quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Opiniões sobre os sentires.

"Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos fere e trespassa. Se o livro que estamos lendo não nos acorda com uma pancada na cabeça, por que o estamos lendo? Porque nos faz felizes, como você escreve? Bom Deus, seríamos felizes precisamente se não tivéssemos livros e a espécie de livros que nos torna felizes é a espécie de livros que escreveríamos se a isso fôssemos obrigados. Nós precisamos de livros que nos afetam como um desastre, que nos magoam profundamente, como a morte de alguém a quem amávamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para uma floresta longe de todos. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós."
Citação talvez não tão precisa de Franz Kafka.

Literatura me parece que é assim mesmo, ou ao menos os livros que gosto mais têm efeito (em mim) similar ao descrito pelo Kafka; não sei se é bem mágoa o que sinto - ou penso -, é um sentimento único que os livros parecem deixar, um sufocamento e um vazio que parece levar parte de mim, eles destroem o que eu sou aos poucos ou com golpes vigorosos. Perco todos os meus valores, inclusive o da descrença, conforme engulo os livros.

(É curioso, talvez as pessoas reafirmem que eu não sou um personagem e tenho que acreditar nas coisas. Acredito, mas não com todo o meu corpo)

Os romances longos deixam, ao fim, a sensação clara de saudade do que acabei de ler, o vazio que a própria presença do livro traz. Aprender a pensar com o narrador e perdê-lo é uma castração freudiana ou qualquer lixo psicanalítico. Em contrapartida, os contos e outros textos de "menor duração" tem um impacto imediato e podem alcançar uma tensão indizível.

(Talvez Crime e Castigo e Metamorfose possam ilustrar cada um dos casos)

etc.

(Alcancei o enfado próprio)

Sei que não alcanço nada disso com meus textos, sei que não há tensão suficiente (embora a destruição também possa vir da falta de tensão, da falta de enredo, da falta de decoro) e percebo a imaturidade disto tudo. Reli o que acabei de escrever e notei que deixei muito de fora, que só seria possível explicar o que eu sinto se eu exemplificasse com cada livro - Guimarães destrói a linguagem, ou então Cortázar nos coloca em animação suspensa, ou Camus mata minha família -, percebo também que só apelo para minha opinião porque a "literatura" se nega a sair da minha cabeça (ia escrever "de minhas mãos") e o hiato está instaurado faz já algum tempo.

Que seja, que seja. Na falta da mentira, tento ser franco.

7 comentários:

  1. Além de tudo, quero escrever em Georgia e acabo fazendo um texto todo Verdana.

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  2. Que lixo!
    Ou não.
    A honestidade só é um pouco chocante, acho, talvez não seja.
    Mas enfim.
    Eu já tinha lido algo parecido (ou a idéia de que os livros tiram um pouco - ou isso era outro texto?) no seu caderno, então os spoilers estragaram tudo.
    (???)
    E o Cortázar só finge.

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  3. Na falta de mentiras, você é igualmente bom com a verdade.

    Gosto de livros que me fazem felizes, mas concordo com a citação do Kafka. Não sei se o sentido dela é exatamente o vazio que deixa um livro que termina - pelo menos, não me pareceu, a princípio -, mas essa sensação também é atordoante, e eu penso nela bastante. O final de um livro é um mix da empolgação do desfexo com o medo do fim.

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  4. É, senshin, minha opinião difere de leve da do kafka, mas é de modo tão "subjetivinho" que eu me dei ao direito de dizer que concordava com ele.

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  5. Ah, é:

    Os livros que deixam as pessoas felizes não são exatamente um problema, depende mais do impacto que a mensagem (ou seja lá o que) consegue ter. Parece-me que, às vezes, deixar o leitor feliz também é uma espécie de destruição.

    Em geral, no entanto, esses não ficam na cabeça da pessoa da mesma forma que os.

    Haha, me perdi na explicação!

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  6. Vc se perdeu? E eu, que escrevi "Gosto de livros que me fazem felizes"
    ¬¬

    Mas eu entendi o lance dos livros que deixam feliz. Eu usei o "que me deixam feliz(es ¬¬)" me referindo aos livros bobinhos e que não destróem de jeito nenhum, mesmo.

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  7. O lélio e lina me deixou feliz e foi muito bom.
    E o vazio é muito preocupante e dá saudade e às vezes eu acho que eu pertencia ao que estava lendo.

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