sábado, agosto 18, 2007

Crônica.

Doutro lado do metrô, logo ali na outra plataforma, separados de mim por um vão, há um homem e uma mulher.

A frase sofre de imprecisão e até mentira, eu sei, mas doutro lado um homem e uma mulher.

É um casal jovem, em média 15 anos cada um, um casal jovem e peculiar e até peculiar, e ambos se dão as mãos e ela é toda ternura com ele, e ele sorri aquele sorriso de homem que sabe que é amado e protegido por uma mulher.

Quanto amor naquele casal! E como ela trata o outro como se fosse uma bonequinha enorme, que merece todo o cuidado, e beija aquela boca dum jeito estranho e constrangedor para a gente que observa do lado de cá.

Uma dupla ao meu lado comenta os dois, pode-se ouvir um deles falando "É... Tá certo ele!", e ela é japonesa e ele é barbado, doutro lado. E as mãos dela tentam cobrir completamente a mão dele e ela tem uns oclinhos e ele tem sua pasta e sua cara de universitário.

Eu, aqui do meu lado, acho um absurdo aquele encantador casal, aquele encantador e jovem e peculiar, peculiar casal. Contemplo admirado, repugnado, , minhas coisas se mexem dentro de mim, e sou capaz de acreditar que todos os outros têm suas coisas móveis também. E um monte de borboletas.

Doutro lado do metrô, um crime à mostra, uma criança de 10 anos e outra de 20 se namoram. E a moral, e o moral? E minha vontade de ridicularizar o pobre rapaz? E minha vontade de me jogar nos trilhos?

E aquela boca infantil e todo o ranho das crianças?

Como pode?...

4 comentários:

  1. Se seguir a progressão, a próxima terá 5 e o outro adulto, 25. =P

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  2. Diaxo! Muito bom.

    Gostei da linguagem.

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  3. Eu, aqui do meu lado, acho um absurdo aquele encantador casal, aquele encantador e jovem e peculiar, peculiar casal.


    adoro esas virgulas.

    seu velho


    hahaha

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  4. Hahahaha

    Gostei do "em média, 15 anos".

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