R: 18.
Q: E com essa idade você já se julga um escritor?
R: Sim. Mas devo dizer que essa tal condição é completamente superestimada.
Q: Como assim?
R: Não há nada de muito especial em ser um escritor ou um poeta ou um músico ou um gramático. Vá lá, tem as implicações sòciopatológicas, mas não existe nenhuma espécie de "aura mágica" em torno de nós.
Q: Você quer dizer que os artistas são pessoas normais.
R: Ou então que a arte é só mais uma das coisas da vida. Acho que há alguma diferença entre as afirmações.
Q: Bem, você já vem publicando há mais de dois anos o blogue Elevado a Três.
O que você escreve por lá?
R: Ah, há alguns tipos de texto. A maioria são contos curtos, e aí o estilo varia muito. Tem coisas que vão pro lado do realismo fantástico, outras são... Como se diz? Muitas são sobre relacionamentos ou sobre as palavras. Também tem uns "poemas", eu nunca me considerei nada parecido com um poeta, que costumam ir mais pro lado narrativo ou algo assim. Algumas "crônicas" aparecem lá no começo do blogue, mas eu meio que renego aquilo tudo.
Q: Então por que ainda está no blogue?
R: Me apego muito ao meu lixo. Sério, eu só joguei fora alguns brinquedos velhos e quebrados semana passada! (risos) Na verdade, acho que pode ser interessante para os leitores, não sei. As coisas que chegam no blogue não são necessariamente as melhores, também, muita coisa que eu acho boa acabo guardando para usar em concursos literários e aí o blogue fica sem os "melhores textos". Acho que é por isso que sobram tantos posts experimentais e porraloucos: as coisas que fazem sentido eu deixo para ganhar dinheiro.
Q: Isso é ridículo.
R: Eu sei. Mas eu tenho esperança de ser publicado alguma hora, e aí é bom ter algum material inédito, não?
Q: Não, sim, mas assim os seus textos do blogue...
R: Eu costumo mandar para alguns amigos os textos que eu acho interessantes mas que não chegarão ao blogue. Peço a opinião e os irrito, acho.
Q: Você acha que seu público é menos importante do que o dinheiro, então.
R: Talvez. E você escreve pra quê?
Q: Ah, pra nada. Eu só transcrevo entrevistas com as pessoas que me mandam...
R: O entrevistador também é uma espécie de autor?
Q: (risos) Sim, acho que sim. As nossas perguntas dirigem as respostas e é mais ou menos o que um escritor ou um cineasta faz com a reação de seu público. Pelo menos é o que se espera, nem que tudo seja inconsciente demais.
R: Eu concordo que os textos e os filmes façam isso, só não sei se é essa a função deles. Talvez você devesse ser neutro.
Q: Eu não acredito que sequer haja isso de neutralidade.
R: Nem eu, nem eu.