sexta-feira, maio 30, 2008

Nane, pode ser?

— Não lhes importava se a história era boa ou não; era mentira, e isso bastava para invalidar meu discurso diante de gente como eles. Meus filhos não gostavam das coisas que eu inventava, diziam que minha língua ia cair com tanta besteiragem. A mãe deles ensinou que mentir era ruim, que tornava as pessoas piores, que não devíamos fazer com os outros o que não queríamos que fizessem conosco. Essa sim é a besteiragem: os gostos variam: eu gostaria que ela tivesse me mentido sobre as noites em que passava fora de casa, mas ela insistia em dar cada detalhe sobre as coxas de seus amantes.

Então ela me largou porque eu escondia os meus casos.

Se a verdade é tão importante, conto logo que seus relatos me excitavam, embora eu ficasse realmente ofendido com tanta sujeira. Procurei outras porque ela me deixava com tesão e logo depois ia dormir: estava cansada por causa dos outros homens – acho. Não contei nada pra ela porque eu sabia que ela não queria a verdade de forma alguma. As pessoas acreditam que o que acreditam é verdade, mas tudo é uma espécie de mentira – especialmente a moral sobre a ética.

O senso comum não é de todos, embora tenhamos que respirá-lo em conjunto. É uma coisa inspirada, introjetada por nós mesmos – não há outra opção. No entanto, a culpa é nossa, se se pode falar em culpa; aceitamos tudo isso cada vez que enchemos nossos pulmões. As idéias, nós que deixamos entrar, ou a morte.

— Já está bom, Amor, as crianças já dormiram.

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