da minha cabeça e saiu pela porta aberta do metrô e eu juro que não chorei nem um pouco naquele dia.

8 comentários:

  1. Não percebias, mas fitava-te pelo espelho dos vidros escuros e escusos do trem.

    Percebera seu jogo, não obstante não conhecer o conteúdo do caderno e abandonou-te à primeira oportunidade.

    É, tua tinta... Secou?

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  2. Os prefiro porque prefiro, na realidade acho a estrutura do soneto bonita.

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  3. Aah, quase tão legal quanto o texto das manhãs e definitivamente mais bonitinho que o último post! :D
    Eu fiz isso uma vez, enquanto assistia uma pessoa jogando basquete. Só não ficou tão encabulante assim, talvez porque eu não estava encabulada... ou sei lá.

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  4. Ou! Isso é legal. De ler...
    Sabe, a gente se identifica...

    *roll eyes*

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  5. Quantos anos o objeto de sexo masculino desse texto teria, mais ou menos?

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  6. Requentação é o segredo do suxesso! =D

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