quarta-feira, abril 30, 2008

Autocrítica 7.

Q: Quantos anos você tem?
R: 18.

Q: E com essa idade você já se julga um escritor?
R: Sim. Mas devo dizer que essa tal condição é completamente superestimada.

Q: Como assim?
R: Não há nada de muito especial em ser um escritor ou um poeta ou um músico ou um gramático. Vá lá, tem as implicações sòciopatológicas, mas não existe nenhuma espécie de "aura mágica" em torno de nós.

Q: Você quer dizer que os artistas são pessoas normais.
R: Ou então que a arte é só mais uma das coisas da vida. Acho que há alguma diferença entre as afirmações.

Q: Bem, você já vem publicando há mais de dois anos o blogue Elevado a Três.
O que você escreve por lá?
R: Ah, há alguns tipos de texto. A maioria são contos curtos, e aí o estilo varia muito. Tem coisas que vão pro lado do realismo fantástico, outras são... Como se diz? Muitas são sobre relacionamentos ou sobre as palavras. Também tem uns "poemas", eu nunca me considerei nada parecido com um poeta, que costumam ir mais pro lado narrativo ou algo assim. Algumas "crônicas" aparecem lá no começo do blogue, mas eu meio que renego aquilo tudo.

Q: Então por que ainda está no blogue?
R: Me apego muito ao meu lixo. Sério, eu só joguei fora alguns brinquedos velhos e quebrados semana passada! (risos) Na verdade, acho que pode ser interessante para os leitores, não sei. As coisas que chegam no blogue não são necessariamente as melhores, também, muita coisa que eu acho boa acabo guardando para usar em concursos literários e aí o blogue fica sem os "melhores textos". Acho que é por isso que sobram tantos posts experimentais e porraloucos: as coisas que fazem sentido eu deixo para ganhar dinheiro.

Q: Isso é ridículo.
R: Eu sei. Mas eu tenho esperança de ser publicado alguma hora, e aí é bom ter algum material inédito, não?

Q: Não, sim, mas assim os seus textos do blogue...
R: Eu costumo mandar para alguns amigos os textos que eu acho interessantes mas que não chegarão ao blogue. Peço a opinião e os irrito, acho.

Q: Você acha que seu público é menos importante do que o dinheiro, então.
R: Talvez. E você escreve pra quê?

Q: Ah, pra nada. Eu só transcrevo entrevistas com as pessoas que me mandam...
R: O entrevistador também é uma espécie de autor?

Q: (risos) Sim, acho que sim. As nossas perguntas dirigem as respostas e é mais ou menos o que um escritor ou um cineasta faz com a reação de seu público. Pelo menos é o que se espera, nem que tudo seja inconsciente demais.
R: Eu concordo que os textos e os filmes façam isso, só não sei se é essa a função deles. Talvez você devesse ser neutro.

Q: Eu não acredito que sequer haja isso de neutralidade.
R: Nem eu, nem eu.

terça-feira, abril 29, 2008

Autocrítica 6.

etc.

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segunda-feira, abril 28, 2008

Autocrítica 5.

eu quero tomar banho
e você não me deixa.
se fode
sozinha, meu bem
que eu não quero mais;
nossas peles se grudam:
REFRIGERANTE DERRAMADO PELO CHÃO.


Quanto vale isso que eu escrevi?
O processo criativo é tolo: pensei numa imagem, tentei desenhá-la, me veio à cabeça a frase inicial, escrevi, imaginei os múltiplos contextos que serviriam para a afirmação e resolvi concretizar um (e só um) num poema.

Quanta poesia cabe em meus textos?
Não há muitos critérios, devo dizer que ponho no papel as coisas como me surgem, depois pontuo, reescrevo, entend'interpreto. O impulso sempre é "expontâneo" ou "de fora para dentro", mesmo que haja algum tipo de "musa inspiradora" ou o que o valha. Não é automático. Se você identificar pontos mais saborosos nos textos é porque eles foram os ganchos criativos que minha cabeça cria: é a própria estrutura, são as sacadas.

Eu me levo a sério?
Não sei, mesmo, o que se passa na cabeça das pessoas quando lêem uma coisa dessas. Eu, particularmente, acho o texto bem sincero. Tem lá seu lado técnico e chato (foi pensado, apesar de tudo), mas o mais importante, o sentimento, está lá. Acho que as pessoas podem não gostar dele, da escrita tosca (aspas ou itálico?), de mim; a culpa não é do texto.

Sobreviverei ao tempo?
Todos que se sujeitam a estudar esse belíssimo ramo das atividades humanas, a crítica literária, devem ter bem claro nas suas cabecinhas que essa é uma coisa extremamente idiota. Não devem, de forma alguma, deixar de se dedicar à crítica só porque ela é idiota, mas a consciência é muito importante para evitar o papel de ridículo. Mantenha-se sempre consciente e, aí, nunca será ridículo sem que você o saiba.

domingo, abril 27, 2008

Autocrítica 4.

O escritor é só mais um dos leitores. Que diferença faz a opinião dele sobre o que faz, de que importa a sua intenção criativa? Essas coisas só importam quando os próprios leitores buscam e dão-lhes valor: no fim, é o público que cria a interpretação, de qualquer forma; no entanto, isso não significa que o autor não possa se manifestar sobre o próprio cocô, cabe aos leitores ignorá-lo totalmente ou aceitar o que ele tem a dizer.

Não pretendo ensinar ninguém a ler, vocês busquem a satisfação de que precisarem.

Cada reação é, na verdade, desejosa: espero que as pessoas abram meu blogue, comecem a ler o primeiro poste e dêem de cara e caiam no chão e a partir daí resta a opção de ficar ou fugir, ambas me aprazem. Os leitores que me engolirem e julgarem me entender também estão dentro do meu escopo, assim como os que me acham uma incógnita ou que esperam que eu aja de um jeito ou de outro. Tudo é bom, o leitor perdido para sempre por causa de um palavrão ou de uma série de textos apologéticos me deixa satisfeito com meu trabalho. É pra isso que eu escrevo, na maioria das vezes é absolutamente fácil saber quais textos vão agradar a quem, e mesmo assim eu insisto em mandá-los para as pessoas que não irão gostar ou entender, é necessário para mim.


Minha literatura é lixo reciclável, e queria poder apontar cada um dos que se aproveitaram dela para crescer.

Autocrítica 3.

Talvez em algum momento eu tenha passado a idéia de que não me importo com o público, e isso seria uma mentira. Tanto me importo que estou aqui mesmo me explicando e ajudando um pouco a leitura (ao mesmo tempo em que proponho um jogo que não é nem um pouco interessante, em que não se ganha nada).

Explico: há algum tempo já, decidi acabar com as dúvidas de qualquer possível leitor quanto à veracidade do que digo por aqui. A diferença entre o que é verdadeiro e metaverdadeiro estaria na fonte, Verdana no primeiro caso e Georgia no segundo. A informação passa batida, em geral, não estamos acostumados a identificar os diferentes tipos, faltou a sentença elucidante, etc.

A culpa certamente é minha, como autor, mas agora tudo ficará muito mais claro:

Minto em Georgia.

sábado, abril 26, 2008

Autocrítica 2.

Fugir da racionalidade talvez seja um dos objetivos mais claros dessas coisas que vocês vêem por aqui; o objetivo não é, de forma alguma, a inovação pela inovação; o "experimental" busca uma certa organicidade que não estava presente no próprio autor; assim sendo, uma pessoa que sempre enfiou seus pés em valores iluministas pode se soltar um pouco da ideologia e do próprio modo lógico de se ver as coisas; liberdade formal.

Renega-se a inteligibilidade como valor.

O importante é a metaverdade, a ficção produzida aqui, o próprio texto se desenha como uma história gráfica e quasissonora. O posto aqui não se presume como valores absolutos: deslizam e eu mesmo não acredito seriamente neles.

O ponto todo é este: contraste entre o que eu digo e o que se quer dizer, entre o que eu faço e o que eu digo que significa, entre o que eu digo que faço e o que faço, entre dizer e fazer dizer, todas as buscas assim. Me apóio na racionalidade, me apóio na gramática, me apóio na crítica mas é justamente com o intuito de afirmar o oposto; O mesmo ocorre quando corro para o lado das letras gritantes e jazzísticas.

Não é dialética, é algo mais organicamente simultâneo, é duplipensar ou pòsmodernismo.

Quantas regras e para o quê? Qual é a idade certa para fundar sua própria teoria?

sexta-feira, abril 25, 2008

Autocrítica.

Escrevo fundamentalmente sobre casais e, num sentido mais amplo, sobre o tal amor. A preocupação fundamental é achar o meu jeito – e é só meu, mesmo, por mais similar que seja – de dizer o que eu acho ou sinto ou quero que os outros achem e sintam: o sexo – erotismo ou o que o valha – é uma chave principal que merece mais atenção e trabalho na literatura; não que já não se tenha feito tantas e tantas coisas boas e adequadas, mas ainda parece haver espaço para várias sutilezas não tão lembradas. Além do mais, a maioria das pessoas se atropela quando precisa escrever literariamente o sexo.

Falaram na palavra pueril. Melhor: um amigo chamou um ou dois textos meus de pueris, e, apesar d’ele mesmo assumir que não era essa a palavra que queria dizer, tenho que explicitar aqui: é amor-alegre, amornarizinho: eu busco isso para a minha literatura e acho que é um dos objetivos de que me aproximo mais, a sensação de luscofusco – o substantivo nada quer dizer, aqui o importante é o som da palavra – que é um tipo de amor pequenininho de potente. Entendam: isso não está de forma alguma dissociado do sexo.

Outras coisas que me vêem com a temática amorosa: o voyeurismo, a vontade sexual travestida num olhar, o vínculo personagem-autor, o experimentalismo, o amor triste das pessoas esperando as outras para tirarem suas roupas e dormirem juntos após uma noite multidirecional, et cétera.

Compreendem?

quarta-feira, abril 23, 2008

Crônica brasileira - 4.

Isabella
Janela
Ai
A decadência dos meios brasileiros.

sexta-feira, abril 18, 2008

Hoje eu sonhei:

Eu tava num elevador sem luz nenhuma e tinha uma gota d'água daquelas de filme - plá...-plá...-plá... -, eu tava sozinho até que você apareceu num canto e aí começamos a conversar sobre o filme que a gente viu ontem e de repente o elevador parou e você começou a chorar muito, aí eu falei que tudo ia ficar bem, mas daí você era um menino e eu era a Bia e você apontava o dedo pra mim e me chamava das coisas feias e aí eu queria muito acordar e aí eu fiquei torcendo pra acordar, mas você continuava apontando o dedo pra mim e eu peguei seus pescoços e minhas 100 mãos apertavam forte mas não adiantava mas aí eu queria acordar mas eu não conseguia mas eu continuei tentando muito aí eu acordei e já tava claro e muito quente e aí eu saí correndo pra porta pra poder ir pro cursinho mas aí tava fechada e aí eu tentei bater na porta mas não fazia barulho e aí eu gritava e eu percebi que era outro sonho mas aí eu queria acordar de verdade e aí eu chorei muito mas aí você me ligou e

você, como cê tá? Isabella - ganho ibope com uma coisa absurda dessas, não? O google trás para cá pessoas procurando o tal caso Isabella, e na verdade eu acho tão absurdo isso tudo, e é só isso mesmo: Ibope e pontos do colosso e passamos de nível de tanta grana que ganhamos.

domingo, abril 13, 2008

Domingo-de-manhã.

Sempre disse que me inscrevia nessa linhagem que se define por um conjunto de linhas de força: sensualismo, materialismo, ateísmo, elogio do corpo e das mulheres, celebração da teoria da composição formal do cinema de Kracauer é a melhor seção do livro, pois segue logicamente suas especulações iniciais sobre as necessidades básicas do cinema, ao mesmo tempo em que proporciona a neblina encher o vulto do rio, e se estalar da outra banda a barra da madrugada. Ao que, esbarramos num sitiozinho, se avistou um preto, o preto já levantado para o trabalho, descampando mato. O preto era nosso; Só faltava essa de vir encher com o problema do chocolate, como se eu fosse uma criança de peito.

segunda-feira, abril 07, 2008

Sentítulo!:.

Eu escrevo nela e é ela que me escreve, porque a cidade faz coisas que não se espera do que é inanimado, isso por pura puberdade patológica do pensamento pequeno, pequeno, tudo que é inanimado nos mexe e nada é inanimado, que fique claro, muito menos a Cidade, muito menos A Cidade que exige as maiúsculas de um título enquanto age nas entrelinhas e está sempre presente - ubiquitous, if ya wanna know - em tudo que se escreve - as palavras vêm todas da urbanidade -, se as coisas saem bem escritas no campo é pela necessidade de distanciamento para poder entender - evita-se a palavra sentir para não desagradar os frígidos como eu - as relações de espaço e de impotência que essa grandiosidade inartista inagista inatingista traz consigo.

Te toma, te estrupa, te stress, te transtorna, te tititititi paulistaneidade -> coevidade coesão coerção Guimarães Rosa e o Sertão que é Universo
Ele transformou Sertão num Universo, A Cidade já é tão fácil um Universo que as pessoas Falham Tanto Ao Tentar Passar a IDÉIA (VERSICULARES DARIAM BEM PRO GASTO, EU ACEITARIA SUA SUGESTÃO SE A FONTE ME PERMITISSE)
Até aqui você ainda me entende, não é?

Agora vem o solo:

TentententintimtintimPáTóumPáTóumNaaaaaMinnnmIáBôôôuuuuuuuuuCá!Bá!Tóum!TórumPinttumtintintintintinténbéumnohayfuturismobéimatrasadobéimbéimbéimbéimbéimbéimbéimbéimb
os sinos das catedrais (falta a formatação, falta tempo para isso)
BÉIM! A Cidade engole a Cidade que engole a cidade, fica tudo num conceito imperdível pro sujeito que não dá esmola não. Anote aí porque só digo uma vez: vou fundar um movimento musical chamado de know-no-noes e será algo do tipo "nós não temos limites porque somos jovens e tão espalhafatosamente lindos! olhe para nós, note como dançamos e somos bilíngües porque nos deram toda a LIBERDADE para aprender a língua inglesa, cause english is pretty sharp, it can cut you in half!".
PimPimPimPimPimCONVOCOAINTELLINGENTSZIAPRAMEVISITARNUMBAILEVELHODOSANOSQUARENTAEUMEMEIOEEEEEE
VOTROCÊCAPAASLAQUEVRASCOINHASIDITIVERDA
cada linha é um novo desafio CACOFÔNICO, cacofactum, bukarowski, LIVROS A 50% POP ART INATINGÍVEL

..


Agora o solo denovo:

TentententintimtintimPáTóumPáTóumNaaaaaMinnnmIáBôôôuuuuuuuuuCá!Bá!Tóum!TórumPinttumtintintintintinténbéumnohayfuturismobéimatrasadobéimbéimbéimbéimbéimbéimbéimbéimb
os sinos das catedrais (falta a formatação, falta tempo para isso)
BÉIM! A Cidade engole a Cidade que engole a cidade, fica tudo num conceito imperdível pro sujeito que não dá esmola não.
PimPimPimPimPimCONVOCOAINTELLINGENTSZIAPRAMEVISITARNUMBAILEVELHODOSANOSQUARENTAEUMEMEIOEEEEEE
VOTROCÊCAPAASLAQUEVRASCOINHASIDITIVERDA
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quinta-feira, abril 03, 2008

A bunda das maçãs.

Comi minha primeira maçã ontem.

O método é que interessa: lavei, tirei ambos os umbigos para evitar contaminações químicas graves, me preparei para o choque cultural que a coisa me daria e mordi a bunda da maçã. Me ensinaram que o melhor era começar por sua bunda e talvez o seja, mesmo. As primeiras mordidas foram tão indolores quanto o imaginado, afinal, não havia nada de novo em comer a traseira da maçã.

Então, cheguei ao fruto propriamente e não havia gosto ruim. Eu mordi as sementes e não havia gosto ruim (na verdade, a única coisa notável era o padrão lindo que as sementes faziam, circular e simétrico, e também [menti ao dizer que só havia uma coisa notável] que a maçã toda fosse tão bonita quando comida por baixo) e tudo foi mesmo muito agradável. Além de tudo, senti pela primeira vez o que realmente era comer uma maçã e segurá-la por o que seria sua tampa, mas de ponta cabeça e como uma bandeja que é o próprio prato que é o próprio alimento.

Uma maçã, todatoda ela.