quinta-feira, janeiro 31, 2008

Por quê? Por que você? Por que você fez isso?

Estávamos sentados frente a frente na minha cama, nus e encharcados por dentro e por fora. Choramos, então era só ela que ficava com seus filetes, corguinhos fugindo dos diques pestanejantes daquele rosto inchado e rubro e certamente infeliz comigo.

"Amor, quanto tempo isto vai durar? Quantas vezes mais poderemos ficar assim e por que você insiste em me olhar como se, a qualquer momento, tudo aqui pudesse ir pelos ares numa poeira de esquecimento?" era o que eu esperava dela, pois era o que eu pensava que ela pensava, mas não, ela não disse nada, só manteve os olhos nos meus, que buscavam dobrinhas de pele no pezinho dela enquanto vigiavam de soslaio o resto.

"Dolores, é uma mentira. Eu a amo e é mentira e é apenas literatura e seus beiços entre meus dentes são falsos e quando eu a lambo é ficção e você é uma das minhas personagens favoritas por causa de seus cachinhos douradiços e cada ângulo quebradiço e eu amo seu pescocinho porque ele é meu e só pode ser assim já que o autor sou eu e, se me entristeço, é só porque talvez eu me incomode que você seja apenas lirismo, mas não é o caso de você se entristecer por mim".

Eu noto o olhar vidrado daquele rapazote meio às índias em sua cama no quarto lotado de livros e, ainda assim, tão infantil!

— Porra, meu escritorzinho — pego o rosto dele entre meus dedos e o forço a me olhar direito — você está completamente louco.

Ele parece tremer tão de levinho que eu poderia sentir dó; eu não sinto, só quero o seu bem, só quero que seja feliz e me pague direito ao final das contas.

8 comentários:

  1. Me despeço mais uma vez para uma de minhas viagens, só sinto muito por esse texto não ser lá um dos melhores ou dos preferidos.

    É a vida. E o Carnaval para todos, amém.

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  2. Boa sorte fio.

    A Dolores o ama? Não?!

    Então ela é o quê?

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  3. pois é, acho que se você morasse por aqui teria a mesma reação (ou a falta dela, ou o desejo de tê-la, enfim...) que nós temos.

    essas historinhas sempre passam pela minha cabeça. juro! juro por alguma coisa bem pagã... rs.

    ...

    textos novos!
    ainda não li, mas o farei.

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  4. O começo está lindo. Lindão. Maravilhoso.

    O parágrafo da segunda fala - "Dolores, é uma mentira... -achei forçoso demais, e acabei não pegando o resto.

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  5. Mas o resto é resultado do "parágrafo forçoso", que o é, por sinal, porque o é e é necessário que seja, para que se entenda.

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  6. Tinha certeza que você ia justificar pela "necessidade".
    Desculpa esfarrapada.
    >__<

    Mas valeu a leitura pelos primeiros parágrafos.

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  7. Não é uma desculpa, eu não me arrependo.

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