segunda-feira, fevereiro 21, 2011
domingo, fevereiro 20, 2011
Acordei.
texto recuperado de 05/02/07 – havia sido semiapagado por motivos que me escapam
Um dia, acordei onisciente. Logo percebi que era também onipotente e onipresente; ainda que estivesse deitado em minha cama, lá estava eu tomando café, lendo boa literatura em todas as línguas e fodendo a Bárbara. Gozei com Jéssica e levantei-me da cama.
Não havia porque ir ao trabalho, então vi a terra do espaço enquanto acabava definitivamente com velhas rixas no Oriente Médio no dia seguinte. A Camila realmente gostava de mim! Pensar que eu achava que me odiava; como a juventude é tola! Assisti atentamente a todos os filmes de Godard, então de Hitchcock, Truffaut, até o insignificante Meirelles e, enfim, de todos.
Descobri milhares de ótimos autores que por um ou outro motivo fracassaram quando tentaram entrar em contato com o público. Fiz com que as grandes lendas vivessem outras histórias para que Eu pudesse ler todas as obras possíveis e impossíveis, mas possíveis por mim. Quando me cansei disso, comecei a ler todas as obras possíveis em todos os alfabetos e línguas inexistentes e existentes.
Num deles, talvez o primeiro, talvez o último, em ximinenisteuco, li: “Por que Você se contenta em só saber e fazer o que você presta atenção hem? Você só está aonde pensa estar, mas poderia estar em todos os lugares fazendo tudo realmente percebendo o que acontece e livrandose enfin de suas ultimas amarras humanas, tornandose Deus de verdad”. *
Parei para pensar no que li, ignorando os erros ortográficos e gramaticais. Como não pensei “O que acontecerá?” e sim “Será que valerá a pena?”, soube que valeria, sim, e fui eu mesmo e meu saber infinito que dissemos isso.
Quando eu desliguei meus limites conscientes e abracei tudo que foi, é, será e seria, deixei de existir.
* “Pratzka pun Pretzka Pá prontka prin prevka Prok Preken. Praktakun prenken, prenken Protz Pron Prek pranken proker prun prun Prek, Praratkan prekten Prakon”, no original.
Quando eu desliguei meus limites conscientes e abracei tudo que foi, é, será e seria, deixei de existir.
* “Pratzka pun Pretzka Pá prontka prin prevka Prok Preken. Praktakun prenken, prenken Protz Pron Prek pranken proker prun prun Prek, Praratkan prekten Prakon”, no original.
Progressivo.
texto recuperado de 19/04/07 – havia sido semiapagado por motivos que me escapam
Há algum tempo, o jovem cientista, vestido em seu novíssimo jaleco branco e com um sorriso triunfante no rosto, falou ao povo:
– Eu sou o Progresso! Represento o avanço da Humanidade! Garanto que transformarei nossa sociedade em algo melhor!
O operário aplaudiu, abaixou a cabeça e voltou ao trabalho corriqueiro. O cientista, ao cessar dos aplausos, virou as costas para o povo e trancafiou-se em seu laboratório.
Neste meio tempo surgiram a eletricidade, os carros motorizados, as linhas de produção, a especialização do trabalho, a jornada de catorze horas, as melhorias na medicina, a jornada de dez horas, as máquinas que ajudavam, as máquinas que tiravam os empregos, as armas automáticas, o avião, as bombas, as sementes selecionadas, todo tipo de combustível dando energia, todo tipo de combustível destruindo a terra, a bomba atômica, os agentes químicos, mais avanços na medicina, carros mais velozes, robôs ajudando, robôs roubando empregos, fastfood, nofood, manipulações genéticas, plantas transgênicas, clonagem, bomba Y, nanorobôs curando, carros mais velozes, comida em pílulas, a Grande Guerra, os montadores montavam. O minerador minerava, o ferreiro martelava e o operário suava.
Porém, quando o operário voltava para casa após um árduo dia de trabalho, muito desgastado e cansado, andando vagarosamente pelas ruínas de seu antigo bairro, avistou com o olhar pesado uma pessoa vestida de branco no topo do que fora um prédio. Assustado, começou a escalar as paredes que outrora estiveram na vertical, mas que agora eram apenas rampas muito declinadas, apoiando-se nas rachaduras, galgando, insistentemente, a montanha de concreto até o topo.
Aproximou-se do jovem vestido com jaleco branco com cuidado. Arfava, pois já era velho e alquebrado, enquanto o outro estava na flor da juventude, talvez o único naquele mundo que ainda possuía roupas limpas.
– Quem és tu?– disse o operário – Quem és tu que observas a nossa destruição?
O jovem, que até então olhava para o outro lado, virou-se e fitou curioso o rosto do operário. Como se notasse algo no semblante do velho, abriu um sorriso, ergueu as mãos e gritou:
– Eu sou o Progresso! Represento o avanço da Humanidade! Garanto que transformarei nossa sociedade em algo melhor!
O operário aplaudiu, abaixou a cabeça e começou a ir embora. O cientista, ao cessar dos aplausos, virou as costas para o outro e trancafiou-se em si mesmo.
Então, também como se notasse algo, o operário parou seu andar conformado, deu meia-volta e observou a maravilhosa figura do cientista; notou que era o cientista de outrora, que era exatamente o mesmo, que traria cada vez mais progresso. O operário, então, correu até o cientista e o empurrou de cima do prédio. Embora a altura não fosse sequer metade da que o colosso apresentara quando ainda dominava os céus, foi suficiente para manchar o jaleco de vermelho e acabar com seu sorriso.
– Dorme bem agora, Progresso, pois tu nunca trouxeste nada de bom para mim.
sábado, fevereiro 19, 2011
sexta-feira, fevereiro 18, 2011
terça-feira, fevereiro 15, 2011
anotações de uma viagem – curta – de ônibus.
Sento, como sempre que consigo, na última fileira, numa das poltronas altas em que minha cara pode ficar um pouquinho para fora da janela. Resolvo olhar as coisas, ao invés de ler (para fora, ao invés de para dentro).
Ônibus vazio, uma moça está sentada nos outros bancos altos – os de cima das rodas –, também junto à janela. Se diretamente só vejo seu cabelo liso-e-um-pouco-bagunçado, posso ver seus olhos e sua testa e um pouco de seu nariz no reflexo. Testa e olhos e nariz bonitos, ainda que o último um pouco masculino, não sei, em degrau. Encarava com intensidade o lado de fora.
Um pouco de sua boca se revelou e ela falava com alguém ao celular. Não havia percebido antes, porque de costas, mas em uma das idas e vindas do rosto dela viu que era óbvio que falava com alguém. Um pouco de irritação no jeito de mover os lábios? Preocupação. Parecia um pouco falar com o namorado, discutir algo cotidiano sem dar tanta atenção, sem se importar demais.
Lá do lado de fora, uma menina – no jeito de ser, ao menos – dançava balançando a cabeça dentro de um carro, dirigindo. Divertido. Uma de meia-idade corria com seu pinscher, bem mais em forma que ela.
Desço para a frente do ônibus antes de meu ponto, para ver a moça de frente. Mais feia – ou, ao menos, aparentemente mais desgastada – do que havia visto e imaginado, fones de ouvido, cantando sem soltar som junto à música. Nada de celular. Mais ou menos triste?
Ônibus vazio, uma moça está sentada nos outros bancos altos – os de cima das rodas –, também junto à janela. Se diretamente só vejo seu cabelo liso-e-um-pouco-bagunçado, posso ver seus olhos e sua testa e um pouco de seu nariz no reflexo. Testa e olhos e nariz bonitos, ainda que o último um pouco masculino, não sei, em degrau. Encarava com intensidade o lado de fora.
Um pouco de sua boca se revelou e ela falava com alguém ao celular. Não havia percebido antes, porque de costas, mas em uma das idas e vindas do rosto dela viu que era óbvio que falava com alguém. Um pouco de irritação no jeito de mover os lábios? Preocupação. Parecia um pouco falar com o namorado, discutir algo cotidiano sem dar tanta atenção, sem se importar demais.
Lá do lado de fora, uma menina – no jeito de ser, ao menos – dançava balançando a cabeça dentro de um carro, dirigindo. Divertido. Uma de meia-idade corria com seu pinscher, bem mais em forma que ela.
Desço para a frente do ônibus antes de meu ponto, para ver a moça de frente. Mais feia – ou, ao menos, aparentemente mais desgastada – do que havia visto e imaginado, fones de ouvido, cantando sem soltar som junto à música. Nada de celular. Mais ou menos triste?
sábado, fevereiro 12, 2011
Que coisa!
Não sei se era um ônibus ou um barco ou até um cais, estávamos nós em cima dele e de repente era a hora de descer e um colega se jogou na água e foi nadando até o navio-catamarã cruzeiro e eu fui correndo pela ponte de acesso, mesmo. Quando percebi que no outro navio só havia gente pelada e, consequentemente, era um navio-catamarã para gente pelada, me arrependi profundamente de ter subido lá, ainda mais porque o irmão de minha namorada estava conosco e sempre primei por não sair balançando meu pinto na frente de familiares adquiridos. Evita-se muita confusão. Sendo assim, começamos de novo:
É um navio que também é uma mansão numa rua que só deve existir na minha cabeça, não há mais traço de gente conhecida – ufa! pipi a salvo –, mas uns rostos repetidos ficam em minha cabeça: uma ruiva novinha com seus pais e um irmão; uma de cabelos escuros encaracolados, óculos de aro grosso, testa um pouco grande, cara de brava, bonita; um cara muito alto que lembrava vagamente um colega da época do ensino fundamental, com um jeito meio besta; outros jovens menos marcantes e com papel menos marcante etc.
Não sei direito o que acontecia, algumas pessoas insistiam em ficar peladas, eu mesmo provavelmente estava vestido, sei que era tudo muito maluco. As pessoas se comportavam de um jeito esquisito demais. Agora, que penso melhor no que contar, percebo que esqueci o final. Merda merdinha merdão! E tudo fora de ordem!
Estávamos na rua e vi a ruivinha comendo com seus parentes dentro de um apartamento – pensei como era bonitinha e novinha e como seus parentes eram repugnantes, seu pai gordo e sua mãe com um sorriso enorme. E a menina tão caladinha! Tinha um cara com uma arma, e de algum jeito eu o desarmei, então ele tinha uma mala cheia de outras armas e os caras – entre eles o alto com cara de boçal – começaram a brincar de atirar nas outras pessoas, que morriam na hora. Num átimo, era eu o alvo e eu fugia e corria e foi aí, acho, que percebi que tinha um controle maior sobre a situação do que eles. Não sei direito porque isso tudo acontecia fora do barco-mansão, mas era dentro ao mesmo tempo, também.
Um cara tinha um carrinho de doces e tentou me vender alguma coisa, uma bala ou um bombom, eu disse que não tinha dinheiro, mostrei minha mão vazia, mas aí eu imaginei – com a mão fechada – e a abri e tinha algumas moedas de 5 centavos. "Eu posso fazer o que eu bem entender", mas também não havia controle absoluto, mas pensei mais e apareceram moedas de 25 centavos e, com um pouco mais de esforço, moedas de 100 reais, azuizinhas surreais. Mmm... Corta!
Então de volta à mansão e ainda existia alguma rivalidade entre eu e os moleques que tentaram atirar em mim, o cara alto tinha uma espécie de lança enorme de gigante, vermelha, meio molenga que nem bambu, mas nas 2 pontas tinha como 3 lâminas – quem conhece armas brancas vai entender – e eu tinha que lutar contra ele e me deram uma lança igual e era muito difícil de usar, mas ele veio tentar me acertar e errou e eu fiz a lança cortar os ares horizontais e uma das lâminas fincou na roupa dele e o derrubei no chão assim e ganhei dele.
Aí fica mais complicado, porque já sumiu quase tudo e é incrível que, ao mesmo tempo que eu tinha consciência dentro do sonho que era um sonho eu tipo não me tocava que era DE FATO um sonho e que eu estava dormindo, mas tinha pessoas andando pelos corredores – que na verdade eram mais como um mezanino gigante, com um buracão tipo a bienal – dançando e cantando e sei lá mais o quê, e aí não lembro se era a moça dos cabelos escuros encaracolados ou a ruivinha, mas eu fiz com que ela tirasse as roupas, mas era como com as moedas, eu fechava os olhos e quando abria ela tinha tirado mais da roupa e ia tirando de um jeito sensualizador e vulgar, não sei – juro que não sei mesmo! – se rolou alguma coisa, mas pensando assim retrospectivamente, que trash.
E aí, no fim, tinha uma construção-instalação lá embaixo – agora tenho certeza de que era a bienal – que tinha umas paredes baixinhas com coisas de exposição escritas nelas, e tinha valetas em frente às paredes e as pessoas cabiam inteiras lá embaixo, mas tinham meio que se agachar pra ler alguma coisa escondida lá. Vendo lá de cima, parecia que as pessoas sumiam no chão, era interessantemente bizarro. Aí eu desci lá para ver e saíram da construção umas pessoas vestidas com roupas engraçadas, tipo de filme, meio de culto, mas algumas peladas, e elas dançavam alguma coisa que não lembro.
E como era de fato um sonho, acordei e tentei contar o que eu lembrava para minha namorada, pra quem sabe lembrar de tudo depois, à noite. Não lembro de tudo, mas algumas coisas vieram à minha cabeça e acho que entendo melhor. Essa coisa do navio-mansão ser a bienal me pegou de surpresa.
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
terça-feira, fevereiro 08, 2011
Arqueologia sentimental.
Hoje, sentei no chão e abri meu baú – pode parecer grande coisa, mas é só um negócio de plástico onde guardo Legos e bobagens de meu passado –, joguei as cartinhas todas no chão e fiquei mais ou menos feliz do nostalgismo do séc. XXI ter permitido que eu tivesse, de fato, algumas cartas na minha coleção de cartinhas sentimentais. Letras adolescentes de amigos adolescentes com problemas e paixões adolescentes – mais ou menos.
Tento fazer um levantamento por cima, sem abrir os envelopes ou desdobrar as cartas: 35% são de uma ex-namorada de que não gosto muito de me lembrar – mas os documentos precisam continuar vivos –; 20% acompanhavam presentes simbólicos de aniversário, provavelmente significaram alguma coisa quando os recebi, mas agora... o anacronismo devora quase todo sentimento posto no papel; recentemente adicionadas, 5% são cartas de ódio escritas por mim para um colega complicado com quem já discuti demais para que não fôssemos amigos – ele me deu uma caixa com tudo que eu havia escrito para ele, guardei-a sem coragem de ler meus xingamentos infantis na mesma caligrafia de hoje; talvez 35% de minha noiva, quando começamos tudo e ela me mandava seu amor codificado em todo tipo de animal bonitinho e florzinhas e cores fortes – dizendo assim, parece que os códigos pararam de valer; não, não.
Se minhas contas estiverem certas – certamente não estão, a margem de erro parece ser de mais ou menos 15% –, os 5% restantes são trocas amigáveis com outras pessoas chegadas à literatura, em que tentávamos, dançando as palavras, entender nossa amizade, nosso lugar no mundo, enfim, tentávamos dar função às nossas palavras. Exercícios de ficção na comunicação, provas de que podemos ser sinceros mentindo. Algo assim. Resolvi que devia começar minha autopesquisa por ali, afinal, era o que prometia uma leitura mais profunda e menos pessoal.
Exagero na introdução? Sim, acho que sim. Vou direto ao ponto, então, já que eu mesmo começo a ter dores de cabeça com o avançar da noite – ou da bebida. Não foi o primeiro envelope, mas foi um dos primeiros que averiguei. Simples, pardo, com algumas páginas de um dos textos mais honestos e bonitos que já li. Não sei direito o que houve entre nós (nada, na verdade, mas é aí que está o ponto), quase não nos falávamos, mas trocamos algumas cartas, e-mails e mensagens de celular – ai de mim, quebrando o anacronismo de minha própria história – que sempre me fizeram sentir próximo dela. Entendimentos por elipse, provavelmente o maior exercício de literatura cotidiana de minha vida.
Se paramos de nos ver, provavelmente foi porque as obrigações cotidianas (sei que repito a palavra, mas o cotidiano é assim mesmo) deixaram de existir, não havia mais escola ou faculdade que nos segurasse juntos. Se paramos de nos escrever, foi porque coisas assim acontecem, mesmo. Um dia, nos cansamos do livro.
... Sim, dispersei-me de novo, acho que é o conhaque, mesmo. Drummond disse uma vez que... Não, não, não é isso que quero citar. No meio de um monte de outras frases – que provavelmente não fariam sentido pra nenhum de vocês –, encontrei essa:
"aliás, eu sei que entre nós há muitos sins não realizados"
A verdade é que essa frase sempre me inquietou, claro, por aludir a tanta coisa em minha imaginação, ainda que parecesse uma promessa às avessas. O sim existiria se existisse a pergunta, mas ela não existiu e nem deverá existir – são as regras de nosso jogo. No entanto, percebi só agora há pouco um detalhe pequeno, que não altera o significado geral da frase mas adiciona uma provocação terrível que tem me perturbado um pouco. A caligrafia dela, usualmente vertical e correta – austera, digamos – inclinava-se na palavra sins. Na primeira leitura, provavelmente interpretei como uma espécie de entre-aspas, indicando que se tratava da palavra "sim" no plural. Mas o itálico... certamente era também um estrangeirismo, um anglicismo, que o valha.
"Sins" aos sins? Era isso? Uma navalha, assim? Tão direto? Fui tão burro de ter deixado passar esse detalhe em uma carta de tantos anos atrás?
Se escrevi esta carta (que pode ser guardada em sua própria coleção, junto aos outros 5% que se disfarçam de literatura), é porque exijo explicações. Meu endereço é o mesmo, como pode ver no remetente.
Abraços,
segunda-feira, fevereiro 07, 2011
últimas palavras (unilaterais!)
E na verdade eu sinto um ranço cada vez maior e um nojo e um enojamento e as pessoas e suas opiniões e a política e o modo como tudo se dá, como as opiniões surgem e como é tudo raiva, ódio, infantilidade, droga, discutamos feito gente grande, feito século XXI, feito a igreja que mantém o homem de pé sem cuspir em ninguém, sem.....................
Tempos dietéticos.
quinta-feira, fevereiro 03, 2011
Pratos limpos.
Pratos limpos para novas refeições. Tanto tempo em silêncio é imperdoável. Sigamos em frente.
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