terça-feira, fevereiro 15, 2011

anotações de uma viagem – curta – de ônibus.

Sento, como sempre que consigo, na última fileira, numa das poltronas altas em que minha cara pode ficar um pouquinho para fora da janela. Resolvo olhar as coisas, ao invés de ler (para fora, ao invés de para dentro).

Ônibus vazio, uma moça está sentada nos outros bancos altos – os de cima das rodas –, também junto à janela. Se diretamente só vejo seu cabelo liso-e-um-pouco-bagunçado, posso ver seus olhos e sua testa e um pouco de seu nariz no reflexo. Testa e olhos e nariz bonitos, ainda que o último um pouco masculino, não sei, em degrau. Encarava com intensidade o lado de fora.

Um pouco de sua boca se revelou e ela falava com alguém ao celular. Não havia percebido antes, porque de costas, mas em uma das idas e vindas do rosto dela viu que era óbvio que falava com alguém. Um pouco de irritação no jeito de mover os lábios? Preocupação. Parecia um pouco falar com o namorado, discutir algo cotidiano sem dar tanta atenção, sem se importar demais.

Lá do lado de fora, uma menina – no jeito de ser, ao menos – dançava balançando a cabeça dentro de um carro, dirigindo. Divertido. Uma de meia-idade corria com seu pinscher, bem mais em forma que ela.

Desço para a frente do ônibus antes de meu ponto, para ver a moça de frente. Mais feia – ou, ao menos, aparentemente mais desgastada – do que havia visto e imaginado, fones de ouvido, cantando sem soltar som junto à música. Nada de celular. Mais ou menos triste?

2 comentários:

  1. Na verdade, eu queria ter filmado isso tudo e seria ótimo.

    Mas contar, assim, não dá conta.

    ResponderExcluir