domingo, dezembro 30, 2007

Clímax.

O primeiro ato durou poucos minutos, o elenco inteiro subiu ao palco com cadeiras, ajustaram-nas de frente à platéia e as cortinas se fecharam. O público, atônito, esperou sentado por alguns minutos, mas os cochichos começaram e era tudo um grande rebuliço quando tocou o sinal e as pessoas começaram a buscar seus lugares.
Num átimo, as cortinas começaram a pegar fogo enquanto abriam-se vagarosamente, o alarme soou e a gritaraiada começou, as pernas atrapalhadas e todos como uma massa ébria de gado buscando as saídas. O único som superior ao desespero era o incrível aplaudir dos atores sobre o palco diante do puro deleite do espetáculo.

sábado, dezembro 22, 2007

Fuga e sumição.

O autor digitou uma despedida às pressas e

domingo, dezembro 16, 2007

O Cisne.

O Gui foi um garoto bom, porque não tocou no bolo que sua mãe mandou que ficasse intocado, não desarrumou nada e nem gastou telefone à toa enquanto esteve sozinho. Tava ocupado demais no banheiro de seu quarto, subindo em cima da privada para que pudesse ver melhor a sua benga refletida no espelho.

Ela era chamada assim, benga, quando estava molenga e balançava de um lado pro outro como um helicóptero. Quando a pica ficava dura, era chamada de pau, no masculino, no forte e direto ao ponto. Aquilo que era diversão boa, o Gui podia passar horas na frente do espelho mexendo nas suas coisas e testando novos ângulos, checando os pelinhos recém-nascidos e vendo sua divertida bunda de ponta-cabeça.

Também dançava todo brejeiro os ritmos mais diversos em frente ao espelho do quarto da mamãe, a benga acompanhava cada passo como numa valsa: vai pra lá, vai pra cá, vai pra lá... Embora Gui tenha sido um bom garoto, sua mãe gritou horrorizada ao vê-lo num complicado passe de balé, gloriosíssimo e nu.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Naturalismo.

Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá. Bafo quente no cangote, daqueles que gelam a alma, que quer fugir num só instante, além do fedor de coisa apodrecida saindo daquela bocarra escancarada às costas do homem. Não havia nada a fazer, o que já foi já foi, agora só lhe restava chutar aquela puta velha pra fora de sua cama.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Laika... uuuuhm... You know?

Laika (a que late) é um dos nomes mais populares de cachorro cá nesta territa e em outras.

Laika foi o último nome que a cadela Kudryavka teve, pois sua morte evitou que fosse apelidada mais uma vez.

Laika é o nome da raça daquela cachorra.

Laika foi o primeiro animal a ser lançado em órbita pelos seres humanos. Se algum foi ejetado antes por mãos divinas, não se sabe.

Laika é um Herói nacional (russo).

E por esses e outros motivos meu cachorro atenderá pelo nome Gagarin.

«Прошу передать главкому ВВС: задачу выполнил, приземлился в заданном районе, чувствую себя хорошо, ушибов и поломок нет».

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Saudade do Soldado.

O tiro, o tiro-o-tiro-o-tiro-otiro
Otchiro Tchihiro metralhou o chinês,
Vazou mais mil vidas por baioneta
Pensando na Pátria deixada pra trás.

Os vietcongues, na mão de O'Neil,
Viraram papinha da boa e cremosa
Enquanto anos antes, n'América amada,
O Sul e o Norte pegaram em fuzil.

Chineses, vietcongues,
Otchiro e O'Neil;
Sulistas, nortistas e
A puta, que o pariu,
Morreram todos.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Amar: verbo impositivo.

Chego em casa cedo do trabalho (cedo no trabalho para um chefe desgraçadamente idiota e nojento, o ordinário) para supervisionar seu trabalho. E você está sempre lá, estatelado no nosso sofá, um pouco fedido de suor, um pouco pouco humano, um pouco porco... Finjo que não entendo e brigo consigo daquele jeito meio de mãe:

'Você vai ficar deitado o dia inteiro, Fernando?

Quando muito, você ergue as mãos de poeta, aponta para a cozinha e brama:

'A Brahma, Eduardo!

Cedo em casa para meu artista jogado inutilmente pelos cantos, que passa o dia inteiro sem nada fazer ou produzir e que, vez em vez, cede aos meus constantes apelos amorosos em seus ouvidos para que escreva alguma coisa.

É você que manda, mas sou eu que o sustento.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Quotidiano.

Nero está no seu carro quando o outro da frente começa a buzinar insistentemente ad nauseum diante do outro outro mais à frente que parece que quebrou seu carro ou algo assim, pois o motorista teve que sair para empurrá-lo.

(O imbecil da buzina continua)

Nero, sem dúvida qualquer, enfia o pé no acelerador e destrói a traseira do idiota barulhento e interrompemos por aqui num desenquadramento da história antes que botem fogo em Roma.

domingo, novembro 25, 2007

Poema do cu na mão.

Umdoistrês
Umdoistrês
Um dois três
Um, dois, três
Um, dois e três, a Fuvest chegou.

sábado, novembro 17, 2007

Manhãs.

Talvez esta seja uma boa hora para contar uma particularidade de minha desinteressante existência, nunca confessada simplesmente por não haver motivo algum, até agora, para espalhar esse tipo de coisa por aí, ainda correndo o risco de tornar-me motivo de chacota.

Todos os dias, logo ao acordar, vou à cozinha, encho uma xícara de água e coloco-a no microondas, às vezes 30, às vezes 45 segundos, talvez até todo 1 minuto, então me sento e despejo algumas colheradinhas de café solúvel no líquido quente, misturo, misturo, misturo e sorvo tudo num átimo. Tudo isso é insignificante, eu sei, e também sempre me foi assim, mas há uma curiosidade por trás disso tudo:

Sempre que faço isso, ou seja, todos os dias, ajo como um autômato, sem vontade própria e até mesmo em pleno sono. Só desperto ao sentir o gostoso fluido, às vezes quase como água, outras amaríssimo-amarguíssimo, quase um golpe em minha nuca; a temperatura também varia de dia a dia, e tudo isso muito aleatório e nem um pouco sujeito a minha vontade.

Aos poucos, entretanto, consegui definir alguma espécie de padrão em toda essa rotina. Pode parecer-lhe pura crendice ou sandice minha, não obstante, as qualidades de meu café diário servem-me como uma espécie de horóscopo infalível: quando está fraco e ralo, terei um dia simples e medíocre, sem qualquer felicidade ou tristeza; ao ponto, tudo dará certo e terei boa fortuna; amargo, virá mais um dia desastroso e desditoso. A temperatura define a intensidade dos fenômenos: quanto mais fervente, mais fortes são os acontecimentos.

Percebi isso quando, após acordar com um café fraquíssimo e apenas morno, tive um dia com pouco trabalho, mas nenhuma alegria advinda disso; com todos os colegas me ignorando, não que isso me causasse qualquer depressão; e com absolutamente nada acontecendo. Anotando os resultados do café da manhã e os acontecimentos diários, logo identifiquei os pontos em comum e o funcionamento desse bizarro — eu admito — mecanismo.

E é esta a hora de contar tudo isso a você, agora, porque não sei o que acontecerá comigo hoje. Eu pretendia começar uma nova fase de experimentações; tranquei-me no quarto ontem à noite, disposto a preparar meu café em plena consciência e, talvez, conseguir mudar meu futuro desse modo. De fato, hoje acordei com a maçaneta na mão, tentando abri-la com toda a força que meu ego sonâmbulo possuía.

Meu eu desperto alcançou a chave em meu bolso, abrimos a porta, fomos vagarosamente até a cozinha — veja bem, eu estava afetado pela falta de cafeína me esmurrando — e agarramos a caneca, trememos de ansiedade e daquele sono nervoso decorrente da abstinência matutina, enchemo-la de água e, nesse exatíssimo instante, eu apaguei. Eu tremo de aflição ao me lembrar disso, e não me sai da cabeça de maneira alguma... Olhe, eu não pretendia desmaiar, eu realmente achava que seria capaz de controlar tudo e...

Despertei com o café, como acontece todos os dias. Entretanto, contraí-me de medo ao sentir o líquido, o maldito fluido fervente, aquela mancha diária de negro presságio, que insistia em me trazer más notícias sobre o meu futuro próximo, queimando não em minha boca, não em minhas mucosas maltratadas. Não, antes fosse! Queimava-me as coxas, ardia-me o sexo, transtornava-me inteiro! Nunca me acontecera nada similar, nunca havia ocorrido qualquer deslize, e eu nem podia imaginar se me trazia novidades amargas ou não, sabia apenas que eram muito intensas...

Sei apenas que são intensas, compreende? Eu estou de calça trocada, mas nunca fervera tanto. Não sei bem o que me espera, por isso deixo tudo já avisado, caso me ocorra alguma incrível desgraça ou a mais soberba boa sorte. Pode ser que nada aconteça, mas o ardor de minhas pernas não me deixa afastar os maus pressentimentos e a taquicardia. Queimo por dentro diante do que virá; e não sei.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Concurso "Saia do Casulo":

Amigos, digo cá agora com pontinha de orgulho que acabo de ser um dos ganhadores do concurso do jornal literário O Casulo,
concurso esse intitulado "Saia do Casulo" e pras pessoas que cursam Ensino Médio. Serei publicado no jornal e oba, então...

Carlos felicita-se.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Sobre a obra.

040207

Estou de cócoras, escorre, escorre, desliza... Ploft! Afrouxo minha entrecelha e procuro algo para me limpar. De repente, passa um amigo e aponta para mim: "Cara, você cagou!", "Caguei, caguei! Gostou da minha merda?", "É, ela é bem... marrom", "É que eu como bastante vegetal, sabe? E faço cocô todos os dias, então ele sai molhadinho assim e tão bonito", "Puxa", "Eu até pensei em fazer mais cedo, hoje, mas não seria na quantidade nem na consistência certa, então segurei, segurei, segurei e só liberei tudo agora, daí teve que ser na rua, mesmo", "Ah, legal, cara. Bem, a gente se vê por aí!", "Manda um abraço pra sua irmã! Ah, e você não tem papel, não?".

quinta-feira, novembro 08, 2007

Anedotas populares de facílimo entendimento:

"Descartes foi químico, né?"
"Ué, não..."
"E o que é aquela tal 'Pilha de Descartes'?"

quinta-feira, outubro 25, 2007

Explicação literária:

O Índice indica o Índice indica o Índice indica o Índice indica o Índice indica o Índice indica o Índice indica o [...]

domingo, outubro 21, 2007

Definição autoral.

Você é doida, é isso que é. Como se uma louca no escuro dançando, como o erro que ainda não foi, como o próprio erro que se é quando se é o que se é.
Você é aquele medo que nos ataca por trás, o breve arrepio na nuca.
Um círculo de fogo, o losango sobre o quadrado.
Você é a saudade dos tempos que se foram, a única garantia de um futuro. [...]

Eu sou aquele que sonha.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Post 125: Sobre os imprevistos numa filmagem.

Engraçado que as coisas pareçam dar tão certo e nós saibamos tão bem também, ao mesmo tempo, que tudo vai dar errado e está se saindo de forma desastrosa e que é justamente nosso trabalho que salva tudo. Hoje, na filmagem de algumas cenas exteriores, aconteceu um acidente imprevisível e absurdo, chocantíssimo! Pois é, sabem a cena da perseguição nas ruas do Centro? O dia acordou feio e úmido, mas a filmagem tinha que rolar hoje mesmo, então pegamos todo o equipamento e fomos direto pras ruas pra conseguir no mínimo de takes possível, já que essas coisas saem caro e não é muito bom desviar o trânsito por mais de uma hora.

Chegamos lá bem cedinho, no horário que a prefeitura estipulou, montamos tudo e preparamos os atores (as moças da maquiagem capricharam de verdade, dessa vez), os carros pareciam estar todos bem e as ruas já estavam prontas para a filmagem, a iluminação e a assistência de arte garantidas. A única coisa que me preocupava, mesmo, era o sol que não iria sair e que supostamente era necessário, mas nada que um diálogo não explicasse ou qualquer coisa assim. Os dublês entraram nos carros, as câmeras foram posicionadas e testadas e eu, com aquela felicidade fetichista que sempre me ocorre, gritei Ação! e tudo começou a rodar perfeitamente...

Os pneus cantaram, a Mercedes partiu, veloz, correu alguns quarteirões, deu a volta na praça, a polícia logo atrás dela, tudo sem muito alarido, sem nenhuma destruição, as rodas deslizantes no asfalto molhado e toda a emoção de uma cena filmada bem no coração da cidade, mas a cidade falsa do cinema, a cidade dos figurantes contratados e com frio, a cidade das mentiras que apenas parecem... Foi nisso que um infeliz se jogou bem na frente do carro, amassando tudo e sendo jogado pro lado. Quem trabalha com isso sabe como os nervos parecem explodir como pipocas (na verdade, como os milhos, as pipocas não explodem) quando esse tipo de imprevisto acontece, quando uma tragédia chega e... Pá! Bem no seu único carro, bem na frente das câmeras.

Corremos para o jovem estirado no chão, não era da equipe, estava acordado, não obstante ferido. Muito ferido, gravíssimo, com uma poça de sangue e os ossos tudo à mostra! E por que você fez isso? "Eu queria aparecer nesse filme." Você é louco? "Eu sou um grande fã e..." Merda! Assina aqui, assina aqui!

Aí ele assinou que cedia os direitos de imagem dele e agora tivemos que arranjar um jeito de colocá-lo na história. Filmamos mais algumas cenas com o corpo dele e hoje a noite vou jantar com o roteirista para acertar alguns ajustes no roteiro. Mas a cena ficou muito realista, é incrível!

segunda-feira, outubro 08, 2007

A coisa que não se explica porque não é.

Moça, idade pouca, mocidade louca, andou por aí, desviando as intenções de muita gente da boa, direita e afeita à gente assim, simpaticíssima e loura. Não fazia de gosto, mas só de viver um pouquinho-pouquinho perto da referida gaiata, você já ficava todo-todo assanhado, mesmo sem sinal sequer de atenção e tenção de ter algo consigo por parte dela. E assim ela ia indo, distribuindo os sorrisos pras pessoas sem se aperceber de que algo tinha muito errado nisso tudo e que não era pra tanto assim.

Pois é que não era tão garbosa, embora personalidade até tivesse, e nem sabia conversar tão bem assim; se tomava a prosa não soltava mais e era só dela a voz que se ouvia, se sentia — e s’aplaudia! Mas, como exposto, o rosto dava gosto talvez justo pelo oposto: embora fosse esquisita, fosse sinistra, fosse toda fora do eixo, a moça fazia de um jeito que parecia até natural ser assim tão ruim, quando se tem dentes tão bonitos e se é tão feliz e...

Foi pessoa de bem, também, mas é claro que não pôde dar certo, e acabou-se tudo quando o lirismo se exauriu.

sábado, setembro 22, 2007

Indícios.

Tenho certeza que já tiveram essa idéia antes, mas achei que era bom tentar e testar e ver no que dá. A minha proposta original e verdadeira era algo muito mais amplo e não-linear que esse texto, mas foi o que deu pra fazer com o meu tempo e a minha cabeça - que doeu muito montando isso tudo.

Bem, o fruto de um bocado de trabalho, o filho plebeu, mas primogênito:

Indícios.


Os comentários ficam por aqui.

sábado, setembro 08, 2007

Comentários sinceros deviam ser secretos.

Normalmente não gosto de sair sendo sincero por aí, especialmente por aqui, muito menos sair falando de política ou de medidas políticas, pelo menos não expondo a minha opinião, 'tretanto hoje li uma coisa que me deu vontade de rir e eu ri e é absurdo.

Numa pesquisa do site do Etapa (www.etapa.com.br), sobre o acréscimo de 3% nas notas dos vestibulando que estudaram em escola pública e blablabla, um infeliz de um nome qualquer disse que era absurdo e ridículo, porque blablabla e

...Sem contar que ao entrar na USP não estará preparado. Pode desitir e aí??? Quem quis entrar de verdade e não pôde por causa desses que entraram vai ter q tentar mais uma vez...

Vejo como ele (ou ela, não me recordo e não vou abrir o site idiota apenas para isso) conhece bem a índole dos imbecis criados pelo Estado. E entende muito bem como funcionam os 3%, pontinhos que realmente favorecem as pessoas completamente sem educação e sem conhecimento e sem habilidade.

Todos somos desistentes.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Há-de-oh.

Li por aí que era bom reparar nas coisas aparentemente de pouca importância, e que escrevê-las é simplesmente demais; notá-las e anotá-las, pois.

Pois bem, sinto a parte mais debaixeira da minha costa direita doendo pra caramba de muito mesmo, talvez por estar com a bunda enfiada em cadeiras o dia inteiro. É como se meus músculos se queimassem lentamente, um calorzinho até gostoso de doloroso. E a verdade é que o tempo lá do cantinho da tela vai passando aos poucos e aos poucos eu atraso tudo aqui!

Alguns dias o relógio me engana; especialmente quando estamos próximos da mudança de horário p'ro verão. E do canto do olho tem o colírio e o marrom do móvel, ou castanho, as caixas velhas e sujas de som, só funciona a esquerda, e um outro relógio daqueles de brinde que parecem saídos diretamente da 25.

Saídos diretamente da 25.

E eu nem reparo, mas eu posso ver meus óculos justamente pela falta deles; se alguém aí for míope e souber me ler vai entender o que eu quero dizer. Ah, é, eu observo também você, leitor, você e seus olhos e sua falta de vergonha vindo aqui, aqui!, ora!

Quem fica com vergonha sou eu.

domingo, setembro 02, 2007

DIL.

O que mais me interessa num relacionamento, prestem atenção, meninos, essa fala é importante, são os sorrisos comedidos, não tirem o olho!, como assim?, comedir, medir a dois, tornar até um sorriso uma coisa que deve ser pensada e planejada por duas pessoas, perceberam, meninos?, é isso mesmo que eu quero de vocês, e também os beijos comedidos, as palavras comedidas, os seios comedidos, oh!, anotaram?.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Som.

A mão dela girou em seu eixo um pouquinho, o volume aumentou e os três se atentaram.

"Olha, seu pai vai falar no rádio!"

Os ouvidos tilintam de curiosidade e expectativa, as duas crianças e a mãe ignoram o trânsito e apuram a audição.

"... Agora o diretor do Departamento de Cultura, Jean de Silve, irá comentar sobre a lei de incentivo ao cinema... Jean, o dinheiro que é gasto pelo Estado dessa forma retorna de alguma maneira para a população?..."


"Boa noite, Turíbio, sim, eu acho que há um retorno, de tal forma que... Veja bem, nós do S..."

"
Bam!"

Ouve-se um estouro, os três pulam assustados e saberão logo que o pai foi baleado por motivo algum.

"Começa agora a Hora do Brasil."

.

domingo, agosto 26, 2007

O baile ao pé da letra.

Eu não sei dançar; os outros dançam por mim e apenas observo e me deleito ou me choro.

Eu não sei, mas sei fazer dançar e rodopiar e passos-pra-lá-pra-cá. A música eu não sei ouvir, mas sei seguir.

Se não sou eu que danço, quem é essa que se esbanja à minha frente?

Inalienável.

terça-feira, agosto 21, 2007

Feel'in the blanks.

Como não havia nada para fazer e estávamos sozinhos, de qualquer forma, ela resolveu me masturbar.

Ou eu resolvi que ela devia me masturbar.







Depois de tudo isso, tudo deu errado.

sábado, agosto 18, 2007

Crônica.

Doutro lado do metrô, logo ali na outra plataforma, separados de mim por um vão, há um homem e uma mulher.

A frase sofre de imprecisão e até mentira, eu sei, mas doutro lado um homem e uma mulher.

É um casal jovem, em média 15 anos cada um, um casal jovem e peculiar e até peculiar, e ambos se dão as mãos e ela é toda ternura com ele, e ele sorri aquele sorriso de homem que sabe que é amado e protegido por uma mulher.

Quanto amor naquele casal! E como ela trata o outro como se fosse uma bonequinha enorme, que merece todo o cuidado, e beija aquela boca dum jeito estranho e constrangedor para a gente que observa do lado de cá.

Uma dupla ao meu lado comenta os dois, pode-se ouvir um deles falando "É... Tá certo ele!", e ela é japonesa e ele é barbado, doutro lado. E as mãos dela tentam cobrir completamente a mão dele e ela tem uns oclinhos e ele tem sua pasta e sua cara de universitário.

Eu, aqui do meu lado, acho um absurdo aquele encantador casal, aquele encantador e jovem e peculiar, peculiar casal. Contemplo admirado, repugnado, , minhas coisas se mexem dentro de mim, e sou capaz de acreditar que todos os outros têm suas coisas móveis também. E um monte de borboletas.

Doutro lado do metrô, um crime à mostra, uma criança de 10 anos e outra de 20 se namoram. E a moral, e o moral? E minha vontade de ridicularizar o pobre rapaz? E minha vontade de me jogar nos trilhos?

E aquela boca infantil e todo o ranho das crianças?

Como pode?...

domingo, agosto 12, 2007

Margens.

De um lado do rio:
- Olá, você aí do outro lado, na outra margem, olá!
De um lado do rio:
- Olá, você que grita tanto. Que quer?
De um lado do rio:
- Alô, você me ouve bem?
De um lado do rio:
- Alô, mas é claro, por que grita?
De um lado do rio:
- Venha, venha para cá, você está do lado errado!
De um lado do rio:
- Venha você que parece não me ouvir...
De um lado do rio:
- Passe para cá, eu o espero!
De um lado do rio:
- Passe bem!
De um lado do rio:
- Há tempo, veja a ponte logo aí!
De um lado do rio:
- Há! Eu que não vou por aí.
De um lado do rio:
- Eu estou certo e o caminho é meu!
De um lado do rio:
- Eu pouco me importo, vou por aqui mesmo.
De um lado do rio:
- Ora! Parece que não está me ouvindo!
De um lado do rio:
- Ora, olha quem diz.
De um lado do rio:

De um lado do rio:
Dá de ombros.
De um lado do rio:
Puxa uma arma.
De um lado do rio:
de ombros.
De um lado do rio:
Acabou.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Anedota, anedota.

Carlos pediu 50 esfihas para o encontro de amigos que aconteceria dali a pouco, preparou a mesa, distribuiu jornais pelos cantos da casa e consultou quão gelada estava a cerveja. Arrumou-se com certo esmero, ansioso pelo que viria, já prevendo a chegada de seus colegas, ensaiando alguns gestos, preparando as boas frases e piadas.

Passaram-se 30 minutos, os amigos chegaram, cumprimentaram-se amavelmente, abraçaram-se, beijaram-se e todo tipo de coisa que acontece quando pessoas não se vêem há muito tempo. Sentaram-se, conversaram um tanto e se inquietaram com a falta das esfihas. Ora, Carlos havia feito o pedido havia tempos e tempos!

Pegou o telefone, discou 30928400 e aguardou, impaciente, um bocado.

“Halabibi Esfihas, boa noite.”

“Boa. Ahn, eu fiz o pedido faz mais de 40 minutos e... ah, não chegou.”

“Por favor você poderia confirmar o número de seu telefone?”

[...]

“Senhor, vou estar checando por que o atraso do senhor, ok?”

“Claro.”

Após 5 torturantes minutos, todas as visitas sentadas à mesa, ansiosas, o atendente retornou ao telefone e, com voz pesarosa, disse que o motoboy, o Zé, um cara muito bacana, pai de família, havia sofrido um acidente grave, gravíssimo, enquanto tentava entregar as esfihas, que foi um desastre terrível, terrível! Provavelmente não seria mais capaz de andar e talvez até...

“Ora... Isso é muito triste! Eu... Nossa! E foi acontecer logo quando ele vinha fazer a minha entrega! Mas, bem... O que fazer, não é? Ahn... Bom, aquela promoção ainda tá de pé?”

“Senhor, qual promoção?”

“Se demorar mais de 30 não pago nada, né?”

segunda-feira, julho 30, 2007

Da impossibilidade de se escrever.

Esta será e é minha opinião sobre o ato - que não é um ato - de escrever:

Já aviso que nada disso é novo, tudo já foi escrito e reescrito, inclusive este tema, inclusive estas idéias, inclusive de forma muito mais aguçada do que aqui. Estar consciente disso, saber que tudo que se faz é uma cópia - ainda que involuntária - quase sempre inferior a algos que estão no passado, já é uma barreira terrivelmente cruel. Especialmente a meu ego, e ao ego de todos os escritores que sejam sequer um pouco realistas ou pessimistas.

Por escritores considero os que tentam escrever e se alteram de alguma forma assim.

Talvez tenha algo de novo no que vem agora: muitíssimos argumentam que quem diz que escrever é fácil é um mentiroso que nunca escreveu, ou que simplesmente não escreve de verdade. Porque essa é uma ação difícil, que requer planejamento, edição, revisão mental ortogonal ortodoxal ai minha coisa dorsal, e por aí vai. Eu posso afirmar com certa convicção que escrever não é um ato tão difícil assim, até relativamente natural e, para mim, até um pouco relaxante.

Os dedos nas teclas, procurando-as às cegas, coisa gostosa! A mão segurando a caneta já é um pouco mais cansativo, mas ver os garranchos no papel dá gosto.

Escrever é até fácil, é até gostoso.

O problema é todo o resto do processo, o escrever "inconsciente e consciente", que raramente está conectado diretamente ao ato em si e que toma quase todo o meu tempo. Mais que meu tempo, a minha cabeça. Ou a cabeça toma meu escrever, tanto faz.

Eu pretendia falar mais sobre o assunto, mas eu acabaria me acusando de artificial ou coisa que o valha. Todos vocês podem, espero, preencher todas as lacunas da argumentação com seus próprios... saberes.

[;;;]

Essas idéias talvez apareçam um pouco diferente do normal, mas agora me convenço que é absolutamente a mesma coisa dita por todos antes.

É impossível - e imprescindível e imprescritível - escrever.

sexta-feira, julho 27, 2007

Metaverdades.

Crio, porque não sei;
Se soubesse, citaria.

E se este fosse um mundo de idiotas,
Ah!, eu seria o rei com todas as honras.
E você, meu amado amigo, meu súdito.

domingo, julho 22, 2007

Sem Título, 20.

Não queria abrir os olhos, hoje cedo, porque ainda não havia decidido quem eu seria. Talvez fosse a ocasião de vestir o Marcos, já faz tanto tempo que não o vejo... Rolei na cama um bom tempo, ainda sem identidade, apenas um 'eu' vazio e sem nenhum gosto especial, ainda oscilante entre as diversas facetas que eu poderia assumir, as personalidades todas... Era quase duas horas, sabia mesmo sem olhar o relógio ou checar a claridade. Qual de nós acordava tarde assim? Nenhum, pareceu-me, já estou velho para essas coisas...

Tocou o telefone, atendi às cegas, era alguém em busca de um Fernando, Fernandinho, querendo saber se havia chegado bem em casa. Ponderei um bocado, sabia que eu e ninguém daquela casa éramos Fernando, mas talvez... Sim, sou eu, eu disse, está tudo bem, é como se eu tivesse nascido agorinha mesmo, como se eu só tivesse descoberto que estou aqui agora, com sua ligação, sua linda voz de barítono. Ele estranhou do outro lado e desligou, mas ao menos eu me decidi.

Conheci, hoje, numa das noitadas dignas de Fernando, eu, uma perfeita moça, raríssima. Penso em continuar sendo Fernando ao menos até amanhã, para não magoá-la.

quinta-feira, julho 19, 2007

Acontecimentos corriqueiros tremendamente normais.

Hoje, há pouquíssimo, encontrei na porta de casa uma carta endereçada a mim, coisa rara, e sem remetente. Abri, encarei as letras impressas em Arial, essa fonte sem graça, vida e formas voluptuosas, e dizia:

Usa a língua de forma fantástica, Ricardo!

Ri um bocado dos significados que achei na frase, a ordem e a asserção, as línguas, as pessoas, eu mesmo como (pretenso) escritor e como (pretenso) amante. Ora, eu não sei quem foi o/a autor/a da zombaria, mas obrigado pelo apoio e por me lembrar que eu posso ser tanto a terceira quanto a segunda pessoa.

E, até, a primeira.

domingo, julho 15, 2007

Tique-tique.

tique-tique
Sentado em frente ao volante, sentia o couro levemente escorregadio e gelado e o semáforo fechado há tempo demais, ouvia a seta para a direita enquanto a chuva pingava...

tique-tique
Na minha frente outro carro, tão cinza quanto o meu, o céu sujo e também o ritmo insistente da luz que acendia e apagava, provavelmente também o barulho em seu interior...

tique-tique
tique-tique

A cada toque um acender, a cada intervalo um apagar, para a mesma direita que eu, exatamente ao mesmo tempo! Eu...

tique-tique
tique-tique

Éramos os dois a mesma pessoa, eu e meu anterior, quiçá minha anteriora, com certeza era ela, no mesmo ritmo, naquela mesma loucura, imersos no mesmo batuque...

tique-tique
tique-tique

Senti que pulsávamos juntos, que éramos simétricos, sincronizados, que talvez se eu finalmente encontrasse...

tique-
tique-

O sinal abriu, e, após poucos momentos de hesitação, o carro da frente, a pessoa da frente, virou para a esquerda.



Vazio, tomei meu caminho à direita.


Talvez ela tenha se expressado mal.

quarta-feira, julho 11, 2007

Pre-tensões.

- Não é que eu saiba ser qualquer coisa mais do que eu aparento ser, mas é fato que eu sou muito mais do que vocês, seus porcos nojentos - pigarreou -, fracos das idéias e sentimentos! Algum dia, meus caros, perceberão o erro, vêem bem?, o erro que fizeram, e então, só então, companheiros... -


fôlego

- Só então, companheiros... Vocês vão poder entender o que se passou aqui.
- Isso é tudo?
- ... Sim.
- Esplêndido.

Abriram o alçapão, rangeu a corda, forte e grossa, tão resistente e tesa quanto poderia ser, e rude e acolhedora como a ditadura, e com seu abraço apertado e amoroso estraçalhou as veias jugulares, as artérias carótidas e tudo que restou foi um bocadinho de ar, que logo acabou, e acabou.

sexta-feira, julho 06, 2007

Ela achou que seria legal tentar pornografia.

Você também é capaz de sentir seus dedos roçando e dançando e tomando todo o teclado? O romantismo das canetas e lápis e pedaços de pedra talvaz possa ser recuperado mesmo nesse frio e plástico amigo, frio e plástico, torna-se uma arte plástica, fria, apertada e usada à vontade por todos da casa...

Você também é capaz de produzir textos sem qualquer estética, métrica, musicalidade? Figuras de linguagem usadas à toa, como quando ilustramos uma coisa com uma foto qualquer sem saber o porquê dessa escolha? A mão do acaso! Ah, por ocaso já observou o acaso?

Ah, pobre papel - numa analogia furada e já invalidada por tudo dito antes -, suportas tantos textos não-primos, todos irmãos uns dos outros, uma mestiçagem danada!

Oh, pobre computador, não entendes nada do que escrevem por ti.

Aqui jaz, com tod'orgulho, três filhotes de cabra e um strictu sensu.

segunda-feira, julho 02, 2007

Retomando o bolo de ceroulas:

Talvez falte, comentou meu amigo, talvez falte 1 bocado de inspiração neste seu bolo. Não é que não esteja gostoso, nem que, sabe?, acho que você me entende. Assim, com certeza é 1 bolo, eu consigo perceber isso, mas quando eu mordo é como se não fosse... se faltasse personalidade? 1 estilo, talvez, talvez verdade ou algo assim. O sabor, o tema, essas 2 coisas todas se mesclam e fazem arder no fundo da garganta, não sei se me entende. Mas continue assim, continue assim, você tem futuro! Caprichando um pouquinho mais na cobertura... Mexendo aqui e acolá...

domingo, julho 01, 2007

u Amor......

"VuxXxe ME DexXxAH Usah SEU KORpu??!?! Eu PrecISU di TodU vuxXxe...KADaH OXXiNhu...KadAH JUNTeEnHAH...KadAH mILIMETru KUBIcU.................. Oh!!!!!...SEm sEu buStU...SeUxXx bRAXXuxXx...kAdaH 1 DI SuAxXx PArtixXx...nAum pOXXU se nAdAh...NAUM PoXXu faZe nadAh...NUncAh sAIRei Du Pontu mALDItu EM ki Me EncOntru!!!!! DexXxe-me APalPaH-lu...SenTi-lu...OBSeRvaH-lu...VEdaH-Lu.................. ENtREgue-SI di 1xXx PRAh Mim...lIberTI-sI DIXXU TUDU I APENaxXx pERmItaH-ME ki.................."

kAnsaDu dAKELAH BoBAgi SEM sENtIdU – AleM DI RepetItIvAH au exXxTRemU –...AmaXXEi u BILHeti ki ME ESPerARAH DENTRu dI MeU PeKenITu aRMaRIu escOLah I me livREi Di 1xXx DAkeLE LixXxu......

eNtReTAntU...eNKanTU FInJU AXXISti AxXx MinhAxXx AulAxXx dI SemPrE...pOXXu rEvE U rEVeRBeraH DaKeLAxXx palaVraxXx AXXustADOraxXx...MaxXx...PEnsanU bEm...DuLCIXXImAxXx......

Sim.................. deliCIosAxXx!!!!! kaIxXx sErIAm axXx UlTimAxXx PalavraxXx dU pEDAXXu di pApEU Ki eU...tAUM INSensiveu...jOgUEi ForAh AgORAH MSM??!?! kORRU...AxXx gOtaxXx...DiREtu Pru LIxXxu...enfiU DiSESpERadaMenTi ToDu U bRaXXU I aGItU-U em bUsCaH d'ALgU...... U plasticu NEGRu eh tb EScUrU au tOKe...JAh KI naDah reVELaH a MeUxXx DeDUxXx FerVOrOsuxXx...pOr + INSISTentixXx Ki SejAm.................. enFiU U roSTu...enfim...NAkelaH eSPeciE di TUNeU ExXxTRaH-dIMEnsioNAU ki NUxXx lIvrAh dU Ki NAUM KERemUxXx +...I NaDaH DinovU......

koMu uLtIMaH tENTATIvaH...KOLoCu MeuxXx 2 bRAXXUxXx nakELE ENormE vAsu plASTIcU...EntAuM a KaBeXXaH...U TrONcU...AxXx PErnAxXx...TUDu Ki pOdI KAbe naKeLe ESpAXXU LIMiTAdAMeNTi IlimiTaDEENhu...... axXxu KI SeMPRe hAH ESpaXXu PRAh + LixXxu..................

maravilhaH!!!!! AxXxU FinAlMENTi 1 pedAXXU Di PApeU aMAXXaDu!!!!!

".................. eNtREgUe-SI DI 1xXx pRAH mIM...lIbErTi-sI dIXXU tUdU i APEnAxXx mE peRMiTah ki Eu u ENgULaH InteiRU i NuncAH +.................. nUNcah + nuxXx sEPArarEMUxXx!!!!!


ObrIGAdu pelAh kOmpReEnsaUM......"

Texto original
MiGuXeiToR

domingo, junho 24, 2007

O amor.

"Você me deixa usar seu corpo? Eu preciso de todo você, cada ossinho, cada juntinha, cada milímetro cúbico... Oh!, sem seu busto, seus braços, cada uma de suas partes, não posso ser nada, não posso fazer nada, nunca sairei do ponto maldito em que me encontro! Deixe-me apalpá-lo, senti-lo, observá-lo, vedá-lo... Entregue-se de uma vez para mim, liberte-se disso tudo e apenas permita-me que..."

Cansado daquela bobagem sem sentido – além de repetitiva ao extremo –, amassei o bilhete que me esperara dentro de meu pequenito armário escolar e me livrei de uma vez daquele lixo.

Entretanto, enquanto finjo assistir às minhas aulas de sempre, posso rever o reverberar daquelas palavras assustadoras, mas, pensando bem, dulcíssimas.

Sim... Deliciosas! Quais seriam as últimas palavras do pedaço de papel que eu, tão insensível, joguei fora agora mesmo? Corro, às gotas, direto para o lixo, enfio desesperadamente todo o braço e agito-o em busca d'algo. O plástico negro é também escuro ao toque, já que nada revela a meus dedos fervorosos, por mais insistentes que sejam... Enfio o rosto, enfim, naquela espécie de túnel extra-dimensional que nos livra do que não queremos mais, e nada novamente.

Como última tentativa, coloco meus dois braços naquele enorme vaso plástico, então a cabeça, o tronco, as pernas, tudo que pôde caber naquele espaço limitadamente ilimitado. Acho que sempre há espaço para mais lixo...

Maravilha! Acho finalmente um pedaço de papel amassado!

"... Entregue-se de uma vez para mim, liberte-se disso tudo e apenas me permita que eu o engula inteiro e nunca mais... Nunca mais nos separaremos!


Obrigado pela compreensão."

terça-feira, junho 19, 2007

qwertly

Concluo que o jovem brasileiro que chega agora ao vestibular não sabe dissertar.

Quanto é dois mais dois não sei só sei que dói ser dois e um e somente um o somatório de todos nós é você, minha querida
e amada perna.




É um disco novo, cheio de nostalgia, mas também repleto de inovação e s
olidariedade, talvez quem sabe até quiçá uma revolução astrológica!




Fecha a cena com Gabi e Justino se beijando.
Xavier observa tudo ressabiado, convoca
seus mutantes e a suprema beatitude.


F a c I M

- Bárbara, sua puta! Por que me trair de forma tão cruel? Por que me fazer de joguete, de brinquedinho, de personagem de literatura? Eu te amo, sua vaca de merda, eu te amo!



!!!!![/img][/src=c3p0lit.era]

terça-feira, junho 12, 2007

Valor

Tudo começara quando o menino achara na rua uma raposa de pêlos ruivos, quase que ardendo em chamas. Na ocasião, parecera uma boa idéia levar o bicho para casa até que o dono aparecesse ou algo do tipo. Não era um filhote, mas também não se podia dizer que era um adulto, pensaram o garoto e o animal na ocasião.

Ocorreram as coisas relativamente bem, até que a mãe do garoto perguntou por que ele ficava tanto tempo trancado em seu quarto, ao que ele respondeu, supondo-se muito corajoso, Estou escondendo uma raposa que achei na rua, e a mãe zangou-se com o feito do menino, onde já se viu esconder uma raposa? O jovem, decepcionado com a mãe, foi ao quarto e bateu a porta.

Andam ambos juntos, menino e raposa, pela rua afora. Estão procurando, talvez, o sentido daquilo tudo, as verdades ocultas na vida ou, o que talvez seja mais provável, um lugar para o pobre bicho selvagem. Selvagem? Mas ele se comportou direitinho todo esse tempo! Qual o problema em continuarem as coisas como estão?

Apenas uma raposa, droga!

Sentam-se ambos, já cansados, numa calçada qualquer. O menino afaga a cabeça do pobre canídeo, que fora ainda mais duramente abandonado do que ele, esperando um milagre ou algo congênere.


Latidos!

A raposa ergue as orelhas, sente todo os seus músculos ferverem e, num só pique, vence a distância de dois quarteirões e vira na r. Corta Azar num frenesi quase religioso, como se os latidos remetessem a terríveis memórias das caçadas infernais de outrora. O menino, desesperado por ver-se livre de seu problema, chora copiosamente.

Entretanto, quando chegar em casa, sua mãe elogiará sua obediência e capacidade de se livrar das coisas inúteis.

terça-feira, junho 05, 2007

Falta qualquer coisa

Falta qualquer coisa
na poesia
que apresento cá;

Não é métrica
nem Verdade,
Não é lírica
nem Vaidade,

Essas que não valem nada!
São menos do que sentir,
são menores que o real,
só persistem em surgir
a estragar o meu sarau!

Falta muita coisa
na apoplexia
que apresentei lá.

sexta-feira, junho 01, 2007

Há'quela rebeldia nossa de cada tempo livre...

Rabisco aqui, em primeira pessoa e tudo, porque a impressão foi forte demais para ser contida dentro de mim.

Puta que pariu.

É incrível a completa, repleta, notável, empaspalhável, etceterável falta de habilidade dos "escritores"-autores de diversos blogs por aí.

"Todavia ainda há tempo
Muito pouco é verdade
Mas sei que olharas a mim
Espero que não sejastes tarde"


Puta que pariu.
É sério, só pode ser piada. Vai mais um trecho, só pra deixar mais claro o motivo de meu asco:

Não olhei sua boca
Pois sei que nao posso beijá-la
Não olhei sua pele
Que de tão bela me ipnotizou

quinta-feira, maio 31, 2007

Refluxos;

Escute:

Billy Pilgrim soltou-se no tempo.

domingo, maio 27, 2007

Prófase I.

Agora, ela só era capaz de tentar focar seu olhar sobre a caneca sobre o pires, insistentemente olhando para um ponto um pouco mais distante do que o que procurava. Além disso, tremia de leve, tentava saber de onde vieram aquelas memórias e porque haviam sumido.

Naquele dia, lembrara, duas pessoas morreram, e o telefone lhe contara mais coisas além das poucas palavras que lembrava, que se limitavam a... Como era horrível se lembrar da voz amorfa! Não era exatamente um som, era como se houvesse conversado com idéias em seu estado mais puro, algo verdadeiramente divino, como... Monera.

Conseguiu, neste momento, sorrir de si mesma e de suas loucuras. Não havia ela mesma inventado o terrível acidente e aquela temível voz, que a fez chorar tanto e sofrer tanto quanto um humano poderia chorar e sofrer? Pois talvez...

TRIIIIIIIIIIIIM...
Sentiu o frio percorrendo-a,
TRIIIIIIIIIIIIM...
Cerrou os punhos e os olhos com força,
TRIII...!
- Oi.
Ela atendeu o telefone apenas porque o toque fazia sua cabeça doer e não havia mais ninguém para atendê-lo. Temia, é fato, que fosse novamente a voz, que novamente ela matasse alguém, que...
- Monera? É Carlos... Você não aparecerá na reunião, não é? Aconteceu alguma coisa?
- Não, é que... Cá, eu... Olha, eu tô c'uma puta dor de cabeça, mal consigo me levantar...
- Ceeeerto... Olha, tudo de melhor pra você, então.
- Não, mas eu faço a minha parte, pode ter certeza! Eu juro que se precisarem...
- Se precisarem? - e riu - Você faz parte do grupo!

Ouviu-se o silêncio do outro lado, marcado pela respiração ofegante de Monera. Carlos se mexeu do outro lado do telefone, impaciente.
- Mona, cê tá muito mal?
- Você... fala... falou em... negrito e itálico...?
- Olha... Eu vou deixar você descansar. Depois a gente vê como a gente faz. Melhora, hein?
Cléquiti.
Tuu--tuu--tuu--tuu--Monera--minha--Monera--tuu--és--a--deusa--da--humanidade--.
--Aceite--tuu--tuu-tuu--se--e--ao--mundo-- Atenção, o número que você discou não está disponível, verifique se...
Cléquiti.
Monera tremia de frio, encolhida no chão. Não podia ser, ela realmente ouviu a voz, pôde tentar decifrar se era um homem ou uma mulher, novamente, sentiu-se invadida como antes. De olhos vidrados, levantou-se incerta, procurou a janela, colocou ambas as mãos no fecho e falhou miseravelmente tentando abri-la. Jorrava lágrimas, mas sabia o que via: a janela negava-se abrir para ela.

Monera bateu o punho na escrivaninha algumas vezes, fazendo voar aleatoriamente os papéis, que, como pára-quedistas, cairam por toda sala, que era também seu escritório e quarto. Um logo à sua frente, exuberava a seguinte frase, em Minion, tamanho 24:

"A ti permite-se apenas a observação do mundo deles, que são como tu, exatamente como tu, mas não deuses."

Ela ergueu seu braço, formando uma linda silhueta carregada de raiva, e o baixou com toda a fúria que possuía, acertando em cheio a folha, a maldita folha que se levava muito a sério, e 10 mil japoneses do outro lado do mundo, vítimas do terremoto repentino que acometeu a península.

Quebrou-se um osso da mão de Monera, no entanto.

sábado, maio 05, 2007

Intérfase I.

O fato é que Monera se esquecera daquilo com certa facilidade, auxiliada pelo suposto superego e dois anos de vida. Da mesma forma que não lembrava mais do irônico episódio da moto, a revelação de que era uma deusa foi renegada para cantinhos escuros e pouco visitados de seu cérebro. Entretanto, ela levava uma vida razoável, às vezes até divertida, e assim ia indo.

Ela acordou, cansadíssima e com a cabeça latejante, espreguiçou-se, foi ao banheiro, despiu-se num só movimento e abriu o registro, chuááá direto na sua cabeça. Mas estava tão cansada que não sentiu a água, não sentiu o frio costumeiro que logo é trocado pelo calor do chuveiro elétrico; em suma, não sentiu nada.

Passados alguns segundos, Monera percebeu que havia algo errado, já que a água insistia em evitá-la, em correr em torno de seu corpo sem realmente tocá-la, em fugir de sua pele como foge da gordura.

Ela deslizou pelo box, lembrou-se da moto, dos corpos e da voz.

Ela se molhou toda.

Em sua cabeça, zunia a mensagem artificial, autômata e anômala:
- Monera, minha Monera, tu és a deusa da Humanidade.

terça-feira, maio 01, 2007

O telefone tocava:

TRIIIIIIIIIIIIM... TRIIIIIIIIIIIIM... TRIII...!
- Oba.
Ela atendeu o orelhão apenas porque ele estava tocando e ninguém parecia disposto a atendê-lo. Agora, se dispunha a ouvir o barulho do silêncio d'outro lado.
- Diga lá, quem é?
- Alô, é você, não é?
Considerou um pouco, enquanto imaginava qual era o sexo daquela voz sem vibração e sem forma:
- Sim, sou eu.
- Ótimo. Preparada para aceitar o seu Destino - falou a voz em negrito e itálico.
- Haha, suponho que sim.
- Muito bom. Vê aquela pessoa quase a atravessar a avenida? Ela esqueceu a carteira no chão.

Ela, uma jovem chamada Monera, levantou os olhos à busca de uma pessoa e sua carteira. Alguns minutos a leste, viu um homem calvo, roupas sociais, atravessando com firmeza a avenida. Um pouco atrás dele, a peça de couro caída.
- Senhor, você deixou cair sua carteira! - gritou, num desespero desajeitado e despropositado.
Ele se virou, assustado, procurou com os olhos a voz que o gritou, então a sua carteira e, quando ia buscá-la, foi atropelado por uma moto em altíssima velocidade, cujo motorista, infeliz motorista desprevinido, foi catapultado e caiu de cabeça, descapacitando o pobre cérebro descapacetado.

Monera gritou e grudou-se ao telefone público, deslizou direto ao chão, querendo chorar e não conseguindo, abrindo e não fechando mais a boca.

A voz disse:
- Monera, minha Monera, tu és a deusa da Humanidade.

segunda-feira, abril 30, 2007

Com sentimento:

[...]
- Foge de suas obrigações para escrever.
- Com que motivo diz isso?
- Largou tudo que devia fazer para escrever, esquecendo seus problemas imediatos e terrenos. Chama-se irresponsabilidade, isso.
- Compreendo.
- Volte a fazer o que você fazia.
- Certo.

[...]

- Por que ainda escreve?
- Cê me mandou voltar a fazer o que eu fazia.
- Hah, ótimo. E suas obrigações.
- Com elas, lido eu bem.
- Lida bem ignorando-as?
- Como me senti obrigado a escrever, escrevo. Caso me sinta obrigado a fazer as minhas outras obrigações, lá irei eu.
- Por acaso você vive de escrever?
- Claro.

[.]

quinta-feira, abril 26, 2007

O processo durou cerca de 3 segundos.

O processo durou cerca de 3 segundos, mas vivi 25 anos naquele instante. Os conectores neurais nas têmporas, os injetores nas veias e o fluido libertador por todo o corpo, por todo o cérebro, por toda a rede neural, pelo lobo temporal medial, pelo diencéfalo, por toda a minha vida.

Após toda a minha vida, voltei para o instante imediatamente anterior àquilo, quando ainda estivera a vestir meu uniforme colante e roxo, resistente como uma armadura, mas leve como um uniforme colante. Fora difícil colocar a roupa, já imaginara o desafio impossível que viria pela frente.

- Lembre-se - começara Marcos - lembre-se de que você enfrentará um inimigo inexistente, mas mais real do que todos nós. Lembre-se de que o que você enfrenta é uma Idéia, Leon.
- Por que o uniforme, então? - eu perguntara.
- Você pode cair - ele apertara minha mão com força - você pode morrer, sabe-se lá o que pode acontecer consigo, mas acreditamos em você, acreditamos todos em você.
- Você acharia graça se eu dissesse que isso tudo me parece um grande e desconfortável déjà vu, como se toda a minha vida eu tivesse vivido este momento.
- Claro que não acharia.

Então, ele ligara os fios à minha cabeça e tudo o mais a meu corpo, em seguida a máquina e novamente e novamente.

Abri os olhos e fui lançado do prédio. Senti o ar voando ao meu redor, acelerando constantemente, aproximadamente dez metros por segundo por segundo, e mais rápido e, finalmente, parei no ar e me equilibrei, de pé. Meu córtex pré-motor queimava enquanto tentava ajustar minha visão, estudava meus movimentos e procurava os dela.

Buscava minha adversária, a Idéia.

Toda a cabeça doía, latejava. Todo o hemisfério direito em chamas, o esquerdo lutando para sobreviver, quando fui finalmente antingido por meu adversário, sendo arremessado por quase 200 metros. Destruí dois prédios ao cair, mas agora eu sabia onde ela estava, e talvez até como abordá-la.

Preparei uma implosão remota de nível 3, mirei vagamente e disparei, e o fato que se seguiu foi nada, a Idéia não estava mais lá. Tentei desesperado a concussão circunferencial, mas apenas as construções responderam ao meu ataque. Foi então que eu senti o mundo se mover logo ao meu lado e acertei um belo chute na minha adversária invisível.

Ouvi Marcos gritando "Isso mesmo!", mas não soube se aquilo era passado, presente ou futuro, de tal forma que ignorei, focando-me no alvo que não sabia onde estava. Mas estava, e a sociedade dependia de mim para parar a Idéia. A criatura já destruíra civilizações inteiras, mas podia ser parada por meu cérebro lotado de drogas, por minha força de vontade viciada, quiçá por meu corpo enferrujado.

Eu flutuava nos céus, ao mesmo tempo que era um gigante com os pés no chão, ao mesmo tempo que era uma estrutura atômico-molecular de dimensões continentais, cada movimento meu era todo o Mundo, eu era o anticorpo, ela era a infecção, o antígeno, o vírus que pretendia destruir o universo.

A Idéia avançou contra mim, acertou-me diversos golpes no abdômen, derrubando mais dezenas de prédios enquanto me empurrava para trás. Desejei que ela parasse, ela parou, senti que era a hora de acabar de uma vez por todas com tudo aquilo. Abri os braços e fechei os olhos, gritei apenas por costume e, instantes depois, talvez apenas 3 segundos, sentia toda a Idéia fluindo pelo meu corpo, enclausurada no meu cérebro, fluindo por toda a rede neural, pelo rádio, pelos sesamóides e pela tinta.

terça-feira, abril 10, 2007

Diz per disse.

Pode ser que a cada palavra roubada da natureza aproximemo-nos mais do fim do vocabulário;
Pode ser que haja um desperdício tremendo de palavras no mundo;


Pode ser que o uso da escrita tenha que ser consciente, fechar a torneira das idéias e colher apenas o necessário;

Talvez seja insustentável a situação atual;
Talvez todos tenhamos que buscar um desenvolvimento sustentável da trama, dos livros, do romance;

Talvez escreva contos simplesmente porque romances gastariam muitas palavras, possivelmente chegando a um resultado ruim;

Quem sabe a salvação do mundo esteja na frase:
"Menos palavras [...]".

sexta-feira, abril 06, 2007

Desminto!

A moça com walkie-talkie se aproximou:
- Senhor, você se incomoda de outra pessoa se sentar com você?
- Não, não, claro - sorri para meu prato.
Outra pessoa sentou-se a minha frente, munida de bandeja, prato e talheres, exatamente como eu. Desviei pouco meu olhar, então quase não observei o rosto da mulher - foi uma mulher que se sentou.

Garfada foi e veio, eu quase acabava, acabava-me de comer numa segunda-feira, no horário infernal de almoço em um shopping ainda mais infernal, barulho e pessoas em excesso. Minha recém-adquirida companhia, entretanto, estava quieta; arrisquei olhar para frente, de leve, com o rosto virado para baixo.

Ela encontrou meus olhos e sorriu, e antes que eu fugisse, falou:
- Já nos conhecemos, não é?
Ergui-me mais um pouco, tentei sorrir de leve, ser simpático ou não-antipático:
- Eu tenho certeza que não te conheço.
Aproximou-se.
- Você é famoso, não é?
Levantei completamente minha cabeça, olhando-a agora realmente nos olhos.
- Não, imagino que não.
- Qual é seu nome?
- Pablo, Pablo. O seu?
- Sou Carolina; e você não combina com o nome Pablo, parece-me outra coisa...
Dei de ombros, fechei os olhos, coloquei na boca a última garfada, mastiguei e mastiguei, então engoli e finalmente a focalizei de novo.
- Chamo-me Carlos.
- Claro, Carlos! Muito mais a sua cara; Carlos, Carlos... Você é famoso, não é?
- Pelo contrário, sou desconhecido. Nem mesmo eu me conheço!
- Mente seu nome, provavelmente se esconde para evitar assédio.
- Não, não, claro que não. Evito usar meu nome para não me tornar um personagem de minhas próprias histórias; sou apenas precavido.
Caroline cerrou o cenho, afastou-se e aproximou-se novamente:
- Você é aquele escritor-detetive, que fica em um apartamento vigiando o outro, enquanto o outro vigia você, numa espionagem cíclica, infinita e destrutiva? É o sr. Blue.
- Não, claro que não.
- Quem é, então?

Levantei-me, peguei a bandeja e coloquei-a em cima do lixo, empilhada sobre algumas outras. Tratei de não procurar Carol com os olhos, tratei de enfiar os rabos entre a perna, tratei de sumir daquela luz amarelada e do cheiro de fastfood no ar.

Ignorando o ódio que meu personagem sentia por Carla, fingi que tudo aquilo nunca aconteceu.

quarta-feira, março 28, 2007

Sorria, jeje.

Encarava-me o sorriso dela, gigantesco e chamativo. É seu atributo mais notável, pensei, enquanto tentava pensar no que pensar.

Vejam o que eu via: ela de pernas abertas, nua, e lá estava o sorriso, gigantesco e chamativo, encarando-me.

Percebem? Eu a via por baixo e havia um sorriso enorme logo acima do que deveria chamar minha atenção, e ele era chamativo, encarava-me gigantesco.

Era isso que eu pensava, falando com meus outros eus. Tentava "engolir" aquela boca esquisita, dentes a mostra, esquisitamente feliz e logo lá, logo ao lado. Por que o sorriso?

Por que um sorriso?

Por que diabos um sorriso tatuado logo acima de sua xoxota no lugar dos tradicionais pelinhos?

Por que sorri, meu amor?

terça-feira, março 27, 2007

A Odisséia desprecavida!

"Pois é, parece que estamos namorando..."
"Oba."
"E agora?"
"Agora? Agora já não estamos mais."

:)

Nunca contei para ninguém, mas os experimentados já devem saber, que é muito mais fácil escrever do que ler. Hoje, qualquer um escreve,

quantos lêem? Quantos dos que se julgam autores realmente lêem? É lamentável, mas conheço pessoas que se julgam capazes de escrever sem que tenham lido nada nos últimos xis meses. Daria até para fazer uma metáfora, mas

quinta-feira, março 22, 2007

Com texto, sem táxi;

[...]
- Que é que resta para nós, Sr. Dubin?
O velho Dubin meio-sorriu, como sempre fez naquelas ocasiões.
- Só o de sempre, algumas poucas linhas para completarmos nossa história.
Chovia, e a calça dos dois ensopava-se com o pingar e respingar das gordas gotas.
- Mas o fim será assim? Um fim fechado, limitado e sem qualquer chance de continuidade?
Dubin sabia o que diria, mas, mesmo assim, hesitou:
- É o fim, no máximo haverá outros começos.
Os lábios afrouxaram.
- Você... Podemos terminar juntos?
- Claro, meu amor.
Qualquer um poderia ver - qualquer um não viu - como os olhos de Dubin eram sinceros e, ainda assim, tristes.
- Então...

A porta do carro branco se abriu, Dubin que a abriu, ela entrou - olhou-o de esguelha antes - e, então, ele fechou-a com ternura.

FIM

domingo, março 18, 2007

Merecimentos e preconceitos.

Toda mulher merece um homem mais alto que ela mesma.
Todo homem merece uma mulher mais magra que ele mesmo.

Não importa o que se quer dizer, mas sim o que se diz.

segunda-feira, março 12, 2007

A verdade e o saco de arroz.

Os grilhos dos grilhões da vida que não é tão pouca só pode ser protumberante se o pouco for também polka.

Se seguir o que aqui digo, sua vida professional e afetiva surgem como a oportunidade que deve ser buscada e, assim, o alcance estará a seu sucesso.

Já eu, sou a sombra.

terça-feira, março 06, 2007

O garoto, a pipa e os bestsellers.

Lilo Rastros era um garoto absolutamente normal, que gostava de brincar e brincar, além de descansar e pintar desenhos. Os videogueimes não o interessavam demais, preferia a televisão.

Há uma falha narrativa aí, logo no começo. Se digo que ele era normal, é óbvio que algo de anormal acontecerá ou ele se tornará um pânque.

Tudo ia bem para Lilo Rastros até o dia em que se sentou em sua cadeira, logo à frente de sua escrivaninha, e sorriu para um papel em branco. Segurava o lápis confiante e encarava os olhos da folha, tanto desafiador como convidativo. Riscou, riscou e riscou.

Após terminar o que fazia, alargou mais o sorriso, enxugou o suor de sua testa como pôde e andou desajeitado com a folha até sua mãe, triunfante. Tropeçou três vezes, como se houvesse desaprendido a andar.

- Mãe, mãe, olha que eu fiz!

A mãe estava ocupada lavando a louça. Passaram-se alguns minutos.

- Oi, oi. É um desenho?
- É!
- Deixa a mãe dar uma olhada...

Ela agachou, também sorrindo. Pegou o papel e observou perplexamente. Fechou o sorriso.

- Que é isso?
- Não sei! Eu desenhei hoje!
- Como você desenhou isso?
- Eu o lápis, daí...

A mãe franziu o cenho, suspirou e levantou-se.

- Olha, não mente mais para a mãe. Eu sei que isso não é seu!
- É meu, eu desenhei!
- Não foi você que desenhou isso, filho! Onde você arranjou isso?
- Eu desenhei!

As linhas circulares do rosto de Lilo tornaram-se ésses, até zês. Chorou e chorou. A mãe bateu na bunda dele por não assumir a culpa e os anos trataram de esquecer isso tudo.

O desenho dizia, completamente legível e caligráfico:

"Havia uma bactéria. Lá estava ela, infectando a comida do menino, que a comeu junto com o hot-dog. A bactéria então fez seu caminho padrão e lá ficou, provocando distúrbios, até que outra bactéria maior, que viera de uma cápsula conhecida como Floratil, começou a comer a comida que a bactéria inicial pretendia comer. Então a bactéria inicial morreu de fome e foi cagada em jato. A outra bactéria não parecia causar mal algum para o intestino do moleque e, por isso, ficou lá numa boa. Isso até o moleque morrer e ela começar a comê-lo todo."

domingo, março 04, 2007

Um pouco de culpa nossa, todos os dias.

Eu não amo nem desando, sei que estou errado e por isso mesmo acerto.

Você nunca pedirá desculpas.

Você é orgulho puro.

Eu a odeio, mãe.

domingo, fevereiro 11, 2007

Insônia.

Escrevo tomado pela insônia e, após muito tempo, usando o eu lírico "eu de verdade". Oi, gente, aqui quem fala sou eu! Oba. Para quem não está familiarizado, meu nome é Ricardo Koiti e tenho como sobrenomes Abreu Miyada. Atualmente sou um escritor insone. Era para eu estar dormindo, eu tentei e tinha sono, mas não rolou.

Lá vamos nós dissertar sobre o problema da insônia:

O problema da insônia, para mim, não é a insônia em si, mas as conseqüências no dia seguinte. Cansaço, dor de cabeça, sono, sonhos, essas coisas bestas. Ficar acordado é bacana, até mesmo quando queremos dormir, mas o dia seguinte estraga tudo. Ou, na maioria dos casos, o mesmo dia.

É, eu sei, vocês dormem 2 horas por dia ou mesmo 1 e ficam se gabando. Ok, ok, legal. Respeitem esse pobre que tem que gastar um terço de sua vida dormindo para ficar bem. Hah, e lá vai o que eu poderia ter dito:

O sono não vem; ou já se foi. Na busca de algo para fazer enquanto não consigo adormecer, tamborilo sobre o criado-mudo. Curiosamente, ele responde com toc-toc's e espanta mais ainda meu sono. Resta-me apenas levantar e ir até meu companheiro, o computador, e tamborilar sobre suas teclas. Ao invés dos toc-toc's, recebo de volta tec-tec's prazerosos conforme o texto surge na tela. Aperto Enter algumas vezes, espaço noutras, digito letras, distribuo caracteres diligentemente. Infelizmente, estou mais ativo do que nunca, lúcido logo na hora na qual devia desligar minha racionalidade e apagar. Enter, enter, publicar. Ouço o computador gemer delicadamente conforme acaricio suas teclas, Salvar, Nova Pasta, Novo, novo, de novo.

Termino o que pretendia fazer, mas falta algo. Não sinto o sono que vem logo após o gozo, não sinto a vontade de sorrir por minha vitória e me jogar de lado no chão, esperando meu corpo se recuperar. Não posso descansar, tenho que satisfazer o computador e sua sede de palavras. Tenho que satisfazer meus dedos, ávidos por mais téc-téc's. Fecho os olhos e digito no escuro, tentando escrever cada ve z mais rápido, dem prestsr atenção apenas o téc-tec conti´nuo e veradeorp., aqieçe qie vcpnrora tpda a ,omja aç,a e, finalmente, chega a verdade da confusão calma que é estar de olhos cerrados.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

N'arte.

O amor na arte, o desejo na arte, o ódio na arte. As pessoas insistem em ficar tratando desses temas idiotas e retrógrados quando querem ser "artísticos". Ah, cacete, que chatice! Vou começar uma nova arte exatamente agora, livre desses sentimentos "humanos" inexistentes que vivem querendo povoar as coisas dos outros. Lá vai:

"Havia uma bactéria. Lá estava ela, infectando a comida do menino, que a comeu junto com o hot-dog. A bactéria então fez seu caminho padrão e lá ficou, provocando distúrbios, até que outra bactéria maior, que viera de uma cápsula conhecida como Floratil, começou a comer a comida que a bactéria inicial pretendia comer. Então a bactéria inicial morreu de fome e foi cagada em jato. A outra bactéria não parecia causar mal algum para o intestino do moleque e, por isso, ficou lá numa boa. Isso até o moleque morrer e ela começar a comê-lo todo."

Uau, isso sim é literatura!

domingo, fevereiro 04, 2007

Raised the Three!

Attention: the tenuous line between truth and more truth is in the source.

Raised the Three

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Chegue, Chega.

Carlos na cadeira. Detalhe na porta. Carlos olha fixamente. Detalhe na pequena fresta da porta, chão sujo. Carlos observa, com um livro na mão. Crime e Castigo. Carlos com o livro aberto. Carlos com o livro fechado. Detalhe na porta. Carlos observa fixamente. Passos. Carlos pisca. Passos. Carlos se inclina. Passos, passos. Carlos se levanta. Detalhe na fresta, carta no chão. Carlos vê fixamente, de pé. Detalhe na carta. Sedex. Carlos sua. Detalhe nos pés descalços de Carlos. Carlos se abaixa. Detalhe na mão de Carlos, pegando a carta. Carlos leva a carta para perto de seu rosto. Carlos coloca a mão no bolso. Detalhe na carta. Detalhe no isqueiro em movimento. Detalhe na chama. Detalhe na carta ardendo em chamas e o plástico do invólucro gotejando. Detalhe no chão. Carlos engole em seco. Detalhe na cadeira. Carlos se senta.

FIM

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Perfil.

Arquivado: dia 29/01/07

"Eu busco conhecimento.
Re-conhecimento.
Senhecimento.

Chega de cimento, chega!

Mas a vida no campo não compensa. Por isso, só posso dizer: Dê-me sua boca, apenas por alguns instantes. É importante e não será nad'e'mal.

Não! Não me dê as costas!

Filha da puta."

Arquivado: dia 04/02/07

"Vi a mulher mais linda do mundo logo lá, no metrô. Perfeita."

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Fuja.

- Então você veio mesmo.

Pedro estava deitado confortavelmente em sua cama, olhando para o ar logo a sua frente, poucos metros adiante. Havia nada, mas havia também um menino nu, olhando fixamente para ele.

- Então você pode me ver.
- Hah, esperava algo diferente?
- As pessoas normalmente não podem.

O menino nu era, também, ao mesmo tempo mas alternadamente, um homem nu de 30 e poucos anos, exatamente igual a Pedro. E era, também, também, ao mesmo tempo todos os intervalos de tempo entre o menino e o adulto, e todos esses eram, também, também, também, exatamente iguais a Pedro caso fôssemos voltando gradualmente sua idade até a que o menino-adulto que estava ali aparentava quando aparentava ser um menino.

- Ponto para mim, então! Mas eu só o vejo porque abriram meus olhos, agora eu sei.
- Sabe mesmo?

Enquanto o menino-adulto falava, seu corpo insistia em mudar e mudar e mudar, indo e voltando no tempo.

- Claro que sei, claro que sei. Ademais, sei e sei e sei.
- Delira, já?
- Sim, posso vê-lo.

Pedro fervia de/em febre. Detalhe na mão trêmula dele.

- Sabe quem eu sou, este é um dos seus sei's.
- Exato. Seja bem vindo, Morte.


Morte não portava uma ceifa, nem tinha seu manto negro e pesado e ossos no lugar de pele. Mas o sorriso ironicamente macabro estava lá, naquele menino-adulto, como o de um esqueleto que tenta conformar/assombrar sua vítima.

- Obrigado, pouquíssimas pessoas receber-me-iam de braços abertos como você.
- Como Cristo. Hah.
- Hah.
- Bom, Morte, mas eu sei que não é esse o caso. Digo, nunca ninguém mais receber-lhe-ia porque você é só meu/minha. Eu sei que há um/uma Morte para cada pessoa, que você não é um organismo metafísico onipresente e onisciente e tudo o mais.

Morte agora estava agora logo ao pé da cama, olhando para os pés de Pedro e ponderando. Pedro fora um menino lindíssimo, um adolescente feíssimo e um adulto mais-ou-menos, então o resultado geral do menino-adulto lá era, em geral, medíocre.

- Você está certo, Pedro. Eu existo única e exclusivamente para lhe matar/morrer, não há mais nada, nada.
- Certo. Morte, eu tenho uma idéia diferente, eu vou lhe matar.
- Ora, mesmo?

Detalhe na outra mão trêmula dele, um revólver gelado e brilhante e carregado.

- Sim. Eu não blefo.
- Imagino que seja um péssimo jogador de pôquer, então.
- Nem tanto, eu sou sortudo.
- Mas e quanto a seu câncer? Se você me matar, seu câncer continuará existindo e, enfim, seu cérebro virará uma gosma cancerígena incapaz de pensar e qualquer outra coisa, enquanto você continua vivo para sempre por ter matado o próprio/a própria Morte.
- Como os imortais de Gulliver. Eu estou preparado para tudo isso.

Morte suspirou.

- Será sofrimento eterno. Olhe, por que trocar a incerteza de um Inferno pela certeza de um em vida?
- Porque eu gosto de ter certezas.
- Vá em frente, então, mate-me e mostre-me como foge de seu Destino. Espero que aproveite sua invalidez infinita após minha morte.

Abriram-se os braços de Morte como os de um mártir, como os daquele que se sacrificara em vão por toda a humanidade, e, quando o menino-adulto parecia ser apenas adulto, lá foram as balas de Pedro, buscando abrigo nos peitos de Morte. Voou longe, explodiu sangue, bateu na porta, caiu no chão.

Pedro suspirou, cansado e com dores de cabeça já infinitas. Talvez seu/sua Morte estivesse blefando e seu câncer cerebral não fosse durar para todo o sempre, junto com sua vida. Talvez houvesse uma melhora ou, ainda, fosse possível conviver com o câncer mantendo-se racional e são.

Sendo como for, era hora de dormir um pouco. Ficara tempos e mais tempos esperando Morte, preparado para se livrar de seu algoz. Agora havia de haver sono.

Dormiu.


Como Pedro conjecturava, Morte realmente blefava. O câncer não durou para sempre, já que acabou com o/a Morte de Pedro, naquela noite.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

O homem-sem-charme.

I met him in a crowded room
Where people go to drink away their gloom
He sat me down and so began
The story of a charmless man
Educated the expensive way
He knows his claret from his beaujolais
I think he’d like to have been Ronnie Kray
But then nature didn’t make him that way

He thinks he’s educated, airs those family shares
Will protect him, that we’ll respect him
He moves in circles of friends who just pretend
That they like him, he does the same to them
And when you put it all together
There’s the model of a charmless man

He knows the singers and their cavalry
Says he can get in anywhere for free
I began to go a little cross-eyed
And from this charmless man I just had to hide

He talks at speed he gets nosebleeds
He doesn’t see his days are tumbling down upon him
And yet he tries so hard to please
He’s just so keen for you to listen
But no-one’s listening
And when you put it all together there’s the model of a charmlessman


porblursobremimmaséclaroqueprecisaseabstrairbastante.