domingo, janeiro 31, 2010

pequenos deuses.

Rebeca ajeitou seu cabelo com a mão esquerda, roçando-lhes o pescoço, a camisa-vestido. Sorriu fra(n)camente pro espelho, por coragem; fez cara séria e correu para fora, saltitando de leve, mão seca pelo talco.

Palco negro de escuro, plateia murmurante, Rebeca anda despercebida até o microfone:

"Som?"

todaaplateiadeumavezvibrou

A luz explode no rosto de Rebeca.

"Eu vou começar com... uma música especial. Para vocês."

A partir daí, não sei bem o que acontecerá, isto é, todos cantam juntos e claramente estão todos juntos lá, cantaram ainda mais do que ela, saberiam mais a letra do que a garota sentada ali na frente. Gritem, pelamordedeus!, façam vocês mesmos o show.

Rebeca se levantou do banquinho, "talvez", tentava racionalizar, "isso seja demais. não sei se essas pessoas sabem que eu também vou ao banheiro e...", então ela corre para o palco e entra.

"Fico feliz que estejam aqui, mesmo. Eu escrevi um poeminha para hoje, hahaha, mas agora acho besteira..."


DEIXADESSERBESTARREBECAAA!!

"!!! Vocês são incríveis! (pigarreia feminina) é o seguinte:

Nua, fria, contra o tempo
Infeliz, jogada fora
Pura, insípida e notória
Pelos mais breves momentos


e...

é isso, por hoje! Obrigada, Rio!"

Rebeca se seca no camarim, o rosto vermelho. Não era nada daquilo, mas quem mais podia ser? Rebeca tem uma cama e pode deixar estar tudo como está, quase como se não fosse capaz de fazer as pessoas se sentirem algo, quase como se não fosse a coisa mais importante na vida de milhares de outros, supostamente como ela.

"Sei que é pouco esse tanto
Que sinto, certo espanto
Meu poder sobre o mundo
Nem que seja num segundo
se acaba numa volta
e fico só com meus cachorros"

Nenhum comentário:

Postar um comentário