terça-feira, dezembro 23, 2008

Retirada.

Sei que é perda de tempo, mas ganho tempo – ao mesmo tempo – falando, por que não?, sobre o tempo. Você me quer entre suas pernas; pena, não desejo nada seu, minhas tropas recuam cuidadosamente enquanto menciono o calor absurdo – este Sol ainda me fará matar alguém, juro! – e tento ignorar seus olhos de vanguarda. Fuzis apontados entre minhas sobrancelhas, e eu, sobranceiro, discorrendo sobre nuvens pesadas e assustadoras.
Já alcancei a primeira trincheira, nos escondemos atrás de sacos de areia com as metralhadoras à mão, agora tenho confiança suficiente para fitar-lhe o rosto como um amigo, apenas um amigo, amigavelmente cedo-lhe o tempo de falar. Seus soldados estão estacionados, você apenas concorda com tudo que eu disse – o aquecimento global é um horror, e assim vai –, então também se cala.
Minha fuga alcança os navios, todo o meu exército em retirada nas docas: voltaremos para nosso país; derrotados, mas livres. Está tão quente, você diz, que nós, seus aviões decolam, poderíamos, vejo-os claramente no horizonte, tomar um banho, eles vêm ao meu cais, juntos, as bombas em queda-livre, meu amor, a morte.

9 comentários:

  1. Texto inédito de fevereiro deste ano.

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  2. Quando eu fui ler (às vezes eu faço isso), eu copiei o texto e colei no Word pra não ficar tão evidente que eu estava lendo um blog no trabalho.

    Só que eu acabei perdendo os itálicos e tal. Acho que ficou melhor.

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  3. Ricardo? Ricardo da minha sala? A internet é infinita mas dá pra diminuir pelo Google, e achei seu blog, q nunca tinha visto.Gostei, pelo menos.

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  4. Era só ver meu perfil no orkut, haha.

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  5. Gostei muito, é seu tipo de texto que mais gosto, e credo, parece que suas experiencias cinematograficas influenciam cada vez mais seus textos, ou não, voce sempre foi assim, e tem varios vieses criativos...

    e ah, gostei muito, me deu muita vontade de escrever agora!

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  6. Acho que você não pode falar d'uma espécie de intoxicação cinematográfica, pelo menos não nesse texto aí.

    Como eu disse, e era verdade, o texto é do começo do ano passado!

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